O crescimento da Huawei gera preocupações com segurança, mas não parece ser o caso no Canadá
A Huawei é um gigante emergente no setor de telecomunicações com patentes para comprová-lo, contudo sua ligação aos militares chineses e a operações de espionagem têm originado investigações quase constantes por agências de segurança nacional.
Apesar destas preocupações, a Huawei tem sido bem recebida no Canadá, inclusive foi lhe concedido um fundo de 6,5 milhões de dólares pelo Estado de Ontário em 2010 para investir em seu centro canadense de pesquisa e desenvolvimento. O Ministro da Indústria Tony Clement visitou esse ano a sede canadense da empresa em Markham, Ontário.
Entre outras coisas, a Huawei providencia tecnologia para redes de celulares, com a Wind Mobile e a Mobilicity também oferecendo celulares da marca Huawei.
A Huawei ganhou nome por apresentar preços muito baixos e serviços de apoio ao cliente que impressionaram o CEO da Wind Mobile Anthony Lacavera como ficou patente num artigo recente do Report on Business.
No entanto, há muitas questões não respondidas e dúvidas persistentes sobre a companhia devido a seu país de origem, ao mais precisamente ao regime comunista, que mantêm uma presença viral em todas as células da economia chinesa.
De acordo com o Centro de Informação Aberta da CIA, Pequim deu a Huawei cerca de 228 milhões de dólares para pesquisa e desenvolvimento nos últimos três anos.
O antigo espião chinês Fengzhi Li afirmou a especialistas de segurança numa recente conferência sobre antiespionagem realizada em Gatineau, Quebec, que em sua opinião o regime chinês espera mais da Huawei do que simplesmente o pagamento de impostos.
“O presente sistema político chinês é comunista. Isto significa que o governo pode controlar a vida e pode controlar tudo, qualquer negócio na China. E o governo pretende fazer isso.”
Quanto a uma companhia de alto perfil como é a Huawei, isso significa prestar atenção especial, disse Li, um ex-agente da agência chinesa equivalente à CIA, o Ministério da Segurança do Estado (MSE).
A Huawei tem sido alvo de investigação de agências de segurança em diversos países como Austrália, Grã-Bretanha, EUA, e Índia. O Serviço de Segurança e Inteligência Canadense (CSIS) publicou uma análise sobre o complexo industrial militar do regime chinês em 2003 que destacava as relações entre a Huawei e o Exército de Libertação Popular (ELP), e as vendas de componentes usados tanto para fins civis como militares.
“A Huawei tem sido um importante fornecedor de equipamento de telecomunicações tanto para uso militar como civil. Em 2001, sua subsidiária indiana foi acusada de despachar uma encomenda para o regime Taliban no Afeganistão. Também em 2001, a Huawei forneceu ao Iraque fibra óptica para conectar seus radares e sistemas antiaéreos, desencadeando os bombardeamentos por parte dos EUA e Inglaterra”, segundo o relatório.
Acesso à inteligência
A preocupação agora é que as tecnologias móveis Huawei e outras tecnologias possam proporcionar ao regime chinês acesso facilitado à inteligência sem a criação de problemas controversos dos ciberataques chineses, como os que ocorreram ao Departamento de Finança e ao Ministério do Tesouro do Canadá no início de 2011.
Ainda não foi provado que a Huawei tenha desviado informações para a China e a companhia nega veementemente as alegações de que desempenhe funções de inteligência. Apesar disso, o Comitê Permanente dos EUA sobre Inteligência está investigando a companhia no momento.
A preocupação acerca da Huawei é substanciada na mente dos seus críticos pelo fato de seu fundador, Ren Zhengfei, ter sido engenheiro a serviço do ELP, e sua presidente Sun Yafang ter previamente trabalhado para o Ministério de Segurança do Estado (MSE).
O relatório do Centro de Informação Aberta da CIA diz que Yafeng usou suas ligações ao MSE para ajudar a Huawei a ultrapassar um período complicado nos anos iniciais que se seguiram a 1987. O último relatório anual do Pentágono também faz nota dos laços estreitos entre a companhia tecnológica chinesa e o ELP.
A possibilidade de que a Huawei crie vulnerabilidades para permitir acesso remoto a seus produtos e assim facilitar que os líderes comunistas da China roubem informação não é uma ideia descabida, afirma Lain Grant, chefe do Grupo Seaboard, um consultor de telecomunicações.
