Google funda projeto para catalogar línguas ameaçadas de extinção
O Conselho Cultural dos Povos Nativos (CCPN), uma corporação baseada na Ilha de Vancouver, foi escolhido para supervisionar um projeto desenvolvido pelo Google, que procura preservar línguas indígenas ameaçadas.
O Projeto de Línguas Ameaçadas do Google, lançado em 21 de junho para coincidir com o Dia Nacional do Aborígene, convida especialistas em linguagem de todo o mundo para postarem vídeos, áudio, livros e outras publicações em seu website para catalogarem idiomas que estão em perigo de extinção.
“Muitas das ideias foram impulsionadas pelo compromisso dos Povos Nativos de assegurar que as próprias comunidades sejam a voz de suas línguas”, diz Lorna Williams, presidente do CCPN. “Há uma oportunidade para que [as comunidades] apresentem sua língua de uma forma que seja verdadeira para eles.”
O CCPN presidirá o comitê consultivo e agirá como um moderador fundamental do novo website EndangeredLanguages.com, apoiando e supervisionando o projeto. Como parte do desenvolvimento de conteúdo para o website, o CCPN compartilhará seu Relatório sobre Línguas de 2010, bem como uma série de ferramentas de revitalização da língua que criaram.
Segundo o website, o Canadá tem cerca de 50 línguas ameaçadas. Muitas estão “gravemente em perigo” com menos de mil falantes vivos restantes, a maioria deles idosos. Cerca de um terço desses idiomas severamente ameaçados têm 100 ou menos falantes restantes. A Colúmbia Britânica é o lar da maioria (60%) das línguas dos Povos Nativos do Canadá e também tem o maior número de línguas ameaçadas no país. Em todo o mundo, especialistas estimam que 50% das 6 mil línguas faladas hoje estarão extintas até 2100 se nada for feito para preservá-las.
‘Opressão e injustiça’
De acordo com EndangeredLanguages.com, línguas muitas vezes caem em declínio como resultado da “opressão e injustiça”. As línguas dos Povos Nativos do Canadá começaram a se deteriorar após a colonização europeia. Políticas governamentais subsequentes de assimilação e escolas residenciais causaram uma interrupção devastadora na transmissão intergeracional da língua, segundo o relatório do CCPN.
“Os membros dos Povos Nativos que foram criados em casa em suas línguas nativas como crianças, foram treinados, forçados e envergonhados a abandonarem suas línguas em escolas residenciais”, diz o relatório. “Mesmo quando eles foram liberados das escolas, muitos não podiam voltar a falar suas línguas ou transmiti-las para seus filhos por causa da vergonha residual e do trauma.”
O relatório também observa que a perda da língua é igual à perda de “culturas inteiras e sistemas de conhecimento”, que incluem filosofia, espiritualidade, valores humanos, tradições orais e musicais, competência científica e ambiental, conhecimento médico, social e de relações comunitárias e habilidades culturais ou artísticas e tradições.
Preservando o patrimônio cultural
Williams diz que o projeto do Google é uma oportunidade para os povos indígenas do Canadá de apresentarem e preservarem agora seu patrimônio cultural, em seus próprios termos. “Nossas línguas e nossos limites foram determinados por todos exceto nós mesmos, por governos e agentes governamentais, antropólogos e linguistas que nos deram nomes, mas que realmente não tinham nenhuma conexão para nós ou para muitas das línguas”, diz ela.
“Agora, as pessoas nas comunidades linguísticas podem olhar o que foi postado e dizerem, ‘isso não está preciso’.” Mas a sobrevivência da língua dependerá em última análise das gerações mais jovens, muitas das quais tiveram acesso limitado a sua língua tradicional em casa ou na escola.
Williams diz que o CCPN tem buscado resolver esta brecha entre gerações há anos adotando a tecnologia. Recentemente, eles lançaram um aplicativo de língua indígena para o Facebook Chat e o Google Talk, que pode ser baixado gratuitamente nos sistemas iPhone, iPad, iTouch. O aplicativo, chamado FirstVoices Chat, contém teclados personalizados para centenas de línguas indígenas do Canadá, Austrália, Nova Zelândia e EUA e permite aos usuários escreverem na sua língua de origem.
Williams diz que vê muitos jovens se envolvendo na cultura dos Povos Nativos e na preservação da língua e está otimista em relação ao futuro da sobrevivência da língua. “Quando vejo o que está acontecendo, não apenas na [minha] comunidade, mas em outras comunidades, um padrão semelhante está acontecendo e isso é tão excitante.”