O advogado chinês de direitos humanos Gao Zhisheng, que ainda vive sob estrita vigilância das forças de segurança chinesas em uma parte remota da China, escreveu uma carta anunciando que contrabandeou dois manuscritos para fora da China, que serão publicados no próximo ano.
Gao também descreveu um plano para processar o Partido Comunista Chinês sob julgamento por crimes contra a humanidade no final de 2017. Os detalhes do que ele chamou de “tribunal especial” não são claros, e na carta ele pede aos leitores que fiquem atentos para os próximos livros.
Um dia após a carta ter sido publicada no Epoch Times, em 22 de setembro, a Associated Press publicou uma longa entrevista realizada com Gao, em março. Tanto na carta como na entrevista, Gao descreve a tortura que sofreu nas mãos da polícia chinesa, e critica os líderes ocidentais pela relutância em falar contra as atrocidades cometidas pelo regime chinês.
Gao, 51, foi detido pela primeira vez por forças de segurança pública do regime comunista chinês em 2006, depois de ter defendido publicamente praticantes de Falun Gong, uma prática tradicional de meditação chinesa. O Falun Gong tem sido perseguido desde 1999, sob as ordens do então líder do Partido Comunista, Jiang Zemin, que assumiu a campanha como uma cruzada pessoal.
Gao renunciou abertamente ao Partido Comunista, e participou de uma greve de fome em todo o país. Depois que seu escritório de advocacia foi fechado e sua licença para trabalhar foi cancelada, ele ainda não deixou de defender os adeptos do Falun Gong. Gao então passou a ser foco de atenção das forças de segurança.
“Não fale das torturas praticadas pelo Partido Comunista, nós vamos dar-lhe uma lição completa agora!” Gao relata a fala de um dos agressores, durante seus dois meses sob custódia. “Você está certo, nós torturamos o Falun Gong. Tudo está certo. Os 12 passos que vamos aplicar em você agora são praticados no Falun Gong, para dizer a verdade “.
Durante esse episódio em 2007, Gao passou por torturas horríveis. Queimaram pontas de cigarro em seus olhos, inseriram palitos de dentes em seus órgãos genitais, e seu rosto foi espancado com bastões elétricos de alta tensão.
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Como parte de uma tentativa de silenciá-lo e destruir sua vontade, Gao passou nove anos sob vigilância das forças de segurança chinesas comunistas, sendo obrigado a permanecer a maior parte do tempo em prisões ou outra forma de detenção. Ele foi brutalmente torturado em várias ocasiões. Em 07 agosto de 2014, as autoridades chinesas liberaram Gao da prisão e colocaram-no sob uma forma de prisão domiciliar na remota província de Xinjiang. Mais tarde, ele foi transferido para a sua aldeia natal na província de Shaanxi, a noroeste da China.
Em março, Gao falou sobre suas experiências na prisão para membros da ChinaAid, uma organização sem fins lucrativos cristã que defende a liberdade religiosa e o Estado de Direito na China, e para jornalistas da Associated Press. Partes da entrevista foram divulgadas num artigo da AP, e um vídeo de 10 minutos foi publicado no YouTube em 23 de setembro pela ChinaAid.
Em sua carta ao Epoch Times, Gao fala sobre seu compromisso contínuo em trazer à luz as atrocidades cometidas pelo regime chinês contra os praticantes da disciplina espiritual Falun Gong. Ele critica os líderes mundiais por “fazerem-se de surdos em relação à catástrofe dos direitos humanos na China que acontece atualmente”. Na carta, ele também anuncia que conseguiu contrabandear dois manuscritos, que já foram entregues no exterior.
O relatório de Gao feito pela Associated Press é focado nas torturas que ele sofreu. O vídeo da entrevista descreveu seu estado mental enquanto era torturado. Gao senta-se em uma cama na casa de um membro de sua família, e em um ponto no vídeo, mostra aos jornalistas a parte interna de sua boca, onde faltavam diversos dentes que perdeu durante os espancamentos. O vídeo é um testemunho do “espírito de determinação, compaixão e amor pelos outros e seus inimigos” manifestados pelo advogado, disse Fu.
Isto pode ser visto ainda mais nitidamente quando Gao discute a terceira vez que ele foi torturado durante a detenção em setembro de 2007. Depois de passar quatro ou cinco horas torturando Gao, os agressores estavam exaustos e sentaram-se sem suas camisas para descansar. Em menos de um minuto após Gao ter caído no chão, ele começou a roncar enquanto dormia. Ele foi logo despertado por um pontapé “muito forte” na cabeça, e seus agressores disseram: “Sua criatura sem coração, você já é capaz de dormir?”
“Nós não conseguimos dormir bem por dois ou três dias depois de torturá-lo, mas você já consegue dormir. Esta é a diferença entre um ser humano e um cão.”
Ao contar o episódio, um leve sorriso apareceu no rosto de Gao. “Na verdade, a diferença é que eu isolo completamente minhas emoções de meu corpo físico”, disse ele.
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Gao continuou: “A força interior de um homem é ilimitada e apoiada por sua perseverança, ela não permitirá que ele seja arrastado para baixo.”
Quando ele foi finalmente libertado da prisão, a polícia lhe disse ironicamente que as pessoas ainda estão “clamando” por ele, apesar de ele ter permanecido trancado por muitos anos. Gao sorriu e disse: “O que você tem feito por mim é parte dela, também.”
Apesar de todas as dificuldades que sofreu, Gao queria apenas duas coisas: ele queria consertar seus dentes, e tomar um banho quente.
O presidente da ChinaAid, Bob Fu, acha que as autoridades chinesas deveriam “falar publicamente e seriamente” com o líder chinês Xi Jinping quando se encontrarem em Washington, DC, durante a primeira visita oficial de Xi aos Estados Unidos.
“Tortura, violação de direitos humanos e do Estado de direito não poderiam ser toleradas pela comunidade internacional, e o povo americano não pode tolerar o que Xi Jinping está fazendo”, continuou Fu.
“Um país que trata os seus próprios cidadãos de forma desumana e em contradição com as suas próprias leis e normas internacionais não merece status de acionista na comunidade internacional”.
Fu acrescenta que os Estados Unidos não pode reconhecer a China como grande potência se Xi Jinping não consegue libertar prisioneiros de consciência como o veterano jornalista Gao Yu, os advogados de direitos humanos como Wang Yu e Zhang Kai que foram recentemente presos, cristãos, uigures, tibetanos, praticantes de Falun Gong, e outros que exigem direitos básicos.
“A China tem essencialmente se tornado a maior prisão do mundo todo”, disse Fu, antes de fazer uma comparação obscura. “O mundo civilizado deveria ter aprendido as lições da década de 1930 e do caso de Hitler.”