Senador Allamand: governar o Chile com empresários causou enfraquecimento da direita

27/12/2013 14:31 Atualizado: 27/12/2013 14:31

Com duras críticas, o senador Andrés Allamand expressou sua opinião sobre o fracasso eleitoral presidencial de centro-direita, que terminou com a vitória da candidata socialista Michelle Bachelet no dia 17 de dezembro.

O senador observou que “há consenso de que as razões subjacentes para esta derrota devem ser procuradas no enfraquecimento político e nos graves erros de comunicação”, disse ao jornal La Tercera em 21 de dezembro. Em resposta, a porta-voz do governo Sebastián Piñera, Cecilia Perez, disse aos meios de comunicação que “o governo já não espera nada de Andrés Allamand”, segundo Emol.

“Eu ainda estou digerindo a grande derrota que sofremos como centro-direita. Nós trabalhamos duro por 20 anos para alcançar o governo e dar ao país um horizonte de progresso importante, e eu sinto que essa oportunidade foi frustrada, portanto, o meu estado de ânimo não é de resignação, mas de revolta, porque estou convencido de que as coisas devem ser feitas de forma diferente”, disse ele.

Allamand disse que há pelo menos quatro razões para o fracasso eleitoral: o descaso com a opinião pública, a não consideração da experiência política dos partidos, a “arrogância e as letras miúdas”, e finalmente, as promessas não cumpridas especialmente na questão da criminalidade.

“É evidente que o principal responsável pelo fracasso eleitoral é o presidente Piñera e seu governo”, disse ele, ao explicar que ele não se formou dos políticos mas dos empresários.

O senador eleito pelo Partido da Renovação Nacional criticou o fato de Piñera formar seu gabinete sem recorrer aos partidos e sem “usar a experiência política”, e, em contrapartida, instituiu um “grupo de empresários”.

“Eu fui o primeiro a advertir que o desprezo pelos partidos iria custar caro para o governo. Eu disse que não se podia esperar ganhar as eleições com partidos e governar com um grupo de executivos de negócios. E quanto a ter feito a composição da pasta e ter feito bem”, reafirmou o político que estas declarações feitas por ele anteriormente lhe custaram muitas críticas.

Sobre a declaração anterior da porta-voz do governo Piñera, Cecilia Perez, de que “o Governo existia para governar e os partidos para as eleições”, disse que é “uma afirmação absurda.”

Andrés Allamand também considerou um importante descrédito o uso de letras pequenas nas políticas públicas, das quais “já se falou o suficiente”, porém acrescentou que “o estilo bombástico ainda deve persistir.”

“Que razão havia para apontar que o pleito foi o melhor da história, ou que o Gane, Grande Acordo Nacional para a Educação, do qual ninguém se lembra, foi a forma de rotular uma reforma da qual ninguém queria se responsabilizar nem mesmo com o aumento dos problemas na educação?”, disse Allamand.

As críticas ao governo de Piñera também foram lançadas por Carlos Larraín, presidente do Partido da Renovação Nacional. Em entrevista à Televisão Mega em 20 de dezembro, ele disse que o presidente “tem o defeito de querer controlar tudo, mas por mais competente que seja, ele não pode”, segundo o jornal Soy Chile.

Necessidade de debates

O senador destacou temas como a ilegitimidade da Constituição e a elevação dos impostos durante o governo de Piñera, dizendo que “não foram adequadamente defendidos e não se transmitiu a mensagem pretendida.”

“O governo assumiu que simplesmente bombardeando os cidadãos com bons números de desempenho econômico iria conseguir manter sua confiança e não observou a profundidade dos debates ideológicos que surgiram no público, e depois não reagiu adequadamente a eles.”

Ele considerou a atitude do Governo como uma “miopia de centro-direita”.

“O governo negou qualquer importância do debate constitucional, como se ele simplesmente não existisse. Não sei de onde nossos líderes tiraram a ideia de que as pessoas não se preocupam com os aspectos políticos desta magnitude. Como falsamente supõem, fazem uma coisa ou outra: ou ignoram a questão porque não a consideram importante, ou algo pior, fazem uma espécie de desqualificação que muitas vezes está próxima de uma campanha de terror”, disse Allamand.

Candidatura de Allamand

Andrés Allamand, advogado de 57 anos, é o fundador do Partido da Renovação Nacional. Foi deputado entre 1994 e 1998 e Senador da Região dos Lagos.

Em 2011, foi nomeado Ministro da Defesa do Governo de Sebastián Piñera, mas renunciou para se tornar candidato à presidência, a qual perdeu por uma estreita margem para o candidato do Partido União Democrática Independente, Pablo Longueira, ex-ministro das Finanças. A renúncia de Longueira levou à postulação de Evelyn Matthei.

“Eu fazia parte do governo e depois fui candidato à Presidência e, portanto, não me excluo das responsabilidades que me competem, mas insisto que ninguém aqui pode lavar as mãos, muito menos o governo”, disse ao jornal La Tercera.

“Eu disse no início das eleições que o modo de vencê-las era fazê-lo no terreno do debate de ideias e, claro, perdi por uma pequena vantagem. E eu perdi, todos sabem, em três comunidades: Las Condes, Vitacura e Lo Barnechea. Falando claramente, essa é a região onde pior se entendem os fenômenos de mudanças, de ideologia e da politização da sociedade. Há setores de centro-direita que assumem que a sociedade atual é desideologizada e que só se preocupa com a sua entrada direta, e que temas abstratos como a desigualdade, a distribuição de renda e a solidariedade não estão em seu menu mental. Isso é um erro terrível.”

Para Allamand, “na década de 90, a ênfase na gestão teve seu auge e prosseguiu até o final dos governos de coalizão, os quais, precisamente, mostraram grande fragilidade na gestão. Mas hoje o fundamental é o debate de ideias”, disse ele

Resposta do Governo

A porta-voz do Governo Sebastián Piñera, Cecilia Perez, respondeu à imprensa que “o governo já não espera nada de Andrés Allamand”, menosprezando as declarações de Allamand ao dizer que estes são produtos da sua frustração, segundo o Emol.

“Eu não lembro de nenhum governo em que um ex-ministro tenha sido tão ingrato para com o governo ao qual pertenceu e ao Presidente que lhe deu a chance de ser o ministro da Defesa, que lhe deu a oportunidade de ser pré-candidato presidencial”, disse Perez ao ficar sabendo das declarações feitas por Allamand ao jornal “La Tercera”.

Cecilia Perez acrescentou que, quando Allamand perdeu para Pablo Longueira, da UDI, fez “um péssimo discurso, um discurso que, diante da saída de Pablo Longueira, levou-o a não ser o preferido de toda a Aliança, dando a chance para Evelyn Matthei.

Allamand reafirma suas críticas

“O que eu fiz foi argumentar, e o que eu recebi de volta foi um discurso retórico cheio de ataques pessoais”, disse Andres Allamand, em resposta às palavras de Cecilia Pérez, de acordo com a Radio Agricultura.

O senador chileno acrescentou que “o que me interessa é a recuperação da centro-direita. Que as pessoas estejam pensando em deixar o RN me parece equivocado. Se o presidente não quer voltar, talvez alguns o sigam. Sebastián Piñera deve toda sua carreira política ao nosso partido”.

Por fim, reiterou que “a falta de atenção com o debate de ideias, o desprezo pelos partidos políticos, o desprestígio da nova forma de governo da letra miúda e a grandiloquência dos anúncios, que foram gerados em cima das expectativas quanto a assuntos como a criminalidade, foram as principais razões pelas quais se perdeu o apoio dos cidadãos nas urnas.