Ao ver como o presidente Barack Obama lida com Vladimir Putin pela invasão da Crimeia e ameaças à Ucrânia me dá uma deprimente sensação de déjà vu.
Não me entenda mal. Respeito o presidente dos Estados Unidos, e desejo ajudá-lo. Cresci com a fotografia do presidente americano na parede da minha casa em Bucareste. Meu pai, que passou a maior parte da vida trabalhando para a General Motors na Romênia, amava os Estados Unidos, mas jamais pisou neste país. Para ele, os Estados Unidos eram apenas uma terra de sonhos, milhares de milhas distante. Ou seja, o presidente americano era o símbolo tangível do seu sonho. E para mim também. Tenho orgulho de que os Estados Unidos tenham alcançado a maturidade suficiente para eleger um presidente negro, e, idealmente, o primeiro presidente negro americano deveria ter um lugar de honra na história da política externa do nosso país. Mas, infelizmente, não é isso que estamos vendo.
Sou testemunha de que o nosso Partido Democrata tem uma longa tradição de curvar-se a tiranos. Permita-me voltar no tempo, 35 anos atrás. No dia 12 de abril de 1978, o presidente Jimmy Carter saudou o déspota Nicolae Ceausescu como um “grande líder nacional e internacional”. Naquele dia, eu estava de pé perto de Ceausescu na Casa Branca, e mal podia acreditar no que ouvia.
Ceausescu desprezava aduladores. No carro, saindo daquela cerimônia oficial na Casa Branca, ele pegou uma garrafa de álcool e lavou o rosto por que havia sido beijado afetuosamente pelo presidente Carter no Salão Oval. “Peanut-head” (“Sujeito desprezível”), sussurrou Ceausescu nos meus ouvidos.
Três meses mais tarde – tendo finalmente tomado uma decisão sobre o meu crescente conflito com o comunismo – obtive asilo político nos Estados Unidos, e informei o presidente Carter que ele estava aplaudindo o homem errado. Ceausescu, expliquei, era na verdade um terrorista e contrabandista de armas internacional que estava também traindo os judeus romenos e os alemães em troca do dinheiro do Ocidente.
O resultado? Carter alegou que a KGB havia encenado a minha deserção para destruir a sua excelente relação com Ceausescu, e ordenou a minha deportação para a Romênia! Tive um ataque cardíaco. Se Ceausescu conseguisse pôr as garras em mim, ia me dilacerar, membro por membro, milímetro por milímetro, dia a dia, pelo resto da vida.
Felizmente, o bom senso prevaleceu. Entretanto, um livro de Roger Kirk, embaixador americano na Romênia quando eu desertei, fornece provas irrefutáveis de que o presidente Carter dançou a música de Ceausescu. Em setembro de 1978, o presidente Carter enviou um alto conselheiro, Mattheuw Nimetz, a Bucareste para pedir desculpas pelos Estados Unidos terem me concedido asilo político. Nimetz transmitiu ao tirano que a administração Carter “faria o máximo para assegurar que a publicidade do caso Pacepa fosse evitada completamente, ou mantida no mínimo”. O embaixador Kirk estava presente nesta reunião.
Como resultado da política de sujeição do presidente Carter, Ceausescu permaneceu no poder por mais 11 anos. Em dezembro de 1989, 1.104 romenos pagaram com a vida e 3.352 foram feridos após o tirano ordenar às forças armadas e de segurança a abrirem fogo contra o povo cujo desejo era a saída de Ceausescu.
No memorável dia 19 de julho de 1979, o presidente Carter repetiu a dose. Beijou afetuosamente Leonid Brezhnev nas duas faces no primeiro encontro deles em Viena. Mas Brezhnev também desprezava aduladores. Cinco meses após o infame beijo, um esquadrão terrorista da KGB assassinou Hafizullah Amin, o primeiro-ministro afegão educado nos Estados Unidos, e o substituiu por uma marionete soviética. Em seguida, a União Soviética invadiu o Afeganistão.
O presidente Carter protestou debilmente, boicotando os Jogos Olímpicos de Moscou. Aquele ato deu força ao regime Talibã e ao terrorismo antiamericano de Osama Bin Laden. O preço pago por esta sujeição: três mil americanos mortos no dia 11 de setembro de 2001, e quase 1.800 mortos na guerra do Afeganistão.
Em 2004, o presidente ucraniano Leonid Kuchma, marionete do Kremlin e antigo membro do Politburo, completou dois mandatos e ficou proibido por lei de se candidatar novamente. O KGB de Putin, entretanto, envenenou Viktor Yushchenko, o primeiro candidato a presidente pró-Ocidente na Ucrânia. Ele ficou severamente desfigurado, mas escapou com vida, e o seu partido venceu as eleições presidenciais e parlamentares. O KGB (renomeada FSB), que se tornou a maior inimiga da democracia ucraniana, conseguiu entretanto organizar um julgamento encenado contra a primeira-ministra pró-Ocidente, Yulia Tymoshenko, e ela foi presa.
Na semana passada, as tropas russas invadiram a Crimeia, parte do território ucraniano independente. No dia 1° de março, a equipe de segurança nacional se reuniu na Casa Branca para discutir a agressão à Ucrânia. Um oficial da Casa Branca informou a alguns repórteres, por e-mail, que o presidente Obama não compareceu à reunião.
