Google planeja voltar à China com loja de aplicativos

08/09/2015 08:48 Atualizado: 08/09/2015 08:48

A empresa planeja lançar uma versão da Play Store para a China, em um esforço para tirar proveito de um mercado de smartphones com 79% de usuários do Android. A estreia está prevista para coincidir com o lançamento do Android 6.0 Marshmallow, no outono. O Information, site de notícias de tecnologia, foi o primeiro a divulgar as deliberações do Google em 4 de setembro.

É uma verdadeira reviravolta para o Google, que decidiu sair do mercado chinês em 2010, após anos de preocupações com censura e segurança. A gota d’água veio depois que o Partido Comunista Chinês (PCC) orquestrou ataques cibernéticos contra dezenas de empresas norte-americanas, incluindo equipes de segurança, organizações financeiras e empresas de tecnologia, como o Google. Na época, a decisão ousada do Google foi vista com admiração pelos acionistas e outras empresas.

Porém, o retorno do Google à China pode acabar com os ideais que a empresa teve há cinco anos? Sim, essa não é uma questão simples.

Entender o raciocínio do Google hoje exige mais contexto. Embora o Google tenha desenvolvido o Android, o Projeto de Código Aberto Android dita que empresas podem usar livremente o sistema operacional em seu hardware sem uma taxa de licenciamento.

Mulher navega pela loja Google Play em chinês em seu Smartphone em Nova York, em 6 de setembro de 2015 (Benjamin Chasteen/Epoch Times)
Mulher navega pela loja Google Play em chinês em seu Smartphone em Nova York, em 6 de setembro de 2015 (Benjamin Chasteen/Epoch Times)

Então, como o Google ganha dinheiro com o sistema Android? Ele não monetiza o Android diretamente. Ao criar o sistema, o Google colocou a Web (e seus serviços conectados à Web) nas mãos de mais pessoas. E isso levou a mais pesquisas na Web via celular, mais uso dos serviços do Google como Gmail e Youtube, mais cliques e mais receita publicitária para o Google.

Outra fonte de receita são as vendas de aplicativos da Play Store, a partir do qual o Google mantém entre 25 e 30% de cada transação, de acordo com estimativas dos desenvolvedores online consultados.

A quota de mercado global do Android foi de 16,3% em setembro de 2010, e em junho de 2015 situou-se em 82,8%, segundo a empresa de pesquisa de mercado IDC. Hoje, existem cerca de 700 milhões de usuários ativos de smartphones e tablets na China, e o Android tem 79% de penetração de mercado na China desde julho de 2015, conforme a empresa de pesquisa de consumo Kantar World Panel.

Isso é bastante receita sobre a mesa, mas o Google recebe quase nada. Dispositivos Android chineses executam versões alteradas do software Android, sem os serviços do Google, porque a empresa tem um buscador web, não uma loja de aplicativos lá. As maiores lojas de aplicativos Android incluem Baidu App Store, Tencent App Gem e Taobao Mobile Assistant.

Em outras palavras, o Google tem, essencialmente, assistido do lado de fora o crescimento do mercado de tecnologia na China em proporções que já não pode ignorar.

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Censura mais uma vez?

O co-fundador do Google, Sergey Brin, foi fundamental na decisão de 2010 de sair da China. Mas Brin recentemente afastou-se das operações diárias da empresa, enquanto o chefe de produtos Sundar Pichai assumiu como CEO do co-fundador Larry Page. A empresa também está no meio de uma reestruturação e rebatizando-se como Alphabet.

Pichai sempre teve o mercado chinês sob a mira.

“O Android está alimentando um monte de inovações na China. Isso é importante para mim. … Então eu não penso na China como um buraco negro”, disse Pichai à Forbes numa entrevista em fevereiro. “Eu vejo isso como uma enorme oportunidade na qual estamos competindo como uma plataforma facilitadora e espero que tenhamos uma chance de oferecer outros serviços no futuro.”

Voltar à China significa que o Google terá de começar a censurar novamente, ainda que numa amplitude ligeiramente diferente de antes.

O Google Play Store não irá oferecer aplicativos que o PCC não aprova, por isso novos aplicativos estrangeiros provavelmente não estarão disponíveis. Ao contrário do Play Store, o Google não planeja vender mídia, como filmes, música ou livros na China.

O Google, que não tem controle sobre o conteúdo dentro de aplicativos baixados do Play Store, vê isso como mais digerível do que censurar conteúdos de busca individual.

Atualmente, o mercado chinês do aplicativo Android é altamente fragmentado, com cerca de 10 plataformas de importância similar.

Se o Google voltar para a China com sua própria loja de aplicativos como o esperado, gigantes da tecnologia chinesa como o motor de busca Baidu, a empresa de rede social Tencent Holdings, o portal de compras online Alibaba (que detém o Taobao), e o fabricante de hardware Xiaomi, terão um formidável e endinheirado inimigo a enfrentar.

Comercialmente, entrar na China poderia ser um divisor de águas, especialmente no longo prazo.

No momento, o Google terá que jogar pelas regras do PCC. Mas, dada a luta política recente dentro do partido e uma quantidade crescente de agitação social, é possível que essas regras mudem. Se a estagnação econômica se estabelecer e o Partido perder a base de apoio público, qualquer coisa pode acontecer. Para o Google, voltar para a China pode ser encarado como um investimento no longo prazo.

Estimativas sugerem que o Google gera cerca de 3 a 4% da receita com cobrança de direitos relacionados a aplicativos, sem qualquer presença na China.

Se o Google comercializar corretamente o Play Store na China e obtiver igualdade de condições, a receita de vendas de aplicativos pode ter impacto material sobre a receita do Google no futuro.