O governo consolida a tradição de corrupção no Brasil

03/12/2013 15:20 Atualizado: 03/12/2013 15:28

A matéria do jornal, Folha de São Paulo, do dia 29 de novembro trouxe como notícia uma declaração do Presidente do PT, Rui Falcão, afirmando que os “laudos médicos estão sendo manipulados para manter Genoíno preso.” Sobre isso digo eu o seguinte: nada há de mais natural entre os bandidos do que julgar toda sociedade conforme sua escala de valores (ou ausência deles).

Quando fez esse tipo de afirmação, Falcão nada mais fez do que apresentar ao país a própria maneira petista de resolver os problemas – a chantagem, o suborno, a compra das consciências e o silêncio da oposição (seja lá o que esse termo signifique no Brasil petista)

Seria aqui ridículo, para não dizer perda de tempo, afirmar que nessa declaração foram ofendidos os médicos que participaram das juntas de avaliação. Que espécie de consideração deveríamos, nós médicos, esperar de uma seita política que vem trazendo para dentro do país pessoas que sequer sabemos quem são e no que se formaram para atender como médicos os pacientes do SUS? Não… o nosso objetivo aqui vai ser outro.

Entender o tipo de deformação moral que vem sendo exercida pelo PT sobre a sociedade brasileira não é tão fácil quanto parece. Requer um exercício de entendimento que possa diferenciar imoralidade de amoralidade, que permita compreender como a primeira se transforma na segunda e que seja capaz de perceber, através do tempo, as modificações que ocorreram na história da corrupção no Brasil até a declaração de Rui Falcão.

Não há aqui espaço para um retorno de 500 anos na nossa história. Mais fácil é aceitar, logo de saída, aquilo que qualquer político corrupto (principalmente os do PT) diz quando pego em flagrante: “isso não começou conosco…”

Talvez esse primeiro aspecto, essa insistência coletiva na noção de “perenidade” da corrupção de característica “inerente” à nossa cultura política (que emerge cada vez que se fala em corrupção) seja o primeiro e o mais dramático traço a ser ressaltado, pois “o tempo é aquilo que tudo consagra ou que tudo faz esquecer”.

Jogo de palavras? Talvez… mas que esconde perigosamente uma falsa ideia de contradição, de oposição ou antagonismo onde a possibilidade de “consagrar PARA esquecer” fica oculta e onde se resume, na minha opinião, a gênese de qualquer “tradição”.

Tradição é, em certo sentido, aquilo sobre o que não precisamos pensar, aquilo que dispensa reflexão pois “consagrado pelo tempo”, pode quase ser poupado da crítica, do crivo da moral contemporânea e do raciocínio lógico à medida que apela para aspectos emocionais e noções atávicas à uma determinada cultura. Desconfio que, à luz da razão, o consagrado é sob certo aspecto “esquecido”.

O que quero demonstrar aqui é que, apesar de a corrupção no Brasil não ter começado com o PT, foi essa organização criminosa a responsável por estabelecer na sociedade brasileira a noção de “tradição” no crime político e por transformar imoralidade em amoralidade capaz de nos anestesiar depois de cada novo escândalo.

Quando afirma que sempre houve “caixa dois”, quando denuncia a “compra de deputados por outros partidos” e quando fortalece no imaginário popular a ideia de que as coisas “sempre foram assim”, o que o PT faz na população é uma espécie de vacina, é a inoculação de um determinado tipo de antígeno capaz de nos fazer perder a sensibilidade, de abandonar o juízo crítico e aceitar passivamente e com indiferença que essa é a ordem natural das coisas na política e que, portanto, não poderia ser diferente na medicina.

Havia corrupção no Brasil antes do PT? Havia, sim. Depois que o PT desaparecer é possível que ela continue? Sem dúvida. Então qual a diferença? A diferença é que depois do PT ela vai ficar como uma das “tradições da nossa classe política”, como algo que nunca mais vai poder ser questionado pois tornou-se patrimônio cultural brasileiro, algo como o samba, o carnaval e o futebol. Como um Cristo Redentor com uma maleta cheia de dólares numa das mãos – um novo símbolo do Brasil -, uma nova característica da sociedade brasileira que nenhuma “junta de historiadores” poderá enfrentar: a Tradição de Corrupção.

Heitor de Paola é escritor e comentarista político, membro da International Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer House Foundation, Berkeley, Califórnia, e Membro do Board of Directors da Drug Watch International. Possui trabalhos publicados no Brasil e exterior. É ex-militante da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).

Esse artigo foi originalmente publicado pelo site Papéis Avulsos