O caminho à frente
Trinta e cinco anos atrás paguei com duas sentenças de morte emitidas pela Romênia, meu país natal, por ajudar a minha nação a se libertar das garras de um tirano, e hoje farei tudo o que puder para ajudar a restabelecer a liderança e a superioridade americanas. Sou um republicano filiado, mas aprendi, do modo mais duro, que a união em tempo de guerra é o que fez dos Estados Unidos o líder do mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, 405.399 americanos morreram para derrotar o nazismo, o holocausto e o louco império japonês da época. Mas este país de imigrantes permaneceu firmemente unido. No fim da guerra, os mesmos Estados Unidos reconstruíram os países de seus inimigos derrotados. Levou sete anos para Alemanha, Itália e Japão virarem democracias, mas o esforço fez dos Estados Unidos o líder mundial incontestável.
Os americanos dizem que, se você quer conhecer realmente alguém, deve andar uma milha usando os sapatos dele (“walk a mile in his moccasins“). Infelizmente, andei muitas milhas, durante muitos anos, usando os sapatos de Putin, e estou convencido de que se ele fizer o que pretende, começará uma nova Guerra Fria que poderá ser não apenas fria, mas igualmente sangrenta.
Em 2005, o presidente russo Vladimir Putin chamou o desmantelamento da União Soviética de “a maior catástrofe geopolítica do século”. Em julho de 2007, ele prognosticou uma nova Guerra Fria contra o Ocidente. “A guerra começou”, anunciou Putin no dia 8 de agosto de 2008, minutos após o presidente George W. Bush e outros líderes mundiais, reunidos em Pequim para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, serem surpreendidos ao saber que os tanques russos haviam cruzado a fronteira com a Geórgia.
Dias atrás, os símbolos soviéticos foice e martelo foram ostensivamente exibidos nas cerimônias de abertura dos Jogos de Inverno em Sochi, na Rússia, durante um show sobre a história do país. Os artistas vestiam vermelho e branco, pilotavam aviões e dirigiam carros, enquanto a foice e o martelo pairavam sobre a cena.
Poucos dias depois do fim dos Jogos de Inverno, a Rússia invadiu a Crimeia, que está nos limites da Ucrânia. A Ucrânia é de longe a mais importante parte da antiga União Soviética que Putin precisa dominar para recriar a União Soviética e construir um império russo do século XXI. Historicamente, o primeiro Estado russo, chamado “Rus”, foi fundado em 880 d.C. ao redor do que hoje é a cidade de Kiev. A Ucrânia atual é importante como um farto cesto de pão – o terceiro maior produtor de grãos do mundo – e tem um setor manufatureiro bem desenvolvido, particularmente no campo aeroespacial. E, por último mas não menos importante, a Ucrânia hospeda a frota russa do Mar Negro, sob um tratado de leasing.
A recém-anunciada deserção do contra-almirante Denis Berezovsky, o novo comandante da marinha ucraniana, para o lado russo e a sua ordem para as forças navais não obedecerem as “autoproclamadas” autoridades de Kiev, provam que Putin preparou o seu ataque à Ucrânia há muito tempo. Por que estamos tão surpresos e despreparados para lidar com isso?
A administração americana tem evitado tomar uma posição firme, dizendo apenas “os Estados Unidos ficarão ao lado da comunidade internacional afirmando que haverá custos para quaisquer intervenções militares na Ucrânia”. O comentarista político Charles Krauthammer qualifica a fraqueza desta afirmação como “inacreditável”, pois na verdade significa que realmente não faremos nada, e estamos dizendo ao mundo que não faremos nada. Em minha opinião, a resposta americana é apenas a continuação da longa tradição do Partido Democrata e do Foggy Bottom (metonímia para o Departamento de Estado) de adular tiranos.
Em 2009, após o Partido Democrata ter vencido as eleições nacionais, a nossa secretária de Estado, Hillary Clinton, decidiu apagar o desagradável passado das nossas relações com a Rússia e estabelecer uma nova política chamada “Reset” (erroneamente traduzida pelo nosso Departamento de Estado como “Peregruzka”, que significa “sobrecarga”). Há poucos significados para “reset” nos dicionários, mas todos tendem a significar “restabelecer” – exceto em escocês, idioma no qual “reset” é o termo legal para receptação. O Kremlin forçou e restabeleceu uma política externa ao estilo soviético na Rússia.
A nossa mídia clama por sanções econômicas contra a Rússia. Pela minha experiência, sanções econômicas nunca funcionaram. Mas a VERDADE funcionou. O motivo pelo qual os EUA venceram a Guerra Fria foi a “Campanha da Verdade” do presidente Truman, definida no relatório NSC 68/1950 do Conselho Nacional de Segurança como “uma batalha, acima de tudo, pela mente dos homens”. Truman argumentou que a propaganda usada pelas “forças do comunismo imperialista” só podia ser vencida pela “verdade nua e crua”. A Voice of America, Radio Free Europe e a Radio Liberation (depois rebatizada de Radio Liberty) fizeram parte da ofensiva de refreamento de Truman.
Se as pessoas ainda se admiram como os Estados Unidos venceram a Guerra Fria sem disparar um tiro, eis uma explicação do segundo presidente da Romênia pós-comunista, Emil Constantinescu:
“A Radio Free Europe foi muito mais importante do que as tropas e os mais sofisticados mísseis. Os ‘mísseis’ que destruíram o comunismo foram lançados pela Radio Free Europe, e este foi o mais importante investimento de Washington durante a Guerra Fria. Não sei se os próprios americanos percebem isso hoje, sete anos após a queda do comunismo, mas nós o entendemos perfeitamente.”
O nosso país está enfrentando uma nova Guerra Fria. Devemos iniciar uma nova campanha da verdade.
O general Ion Mihai Pacepa é o oficial de mais alta patente que desertou do bloco soviético e vive agora nos Estados Unidos. Seu livro mais recente, Disinformation, escrito em coautoria com o professor Ronald Rychlak, foi lançado em junho pelo WND Books
Esta matéria foi originalmente publicada pelo WND