“Até um paranoico acerta em algumas ocasiões”, afirma ele.
“Em um milhão de linhas de linguagem de programação, a não ser que linha por linha seja verificada e o funcionamento do programa compreendido, pode haver uma vulnerabilidade”.
Tal vulnerabilidade pode ser usada para o acesso remoto de informação ou encerrar toda uma rede, afirma.
Grant não está sugerindo que a Huawei tenha feito isto, mas esta é uma preocupação das agências de segurança nos EUA. Essa preocupação levou o Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA a bloquear as tentativas da Huawei de se associar à empresa americana 3Com e de comprar a 3Leaf Systems.
Grant corroborou a observação de Li de que as companhias chinesas de grande porte e bem sucedidas tendem a estar muito mais perto do regime.
“E quanto a estar próximo do governo chinês, isso é razão para preocupação.”
Grant afirma que a melhor maneira de a Huawei ultrapassar essas preocupações seria contratar cidadãos não chineses para as altas posições e fazer mais pesquisa e desenvolvimento fora da China, algo que a companhia começou a fazer há alguns anos.
“Eles estão fazendo tudo corretamente”, apontou Grant.
A suspeita permanece
Engenheiros norte-americanos com liberdade para verificar o código da Huawei poderiam oferecer às agências de segurança algum conforto, disse Grant. Contudo, eventos recentes apontam na direção oposta.
Em abril, o Departamento do Comércio dos EUA invocou medidas da guerra-fria para obrigar empresas de telecomunicações norte-americanas a disponibilizar grandes volumes de dados e informação sobre a origem de seus equipamentos para que as autoridades possam mapear quem criou que partes das redes da nação, reportou o Bloomberg news. Não foi possível obter detalhes do Departamento do Comércio até o fecho da edição.
O CSIS recusou-se a responder questões acerca da Huawei, quer sobre a análise anterior ou rumores sobre uma corrente investigação. O Ministério da Economia e Desenvolvimento de Ontário também não respondeu antes do fecho desta edição a questões sobre os 6,5 milhões condedidos à Huawei e se existem alguma preocupação no Ministério relativa à segurança e a Huawei.
A Huawei combinou o fundo concedido por Ontário aos seus próprios 60,5 milhões de dólares para abrir um centro de pesquisa e desenvolvimento em Ottawa que até agora emprega 120 pessoas e que estima empregar 164 pessoas em 5 anos.
A Huawei anunciou o investimento durante uma missão comercial a Shanghai onde o primeiro-ministro Dalton McGuinty e o Ministro do Turismo Michael Chan deram seu melhor para angariar investimento.
Michel Juneau-Katsuya, ex-chefe dos assuntos asiáticos da CSIS, afirma que dar dinheiro para a Huawei estabelecer-se no Canadá foi um sinal de ingenuidade.
“Fazer isso é convidar o lobo a entrar no celeiro.”
Juneau-Katsuya afirmou que as preocupações relativas à segurança que existem desde longa data se devem a fatos que comprovam que a Huawei está envolvida em espionagem industrial. Em 2003, a Huawei foi julgada culpada e processada por roubar a Cisco código fonte relativo a seus roteadores e comutadores.
Apesar de alguma publicidade negativa, a Huawei cresceu com incrível velocidade e é hoje uma das maiores fornecedoras de equipamento de rede no mundo. Enquanto a Ericsson e a Nokia Siemens que estão no mercado há muito mais tempo não têm seu domínio assegurado.
De acordo com um artigo do Report on Businesses (ROB), Bell e Telus usam quantidades significativas de equipamento da Huawei mesmo para informação confidencial. Já a companhia Rogers não usa tecnologia Huawei, de acordo com o ROB.
A Huawei emprega 120 mil pessoas em todo o mundo e cerca de 55 mil em pesquisa e desenvolvimento. A sede da companhia no Canadá, localizada em Markham, Ontário, tem instalações de 4,3 mil metros quadrados voltadas para vendas e marketing.
A Huawei recrutou o antigo responsável por tecnologia da Nortel, Jonh Roese, para servir a companhia como vice-presidente e diretor-geral do centro de pesquisa e desenvolvimento na América do Norte.