A greve dos garis no Rio me inspirou para escrever um pequeno texto explicando a diferença entre capitalismo e socialismo.
Capitalismo é um sistema onde os meios de produção pertencem a burguesia. As decisões sobre alocação de recursos são feitas por agentes livres, burgueses, trabalhadores e consumidores agem livremente através do mercado, dentro de um sistema de contratos e leis que impede o uso de força física entre os agentes. O famoso: “Sem violênciaaaa!!”.
Socialismo é um sistema caracterizado pela extinção da classe burguesa, e pela detenção dos meios de produção pelos trabalhadores, através do estado. O estado planeja a economia centralmente através de seus burocratas, fazendo uso de decretos que são cumpridos à força pela polícia.
Pois bem. No capitalismo uma empresa seria contratada para limpar a rua. Um burguês (dono das vassouras) contrataria garis para executar o serviço. No capitalismo laissez-faire o direito a greve é pleno. No entanto, não é essa greve como é conhecida hoje em dia, mas sim uma greve justa, onde os dois lados podem entrar de greve, tanto empregados podem cruzar os braços, como patrões podem demitir os grevistas sem precisar pedir autorização a ninguém. Se o trabalhador está insatisfeito com o seu trabalho ele tem todo o direito de parar e dizer: “assim não dá pra continuar”. Se ele for persuasivo pode convencer o companheiro do lado e se ele aceitar e convencer outro, ótimo, as vassouras param todas de varrer e o burguês que tem que cumprir o contrato de limpeza da rua está ferrado. A associação de moradores da Rua Gago Coutinho provavelmente nunca mais vai contratar a empresa dele e ainda vai cobrar uma indenização na justiça pela quebra de contrato. Mas o trabalhador tem que ter em mente que entrar em greve não é só um ganha-ganha. Ele pode ser demitido.
O burguês vai analisar o problema. Se a greve for “justa”, ou seja, as condições dos garis estiverem muito aquém das outras profissões de mesmo nível de instrução, vai ficar complicado pro burguês demitir todo mundo e conseguir contratar todos os trabalhadores novos a tempo de cumprir o contrato na quarta-feira de cinzas. Se a greve for “injusta” e ele já estiver pagando salários acima do mercado pra essa profissão, ai é moleza pro burguês. Ele demite todo mundo, e faz a alegria dos que estavam ganhando menos que os garis grevistas, que vão fazer fila para serem contratados. As decisões de entrar ou sair de greve, demitir, aumentar salario, contratar, são tomadas por agentes livres (ver “liberdade” no dicionário).
Já no socialismo o que acontece? As vassouras pertencem ao proletário, através do estado, representado por um burocrata. Vamos chamar esse burocrata no nosso exemplo de Edivaldo Paz. Os trabalhadores podem entrar em greve, no entanto Edivaldo Paz não tem o poder de demiti-los sem antes consultar outros burocratas. Edivaldo Paz não vai analisar o mercado e calcular os prejuízos. Ele mesmo contratou a empresa que ele mesmo gere para fazer o serviço. Se a greve durar semanas o Edivaldo Paz não vai processar o Edivaldo Paz e ano que vem o Edivaldo Paz irá novamente contratar a empresa gerida pelo Edivaldo Paz independente do que ocorra. Tudo que o Edivaldo Paz quer é cumprir as regras determinadas no manual da revolução.
A regra diz que ele tem que pedir autorização para demitir para um outro burocrata, um juiz. Se o juiz decidir que o Edivaldo Paz pode demitir os garis, não mudará nada na vida do juiz, se ele decidir que o Edivaldo Paz não pode demitir, tampouco. O juiz não mora na Rua Gago Coutinho, nem vai ter prejuízo em qualquer situação, pois os prejuízos da empresa de limpeza não vão recair sobre ele. O juiz nunca pode ser demitido de acordo com o manual da revolução. De início o juiz pensa em autorizar a demissão, no entanto se os salários estiverem mesmo baixos, Edivaldo Paz não conseguiria contratar ninguém e o problema persistiria e isso geraria uma grande confusão. Depois de uns 30 segundos exaustivos debruçado sobre o processo, o juiz decide num primeiro momento proibir a demissão dos garis pois não há como provar que a greve é “injusta”.
Como o cenário da demissão não foi pra frente Edivaldo Paz pensa em aumentar os salários. Não vai ser ele que vai pagar a conta mesmo. No entanto, Edivaldo Paz tem que cumprir o orçamente que foi determinado pelos outros burocratas, os vereadores. Edivaldo Paz pede que os vereadores modifiquem o orçamento inicial do ano, contemplando o aumento. No entanto a pauta da câmara dos vereadores está trancada com um problema de greve na fábrica estatal de papel higiênico. A decisão sobre os garis ficará para a semana que vem. Edivaldo Paz resolve então ligar seu ventilador de teto e esperar.
E todos viveram sujos para sempre.
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal do Instituto Liberal