O verdadeiro crescimento do PIB da China continuará sendo um mistério. No entanto, existem alguns números oficiais que deixam muito claro que o modelo da China de gerar crescimento através do investimento chegou ao fim.
Após a crise financeira em 2008, a China aumentou rapidamente os gastos em infraestrutura e capacidade produtiva, para manter o crescimento do PIB superior a 10 por cento. Hoje, os investimentos em ativos imobilizados – tanto privados como públicos – compõem quase 50 por cento do PIB total, ou 5 trilhões de dólares.
Isso significa basicamente escavar muita terra para fazer atrações e coisas esplendorosas, como trens-bala por exemplo. O que você precisa para cavar a terra? Correto, escavadeiras, toneladas delas.
No auge das despesas de investimento, o país comprou quase 50 mil escavadeiras em um único mês. Desde janeiro de 2015, no entanto, esta tendência oficialmente acabou. O volume de vendas de escavadeiras no período de janeiro a novembro, comparado com 2014, ficou 38 por cento abaixo em 2015, de acordo com pesquisa realizada pela Goldman Sachs.
Leia também:
• Bank of America: China está em um caminho sem volta
• China: quando a política não passa de uma caricatura
Talvez a China agora tenha um número suficiente de escavadeiras e não precisará comprar novas máquinas, mas será que continua usando as velhas? Não, o número de horas de uso das escavadeiras diminuíram 7 por cento em outubro de 2015, comparado com o ano anterior. Isso é bem menor que a queda de 50 por cento em janeiro de 2015, mas as horas de uso das máquinas estão longe dos altos valores alcançados em 2011 e 2012.
Outro indicador importante para rastrear os 50 por cento da atividade econômica é o tráfego ferroviário de mercadorias, que caiu 12 por cento de janeiro a novembro de 2015, em relação ao mesmo período do ano anterior. As vendas de locomotivas caíram 4,6 por cento de janeiro a setembro, antes de se recuperar um pouco em outubro.
A despesa total em infraestrutura aumentou um pouco em novembro, crescendo 10,2 por cento em 2015 em comparação com o ano anterior, e 9,4 por cento em outubro. Isso inclui gastos com eletricidade, gás, água, transporte, armazenagem, postal, e conservação da água.
Olhando para o gráfico de longo prazo, parece mais uma tendência com pico máximos seguidos de forte queda e máximos secundários (dead-cat bounce), do que uma base sustentável. E isso tem um preço: a China tem escolhido previamente bancos estatais para canalizar dinheiro para projetos de investimento, impulsionando ativos bancários de 10 trilhões em 2009 para 30 trilhões de dólares em 2015. Desde então, o crescimento dos empréstimos diminuiu, já que os bancos estão marcando restrições no balanço.
A gota d’água é o gasto fiscal. Os governos nacional e local têm acumulado déficits fiscais de aproximadamente 100 bilhões de dólares nos últimos três meses. As despesas aumentaram 18,9 por cento de janeiro a novembro de 2015 em relação ao mesmo período do ano passado.
Os governos locais têm se aproveitado do programa de conversão de dívida e alavancado também a emissão de títulos. A Goldman Sachs estima que os governos locais e seus veículos de financiamento já emitiram 620 bilhões de dólares em dívida este ano.
Já que a tão esperada mudança para uma economia de consumo permanece indefinida, a China está usando todos os métodos possíveis para reforçar o crescimento: gasto fiscal, reduções na taxa de juros, desvalorização da moeda e manipulação do mercado de ações.
Se você estava procurando por um sinal de que a China está ficando desesperada, acabou de encontrar.
Leia também:
• China precisa do governo fora da economia para avançar, afirma especialista
• China e Rússia desenvolvem armas para uma guerra relâmpago, diz Secretário de Defesa dos EUA