Cinquenta anos ou 12? Parece ano de whisky, mas não é. Enquanto os calendários oficiais dos parlamentos e governos no Brasil enchem-se de agendas condenando o Regime Militar iniciado em 31 de Março de 1964, relembrando os seus atos de autoritarismo, esquecem-se todos – por conveniência política ou desconhecimento – os atos de autoritarismo em curso no dia de hoje.
Não é 1969, os tais “anos de chumbo” que a esquerda tanto fala. Mas a máquina estatal e partidária dessa mesma esquerda segue firme fazendo as mesmas perseguições contra dissidentes políticos, das quais eles se queixam terem sofrido no passado. Passaram batidos, ignorados pela grande mídia, dois atentados contra opositores do atual regime esquerdista.
Romeu Tuma Junior, ex-ministro e notório opositor do atual regime, após ser convocado para falar no Congresso, sofreu atentado contra a sua vida, em que homens mascarados dispararam múltiplos tiros contra sua residência.
No mesmo dia, Juliano Torres, notório articulador libertário brasileiro foi intimado pela Polícia Federal a “depor” sobre uma suposta “ameaça a estabilidade, ordem, unidade e segurança nacional”, em uma ação descrita pelo mesmo como uma “tentativa totalmente desnecessária de intimidação” na qual o mesmo foi convocado “com a desculpa de tratar sobre os protestos na Copa das Confederações e possíveis novos protestos” e teve sua vida pessoal escrutinada e investigada, a ponto de terem listado “praticamente qualquer envolvimento político/ideológico/institucional (que Juliano já teve e tem), chegando até o ponto de saberem pra onde ele viajou e questionando “quem” está bancando essas coisas”.
Há algumas décadas atrás, não muito longe em nossas memórias (que a esquerda pretende “resgatar” – melhor dizendo: seqüestrar – com suas comissões), o canto de “Vem, vamos embora que esperar não é saber” era a voz de uma esquerda em face aos atos autoritários do governo. Hoje, esse pode muito bem ser o canto de uma direita cada vez mais perseguida e acuada por cada vez mais leis opressivas e persecutórias.
O nosso AI-5 já está aí, com a PL 728/011 e a Portaria Normativa 3.461 do Ministério da Defesa efetivamente violando e cassando as liberdades civis no Brasil. O STF, como visto, está finalmente aparelhado e sob o controle do partido no poder. Nas diversas esferas, os órgãos de inteligência, polícia e até as forças armadas, junto da Força Nacional pretoriana de Dilma Roussef caminham cada vez mais de acordo com as direções políticas do regime.
Na internet, um dos últimos bastiões de liberdade de expressão plena, intelectuais tal qual Olavo de Carvalho, e jovens ativistas liberais são perseguidos e impedidos – por uma organização de militância virtual do partido no governo – de manterem suas páginas e textos nas redes sociais. Na grande mídia, as poucas vozes dissonantes tal qual Rachel Sheherazade sofrem ameaças de todas as formas, desde estupro até pedidos de demissão por parte do sindicato de jornalistas que teoricamente deveria defender a liberdade de expressão.
Não resta mais aparato jurídico ou institucional que possa garantir a lei e os princípios democráticos que nos pautaram até o momento. Resta agora, com o endurecimento do regime, saber se “quem sabe faz a hora e não espera acontecer”. Como freqüentemente ocorreu nas ditaduras passadas da história brasileira, o exílio passa a ser cada vez mais atraente.
Alguns já fizeram a hora. Outros como eu esperam acontecer. E enquanto isso observamos a esquerda brasileira hipocritamente adotar a mesma postura autoritária que antes condenou. De nada adiantou a luta pela liberdade. O autoritarismo não acabou, apenas mudou de mãos.
Rodrigo Neves é Gerente Executivo do Movimento Endireita Brasil, historiador (USP) e analista político. Especializado em Energia Nuclear pelo Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN), possui diversas publicações na área de História da Ciência e História do Brasil Contemporâneo
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal do Instituto Liberal