Gestão de riqueza do maior banco da China vai à falência, investidores protestam

10/07/2013 16:20 Atualizado: 10/07/2013 16:20
Investidores furiosos vestem folhas brancas e protestam
Um manifestante no lobby de uma agência do ICBC na cidade de Suzhou, província de Jiangsu. Onze investidores temem ter perdido todos os seus investimentos em produtos de gestão de riqueza vendidos no banco (Soundofhope.org)

Um produto financeiro suspeito oferecido nas agências do maior banco da China falhou recentemente, deixando os investidores diante da perda de todo o seu capital.

Onze dos investidores que compraram o produto em 2011, em desespero, decidiram vestir-se de branco – cor tradicionalmente usada pelos chineses em funerais e em sinal de luto – e marcharam para a filial do banco em Suzhou, província de Jiangsu, com cartazes e panfletos descrevendo a sua perda e humilhação em 26 de junho.

“O Banco Industrial e Comercial da China [ICBC] é uma gestão financeira fraudulenta, os clientes têm prejuízos graves”, dizia um dos cartazes.

“O gerente de Gestão de Riqueza (GR) e o vice-diretor da filial do banco disseram-me várias vezes que o ICBC é um dos quatro maiores bancos chineses e que seu crédito é garantido e que o próprio produto era seguro”, disse Li Yihua, um dos investidores que perdeu seu dinheiro, à Time-Weekly, uma revista de notícias chinesa. “Por isso eu comprei o produto recomendado pela GR.”

Foi-lhe prometida uma taxa anual de 12%, em comparação com as taxas de juros negativas oferecidas em contas bancárias regulares.

O investimento, chamado de ‘produto de gestão de riqueza’ (PGR), foi vendido por intermédio do ICBC, com todas as garantias do peso da marca do banco estatal. Mas quando ele falhou, os investidores foram informados que estavam por conta própria.

O ICBC apenas mediou o intercâmbio entre um fundo de investimentos ou uma empresa de gestão de riqueza e os investidores, enquanto assegurava para si uma fatia dos juros e uma taxa pelo trabalho.

Investidores chineses ouvem isso quando compram tais produtos, mas muitos acreditam, ou fingem acreditar, que o banco retornará os investimentos em qualquer caso. Os fundos são frequentemente canalizados por empresas intermediárias para setores especulativos, como o imobiliário, mineração e empréstimos para governos locais para o desenvolvimento de infraestrutura.

Os bancos se voltaram para esses produtos, que em geral são chamados de sistema bancário colateral, às vezes como uma forma de contornar os estritos limites estabelecidos pelo Estado sobre as taxas que podem emprestar. Existem inúmeras permutações de acordos – poucas delas transparentes – entre bancos, sociedades fiduciárias, empresas de gestão de riqueza, sociedades de garantia de crédito, governos locais e outros veículos.

Li Yihua enfrenta uma perda de 2 milhões de yuanes (US$ 326 mil). Ela investiu, junto com outras 10 pessoas, em setembro de 2011 por um ano num “PGR sem-risco”. Eles descobriram que, uma vez expirado o período, no entanto, seu PGR tinha se transformado num “empréstimo de confiança”, dinheiro que eles pensam agora que nunca verão novamente. Nos mais de 10 meses desde a data de resgate no ano passado, os 11 investidores não viram um centavo. O capital total colocado no produto foi de 22,3 milhões de yuanes (US$ 3,6 milhões), segundo a Time-Weekly.

Manifestantes exibem um cartaz no lobby de um ramo do ICBC na província de Jiangsu. Onze investidores temem ter perdido todos os seus investimentos em produtos de gestão de riqueza vendidos no banco (Soundofhope.org)

“Cada vez mais os bancos parecem estar envolvidos em golpes de PGR”, declarou o site de notícias Tiger Finance, num artigo que foi publicado pelo Economic Information, um site afiliado a mídia estatal Xinhua. Posteriormente, o artigo foi removido do site.

Muitos analistas acreditam que os PGR e a indústria bancária colateral da qual fazem parte, são um risco oculto para a economia chinesa. O sistema bancário colateral surge quando os bancos deslocam empréstimos de seus balanços, por meio de sociedades fiduciárias e de gestão de riqueza. PGR são frequentemente de curto prazo e são usados para financiar projetos com horizontes muito maiores de retorno de investimento.

“Se PGR começarem a falhar em grande número, os investidores não estarão suscetíveis de dar passe livre aos bancos”, escreve Nicholas Borst, gerente do programa China no Instituto Peterson, uma organização de pesquisa sobre economia em Washington DC, numa postagem de blogue. “Assim como houve protestos… quando as ações perderam dinheiro, os bancos e, por extensão, o governo, se encontrarão sob pressão se o mercado de PGR seguir na descendente.”

Peterson estima que as ações em circulação de PGR sejam de 11,5 trilhões de renminbi (US$ 1,8 trilhões), o que ele diz ser 13% dos depósitos bancários totais. “Esse número é grande o suficiente para começar a ter implicações para a estabilidade do sistema financeiro chinês e a tendência é seguir na direção errada”, escreve Borst.

As empresas que oferecem esses produtos ao público e aos bancos, normalmente precisam continuar a oferecer novos produtos para pagar os investidores antigos. Esse financiamento descompassado significa que se houver falta de confiança por parte dos investidores que não compram novos PGR, investidores antigos podem perder seu capital, precipitando mais falências e demandas por dinheiro e, potencialmente, uma crise no setor bancário.

O recente colapso do PGR oferecido pelo ICBC provável não terá ramificações mais amplas imediatamente, segundo Fraser Howie, coautor do livro “Red Capitalism”, que analisa o sistema bancário da China.

“Em si mesmo, isso não é grande o suficiente nem público o suficiente para afundar o navio inteiro”, disse ele numa entrevista por telefone. “Esse não é o colapso do Lehman Brother que causou a crise sistêmica.” Mas é indicativo de que mais está por vir.

“Estamos no início do ciclo”, disse ele. “O crédito tem sido abundante durante anos e tem havido maneiras criativas de injetar crédito na economia. Assim, até agora, o crédito não tem sido um problema.”

O recente aumento nas taxas de empréstimos interbancários, no entanto, mostra que o governo central está tentando conter o crescimento do crédito. “Se eles estiverem falando realmente sério sobre apertar o crédito, então, eu acho que você verá mais e mais disso”, disse ele.

A nova liderança do Partido Comunista Chinês terá de pisar com cuidado, entretanto, porque a desaceleração do crescimento e uma contração do crédito podem levar as empresas e os PGR, como o oferecido pelo ICBC, à falência.

Howie prevê que se os PGR começarem a falhar em larga escala, provavelmente serão os bancos que terão de mergulhar em seus cofres para pagar os investidores furiosos. “Em algum momento, alguém terá de arcar com a dor.”

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