Grande friso Maia descoberto em Holmul fala de deuses e governantes

13/08/2013 13:16 Atualizado: 13/08/2013 13:34
Holmul, localizada no nordeste de Petén, Guatemala, era frequentada pelo povo da vizinha Tikal e pelos teotihuacanos, e depois foi dominada por Naranjo
A arqueóloga Anya Shetler limpa a inscrição no friso de Holmul no momento de sua descoberta (F. Estrada-Belli / Projeto Arqueológico Holmul)
A arqueóloga Anya Shetler limpa a inscrição no friso de Holmul no momento de sua descoberta (F. Estrada-Belli / Projeto Arqueológico Holmul)

Arqueólogos descobriram “o friso mais espetacular visto até agora” durante escavações em julho de 2013 na cidade maia de Holmul, em Petén, Guatemala, do ano de 600 d. C.

Ele está “ricamente decorado com imagens de deuses e governantes e uma longa dedicatória” que conta a história da cidade, informou recentemente o Ministério da Cultura e Esportes da Guatemala.

Holmul é uma cidade maia que surgiu no ano de 800 a.C. no nordeste de Petén, na fronteira com Belize, e que existiu até cerca de 850 d. C, de acordo com pesquisa realizada pela Universidade de Boston. As primeiras escavações começaram em 1911 e os primeiros estudos foram publicados em 1932 por Mervin e Vaillant.

Com oito metros de comprimento e dois de altura, o friso fica no topo de um edifício retangular de cerca de 10 metros, na praça de Holmul.

A grande peça maia mostra três personagens usando ricos ornamentos de penas de quetzal e jade, sentados sobre a cabeça de monstros Witz.

“O personagem central é identificado como Och Chan Yopaat pelos hieróglifos encontrados em seu cocar e no texto abaixo de sua imagem”, diz o relatório dos arqueólogos, como também pela Fundação do Patrimônio Cultural Maia (PACUMAN).

“Da boca do monstro localizado no centro, saem serpentes emplumadas das quais emergem os ancestrais e os montes secundários. Entre eles estão as figuras de dois deuses anciãos, outorgando ao personagem central um objeto identificado por um hieróglifo como “primer tamal”, diz o relatório.

Uma “banda celestial” exibida na parte superior do friso mostra uma faixa de símbolos astrais. Para os arqueólogos, isso significaria que as figuras representadas estão no mundo celestial de deuses e antepassados​​”, disse PACUMAN.

A descoberta foi feita enquanto a equipe do arqueólogo Francisco Estrada-Belli procurava mais indícios da relação com outra tumba encontrada no mesmo lugar em escavações anteriores. Embora tivesse descoberto uma máscara de madeira,  era desconhecida a verdadeira identidade do falecido.

Estrada-Belli explicou que os maias representaram os governantes divinizados e escreveram seus nomes no friso, e os colocaram ao lado de seus deuses.

O texto é composto por cerca de 30 hieróglifos localizados em uma faixa que fica na base do alto relevo.

O epigrafista Alex Tokovinine, da Universidade de Harvard e colaborador da pesquisa, decifrou o texto e observou que a edificação onde fica o friso foi dedicada a Ajwosaj, rei da cidade vizinha de Naranjo e vassalo do poderoso Reino Kan.

De acordo com o texto “reordenado”, Ajwosaj dispôs de vários deuses locais e um possível governante local chamado Och Chan Yopaat, que significa “o relâmpago cortou o céu”.

“Este texto nos diz de maneira muito explícita que Naranjo (localidade maia vizinha do Vale Holmul) interveio de forma direta para estabelecer uma dinastia mais aliada ao Reino Kan (dinastia maia) em um centro como Holmul, tão perto de Tikal (cidade maia distante 35 quilômetros) durante a fase inicial dos conflitos com Tikal, no sexto e sétimo século de nossa era”, diz Tokovinine.

Segundo os arqueólogos, isso confirma “muito claramente que Holmul, no século quinto, estava relacionada com a chegada de guerreiros teotihuacanos à região maia.”

Teotihuacan, de acordo com arqueólogos mexicanos, foi uma cidade que surgiu antes da era de Cristo e floresceu por volta do século IV d.C. com a distribuição militar e comercial para os arredores. O início do seu abandono ocorreu no ano de 500 em diante, e aumentou após o fim do apogeu entre 450 e 650 d.C. O declínio da cidade terminou em 850 d.C.

Tikal, por sua vez, nasceu quatro séculos a.C. e foi um importante centro de domínio maia, uma cidade muito ligada às outras regiões, tanto no nível político quanto econômico (Pirâmide de Tikal). 

A cidade maia de Naranjo ocupa um terreno de cerca de um quilômetro quadrado no vale de Holmul. Ela também possui estruturas cerimoniais e complexos agrupados em três estruturas piramidais. Foi descoberta em 1905 pelas pesquisas do arqueólogo Maler – publicadas em 1908 -, informa a Universidade de Harvard.

Muitos saques ocorreram nesta área, tanto em Holmul como em Naranjo. Preservou-se, desta última, uma réplica de uma máscara de jade, porquanto a original foi roubada.

O texto do friso maia de Holmul confirma a crença de que a cidade caiu sob o domínio das autoridades de Naranjo, que “travou sucessivas guerras e alianças contra Tikal”, disse o arqueólogo guatemalteco.

“Esta é uma descoberta extraordinária que ocorre apenas uma vez na vida de um arqueólogo”, disse Francisco Estrada-Belli, de acordo com o relatório.

“É uma grande obra de arte que também nos proporciona muitas informações sobre o papel e a importância do edifício, que era o foco da nossa pesquisa. Esperávamos encontrar algumas pistas sobre o porquê de este edifício ter sido construído e depois ter sido enterrado, mas algo assim vai além de todas as expectativas”, acrescentou o arqueólogo.

Reino Kan

Detalhe do nome do governante de Naranjo na dedicatória do friso de Holmul (F. Estrada-Belli / Projeto Arqueológico Holmul)
Detalhe do nome do governante de Naranjo na dedicatória do friso de Holmul (F. Estrada-Belli / Projeto Arqueológico Holmul)

Reino Kan significa Reino Serpente, de acordo com a língua maia, e foi identificado no Período Clássico por seu “emblema glifo”, representado pela cabeça de uma cobra, de acordo com a organização Reinokan.

“Este emblema glifo é mais visto nas planícies maias, um território extenso, o que reflete a importância do Reino Kan”, acrescentou a pesquisa.

A descoberta deste glifo em diferentes cidades e diferentes épocas “sugere que a dinastia tem suas raízes vários séculos atrás durante o período pré-clássico, desde o início da civilização maia.”

O arqueólogo Richard Hansen, que trabalha atualmente em El Mirador, confirmou ao Epoch Times que se estima que o Reino Kan dominou a área de Petén durante o período pré-clássico e prosperou na cidade de El Mirador, que mais tarde foi abandonada.

Tikal se tornou mais tarde a principal cidade maia do início do Período Clássico.