A Organização Survival International e o Conselho Indigenista Missionário lançaram uma campanha para criar consciência e evitar que ocorra outros assassinados
Os guaranis do Brasil pedem socorro para ajudar a salvar a vida de seu cacique, Tonico Benites, ameaçado do que seu próprio povo chama de uma tentativa de “limpeza étnica”. A Organização Survival denuncia que o roubo sistemático de suas terras para plantações de açúcar no passado continua agora com homens armados que possuem interesses na região.
Survival explica que Benites está articulando com outros caciques para salvar seu povo e suas terras.
“Pertenço ao território guarani, onde nasci, onde cresci e onde sempre vivi e agora estou caminhando para morrer… Lutar até o fim… Tenho orgulho de fazer parte da difícil luta dos guaranis kaiowá para assegurar um futuro digno para as crianças”, declarou Tonico Benites à Survival International em 16 de abril.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) também fez um apelo urgente esta semana pela vida de Benites. O líder foi encurralado este mês por um homem armado que roubou seus pertences em sua terra, localizada próximo à fronteira do Brasil com o Paraguai, e o advertiu que se não retirar suas ações perderá tudo e morrerá.
“Constatamos que ele foi ameaçado e está sendo ameaçado de morte, portanto, solicitamos sua segurança e proteção, tanto para Tonico Benites como para outros líderes guaranis kaiowá em perigo nos territórios em conflito”, publicou CIMI.
Tonico Benites foi assessor do Ministério da Educação e foi quem colaborou de diversas maneiras na identificação dos grupos étnicos e na demarcação de terras indígenas dos guaranis kaiowá no Mato Grosso do Sul, informou o CIMI.
O cacique está esperando a intervenção da Justiça e do Governo no processo de regularização dos direitos às terras ancestrais e numa causa quanto aos crimes que os agricultores vêm cometendo contra os povos indígenas, informou Survival. Grande parte das terras foi invadida para plantações, acrescenta a organização.
Desde a infância, Benites também desempenha o papel de tradutor e intérprete para todos os líderes guaranis kaiowá de Aty Guasu.
“Com honra, reconhecemos que o cacique e professor Tonico Benites é o único na história dos guaranis kaiowá que conseguiu completar um mestrado em Etnologia e Antropologia Social e continua estudando para seu doutorado na UFRJ”, destacou o CIMI.
Em seu comunicado, CIMI ressalta que os guaranis kaiowá e representantes da grande assembleia de Aty Guasu repudiam “a contínua ameaça de morte às lideranças indígenas da terra do Cone Sul do Mato Grosso do Sul” e apelam uma vez mais às autoridades federais para que concluam a investigação dos assassinatos de líderes e atendam às solicitações de investigação das ameaças de morte.
Trinta mil expulsos de suas terras
Segundo dados do CIMI, mais de 30 mil guaranis kaiowá foram expulsos de suas terras tradicionais e enviados a locais superlotados criados entre 1915 e 1928 pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
Mais de 5 mil guaranis kaiowá se encontram dispersos em pequenas áreas e acampamentos em conflito devido à perda de suas terras ancestrais.
“A vida é miserável e instável, as ameaças, os homicídios, os suicídios e a desnutrição que afetam a nova geração Guarani Kaiowá são o resultado direto dos despejos violentos dos territórios indígenas desde antigamente cometidos por homens armados das fazendas agrícolas do Cone Sul durante as décadas de 1970 e 1980.”
De acordo com a organização, muitos guaranis ameaçados nas reservas retornaram a suas terras de origem, onde tentam sobreviver com sua própria cultura em pequenas comunidades, localizadas em Laranjeira Ñanderu (Rio Brilhantes, MS), Takuará-Juti, Kurusu Amba (Coronel Sapucaia), Guaiviry-Aral (Moreira), Guyra Roka-Caarapó, Ypo’i-Paranhos, Pyelito Kue e Mbarakay-Iguatemi, entre outras.
“Já vivemos e sentimos que as consequências das ações de ameaças de morte, ataque e despejos tanto pelos pistoleiros das fazendas, quanto pela Justiça, os resultados foram, são e serão extremamente truculentos e nocivos para a nova geração Guarani Kaiowá.”
“Entendemos que a ameaça de morte e os assassinatos das lideranças faz parte de um processo sistemático de etnocídio/genocídio histórico. Assim, a impunidade de autores e mandantes de violências contra povos indígenas brasileiros alimentam o extermínio total do povo Guarani-Kaiowá do Cone Sul de Mato Grosso do Sul”, destaca o comunicado do CIMI em um chamado de consciência para ajudar a salvar a vida das lideraças guaranis e de Tonico Benites.