Governo anuncia novo ajuste fiscal

26/02/2014 21:13 Atualizado: 26/02/2014 21:21

Na segunda-feira (24) o governo anunciou mais um ajuste fiscal. Mais uma vez fadado ao fracasso. Seguem alguns pontos que merecem destaque:

1) A magnitude do superávit. Sim, é verdade que o governo perseguirá uma meta igual a do ano passado (1,9% do PIB). Contudo, a meta de superávit primário do ano passado só foi alcançada por causa de aproximadamente 35 bilhões de receitas extraordinárias do governo (15 bilhões do leilão de Libras e aproximadamente 20 bilhões do REFIS (programa de refinanciamento de dívidas)). Isto é, sem essas receitas extraordinárias, que não irão se repetir em 2014, o superávit do ano passado seria bem menor. O superávit primário do governo central foi de aproximadamente 75 bilhões de reais no ano passado, isto é, aproximadamente 46% dele foi obtido por meio de receitas extraordinárias.

2) Estados e municípios. Sim, é verdade que o governo colocou para eles a mesma meta de 2013. Mas agora me expliquem uma coisa: exatamente por que os estados irão economizar em anos de eleição o que eles economizaram em anos sem eleição? A evidência empírica não deixa dúvidas, em anos eleitorais os gastos públicos aumentam.

3) Governo central: esqueçamos as receitas extraordinárias que ocorreram em 2013 e que não irão se repetir em 2014. Exatamente por que o governo federal vai economizar em anos eleitorais o mesmo que economizou num ano sem eleição? A evidência empírica não deixa dúvidas, em anos eleitorais os gastos públicos aumentam.

4) Energia: alguém sabe quanto o Tesouro vai gastar com a conta de energia? Resposta: ninguém! A insistência do governo numa política errada (não reajustar o preço da tarifa de energia) terá repercussões na conta do Tesouro Nacional. Resumindo: mais gastos.

5) Crescimento econômico: Mantega diz que sua previsão de crescimento econômico, de 2,5%, é conservadora. O mercado aposta em 1,7% de crescimento. Difícil dizer que a previsão do ministro seja conservadora.

Enfim, vamos aguardar as mágicas, vamos aguardar o show da contabilidade criativa, pois uma certeza fica: em 2014 o governo vai gastar mais do que gastou em 2013. Antes de encerrar, leiam essa passagem:

“A receita administrada foi de R$ 719,2 bilhões em 2013 e a nossa previsão é de R$ 779,1 bilhões em 2014. O crescimento é moderado, de aproximadamente 8%” (Guido Mantega).

Quando um ministro considera que um crescimento de 8% nas receitas administradas do governo, ante um crescimento do PIB estimado por ele mesmo de 2,5%, é “moderado”, fica evidente que ele não tem muita noção das coisas.

Adolfo Sachsida é Doutor (UnB) e Pós-Doutor (University of Alabama) em Economia, orientado pelo Prof. Walter Enders. Pesquisador do IPEA. Lecionou economia na University of Texas – Pan American e foi consultor short-term do Banco Mundial para Angola. Atualmente é pesquisador do IPEA. Publicou vários artigos nacional e internacionalmente, sendo de acordo com Faria et al. (2007) um dos pesquisadores brasileiros mais produtivos na área de economia

Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal do Instituto Liberal