Depois de uma recente investigação e restauração, um retrato há muito esquecido do famoso pintor veneziano, Ticiano, foi colocado em exposição na Galeria Nacional do Canadá.
Graças a um pouco de sorte e um meticuloso processo de restauração, o retrato feito por Ticiano de Daniele Barbaro (1514 – 1570) – que quase nunca viu a luz do dia – finalmente tomou o seu lugar de direito entre as obras mais prestigiadas da NGC (Galeria Nacional do Canadá).
Ticiano é considerado um dos maiores artistas do Renascimento. Seu trabalho foi celebrado por seus contemporâneos, ele criou um estilo inimitável e altamente pessoal que mudou para sempre a arte da pintura.
O retrato de Barbaro, um conhecido acadêmico italiano e humanista, permaneceu em pobres condições por muitos anos depois que foi comprado pela NGC na década de 1920.
Armazenada nos cofres da galeria, a pintura recebeu pouca atenção porque durante muito tempo se acreditou não passar de uma cópia. O suposto original já estava em exposição no Museu do Prado em Madrid, onde sua autenticidade e denominação como original não tinham sido questionadas.
A relação entre as duas pinturas tinha sido muito debatida entre os estudiosos e uma comparação lado a lado foi arranjada em 1991 para solucionar a questão. A conclusão foi de que a versão da Galeria Nacional era, de fato, uma cópia feita por Ticiano em sua oficina.
Então, em 2003, um amante da arte canadense escreveu à galeria e perguntou sobre o trabalho. A carta desencadeou o processo de restauração da pintura e subsequente reexame do seu estatuto enquanto cópia do original. O processo de restauração e exame ocorreu ao longo do ano e a conclusão final foi uma surpresa.
Foi o diretor de conservação e pesquisa técnica da NGC, Stephen Gritt, que primeiro incentivou a restauração da obra e descobriu que a habilidade e sensibilidade com que a pintura havia sido produzida indicava que de fato era um original, não uma cópia.
Gritt foi à Madrid com as radiografias de ambas as pinturas em mãos. “Passei uma tarde em frente a uma caixa de luz com a documentalista técnica do Museu do Prado”, diz ele.
“Ao comparar cuidadosamente as características sutis de execução, reveladas no raio-X, fomos capazes de demonstrar que, ao passo que os quadros foram pintados mais ou menos ao mesmo tempo, a tela de Ottawa foi o alvo de todo o pensamento e foi ela que liderou o caminho”.
A pintura da Galeria Nacional revelou um trabalho em progresso, uma obra cujos detalhes foram solidificados no processo de pintura. Por exemplo, a cor da roupa, a altura do colarinho e o nariz proeminente do sujeito foram todos ajustados e finalizados na pintura pertencente à galeria.
A versão de Madrid mostrou que o aspecto final da pintura tinha chegado mais diretamente e o “pensamento” prévio sobre a execução havia sido aplicado na pintura da galeria. As duas pinturas foram, provavelmente, pintadas lado a lado sendo que a pintura da Galeria Nacional foi a primeira a ser feita, servindo de experiência para realizar a outra..
Assim, um longo debate finalmente chegou ao fim e a NGC enriqueceu sua coleção ao resgatar do pó a suposta cópia . Impõe-se a questão: Que outros tesouros se escondem nos cofres da galeria à espera de ver a luz do dia?