Descrito pela mídia estatal chinesa como um “terremoto” nas forças armadas do país, o general aposentado Xu Caihou foi expulso do Partido Comunista Chinês em 1º de julho e acusado de corrupção.
A queda de Xu das alturas do Partido Comunista Chinês (PCC) segue-se a uma carreira baseada numa barganha diabólica: Xu conseguiu converter seu entusiasmo pela perseguição à disciplina espiritual do Falun Gong em carreirismo, poder e privilégios.
Em 1999, Xu Caihou era um reles oficial político de uma das sete regiões militares do Exército da Libertação Popular (ELP), um dentre centenas de quadros do PCC e graus significantemente abaixo do alto escalão do PCC.
Xu então começou uma ascensão meteórica, no mesmo ano ele se tornou o segundo no comando do departamento político do ELP e membro do Comitê Militar Central (CMC), um órgão do PCC que comanda as forças armadas da China, e, pouco depois, em 2003, ele foi promovido a diretor-geral do departamento político.
Em 2004, este indivíduo sem histórico militar substancial – ele sempre serviu como um oficial encarregado de reforçar a ideologia comunista no ELP – se tornou o segundo no comando de todas as forças armadas da China. Como vice-presidente do CMC, Xu se tornou uma das pessoas mais poderosas na China.
O patrono de Xu era o secretário-geral do PCC e presidente da China, Jiang Zemin. Jiang se aposentou como chefe do PCC em 2002, mas manteve a presidência do CMC até 2004. Por meio de Xu, Jiang foi capaz de ter uma voz forte no regime chinês durante sua aposentadoria.
Em julho de 1999, Jiang lançou uma campanha política para erradicar o Falun Gong, uma prática espiritual tradicional chinesa. Ele esperava que a campanha levasse seis meses, mas o povo chinês e inclusive membros do PCC e do Estado não estavam entusiasmados.
Jiang começou a recrutar seguidores que promovessem sua campanha de perseguição, oferecendo promoções e riqueza como recompensa. Um oficial militar sênior de Wafangdian, a cidade natal de Xu, na província de Liaoning, Nordeste da China, disse ao Epoch Times em 2006 que Xu lisonjeava Jiang constantemente e era dedicado na promoção da perseguição.
Luta ideológica
Quando Jiang Zemin decidiu lançar a perseguição ao Falun Gong em 1999, seu primeiro alvo foi um expurgo no próprio regime. “Ele interpretava a ameaça do Falun Gong como ideológica: as crenças espirituais tradicionais contra o ateísmo militante e o materialismo histórico. Ele queria limpar o governo e os militares dessas crenças”, escreveu a intelectual Julia Ching na época.
Isso frequentemente assumiu a forma de confissões públicas forçadas, em que supostos ex-praticantes do Falun Gong denunciariam a prática e incitariam outros a se alinharem com o Partido Comunista. O caso mais famoso foi o de Li Qihua, um tenente-general aposentado e ex-chefe do Hospital 301 de Pequim, que trata especialmente da elite comunista.
“A decisão do PCC é muito sábia, correta e rápida”, disse o Diário do ELP, citando-o em outubro de 1999. A Xinhua, outra mídia estatal porta-voz do regime, também citou oficiais do ELP dizendo que o Falun Gong era “um esforço de forças ocidentais hostis para subverter a China”.
Em 1999, Xu Caihou era vice-diretor de um dos órgãos fundamentais para o expurgo interno dos militares, o departamento político e sua rede, que penetra os militares e as forças policiais e secretas.
Hu Zhiming, um praticante do Falun Gong que agora vive no exílio, era um especialista em radar da Força Aérea em Pequim em 2000. Quando ele deixou o cargo para se engajar no ativismo pelo Falun Gong, “o comitê de assuntos políticos de meu local de trabalho descobriu e agiu imediatamente”, disse ele ao Congresso dos EUA em 2012.
Mais tarde, ele foi trancafiado num bunker e forçado a assistir “intermináveis horas de programas de lavagem cerebral” contra o Falun Gong, abusos que eram orquestrados pelo departamento político.
Extração forçada de órgãos
Usando a província de Liaoning como base, Xu trabalhou com o governador local Bo Xilai para ajudar a transformar Liaoning numa base para a perseguição ao Falun Gong, dedicando um orçamento descomunal para a construção de prisões na região, e posteriormente em toda a China, segundo o oficial militar veterano.
Estas prisões, disse a fonte, estavam envolvidas na extração forçada de órgãos – a matança de prisioneiros de consciência por seus órgãos para suprir a indústria de transplante da China.
A extração de órgãos tem vitimado tibetanos, uigures, cristãos domésticos e prisioneiros no corredor da morte. No entanto, desde 2000 os praticantes do Falun Gong seriam a principal fonte de órgãos, segundo investigadores.
Embora ninguém possa dizer com certeza a dimensão do envolvimento dos militares chineses na extração forçada de órgãos, pesquisadores concordam que os militares têm desempenhado um papel principal.
Uma edição da revista chinesa Sanlian Life publicada em abril de 2006 informou que “98% dos recursos de órgãos na China são controlados por um sistema fora do Ministério da Saúde”. A China tem dois sistemas hospitalares, um controlado pelo Ministério da Saúde e um pelos militares. A Sanlian Life parece estar se referindo aos hospitais militares, embora sem nomear esse sistema.
O autor e pesquisador Ethan Gutmann entrevistou dezenas de refugiados da China, que enquanto estavam presos no país foram submetidos a exames médicos apenas para avaliar seus órgãos, provavelmente com a finalidade de identificar potenciais doadores e a compatibilidade com receptores. Num e-mail, Gutmann informou que metade dos praticantes do Falun Gong relataram ter sido examinados por médicos militares.
Um relatório da ‘Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong’ (WOIPFG) sobre o papel dos hospitais militares na extração forçada de órgãos documentou o número de transplantes de órgãos realizado por dezenas de hospitais em todo o sistema militar.
Sob a liderança de Xu, os militares chineses continuaram a exterminar os prisioneiros de consciência em seus hospitais. O pico da atividade da extração forçada de órgãos ocorreu em 2006, no mandado de Xu, com uma estimativa de 18 mil operações de transplante num ano. A atual taxa de transplante é estimada em 10 mil por ano.
É seguro dizer que, quando Xu for submetido à corte marcial, sua acusação não incluirá os crimes contra a humanidade que ele cometeu contra os praticantes do Falun Gong. E as razões para seu expurgo não será por causa da corrupção, algo que ele compartilha com quase todos os oficiais do PCC. Xu está sendo purgado devido a suas ligações com seu patrono Jiang Zemin, com quem o atual líder chinês Xi Jinping está travando uma luta amarga pelo poder.
Em comentários publicados anteriormente pelo Epoch Times, Cheng Xiaonong, um analista político que agora vive nos Estados Unidos mas que fazia pesquisa num instituto de reflexão oficial na China na década de 1980 sob o líder reformista chinês Zhao Ziyang, disse: “Xu Caihou foi promovido por Jiang Zemin e sob suas ordens Xu foi encarregado de promover uma série de oficiais militares. Essas pessoas pertencem a Xu Caihou, e Xu Caihou pertence a Jiang Zemin. Eles são um grupo [de interesse] e defendem uns aos outros.”
Os praticantes do Falun Gong frequentemente instruem às pessoas na China que se dissociem e distanciem da perseguição por causa de um antigo princípio moral, o bem é recompensado com o bem e o mal com o mal. Esses praticantes sem dúvida estão agora explicando ao povo chinês que o general Xu Caihou, em seu expurgo e prisão, está simplesmente começando a pagar por seus crimes.