A campanha anticorrupção em andamento na China está visando agora outro privilégio do oficialismo: os carros fornecidos pelo Estado.
Em 16 de julho, o regime chinês formalmente anunciou um novo programa que visa a cortar o uso de veículos oficiais, reduzir os gastos e prevenir a corrupção, segundo reportagens na mídia estatal chinesa.
De acordo com as novas regras, os funcionários de nível departamental e inferiores não terão veículos oficiais disponíveis a partir de agora, e até o final do ano pelo menos 5 mil veículos oficiais devem ser vendidos. Esses carros serão vendidos em leilões públicos em todo o país e o dinheiro arrecadado será entregue à tesouraria central após a dedução dos impostos, diz o anúncio.
A atenção sobre a corrupção oficial na China tem se focado nos referidos “três desperdícios públicos” – viagens ao exterior, veículos e recepções oficiais. Em dezembro de 2012, imediatamente após Xi Jinping ser empossado como secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), o Partido emitiu 8 regras destinadas a conter a extravagância oficial. Reformas recentes prescreveram quantos pratos podem ser servidos em refeições oficiais e proibiram o uso de restaurantes-clubes por autoridades.
O custo dos veículos oficiais de fato fere o orçamento na China: dois terços do valor gasto nos três desperdícios públicos são em veículos oficiais, segundo a mídia estatal.
Veículos oficiais custam atualmente mais de 400 bilhões de yuanes (US$ 64,5 bilhões) por ano na China, segundo a emissora estatal Central Chinesa de Televisão (CCTV). A China tem mais de quatro milhões de veículos oficiais e o número vem aumentando em 20% a cada ano, informou a CCTV.
Especialistas dizem que apenas um terço da despesa em veículos oficiais é apropriada. Outro terço da despesa se deve aos motoristas fazerem uso pessoal do veículo e o último terço é devido ao uso pessoal dos funcionários, informou a CCTV.
A mídia chinesa frequentemente relatada que motoristas oficiais normalmente trabalham como motoristas particulares para os funcionários, levando seus filhos para a escola e buscando-os, levando a família em férias, e assim por diante.
Em lugar dos veículos oficiais, os funcionários de nível de departamento receberão 1.300 yuanes (US$ 210) por mês como compensação para o transporte, e os dois níveis abaixo receberão 800 e 500 yuanes (129 e 81 dólares), disse o anúncio oficial.
O programa de reforma tem atraído muita atenção na internet chinesa. Enquanto alguns internautas apoiam a mudança que cidadãos têm solicitado há anos, muitos outros são críticos e duvidam da eficácia e equidade das reformas.
É um fenômeno comum na China que quanto maior o escalão dos funcionários, menos eles são afetados ou precisam sair para fazer qualquer coisa. Mas quanto mais baixo, mais os funcionários têm de se mover ao redor, segundo a imprensa chinesa.
Alguns internautas têm perguntado por que funcionários acima do nível de departamento não foram incluídos na reforma. Outros sugeriram que os funcionários incluídos na reforma estão sendo tratados injustamente.
“[A compensação] obviamente não é justa e mostra um forte senso de privilégio”, observou o internauta Xiaopi Dage. “Por que eles não podem ser reembolsados por despesas de viagem? 500 yuanes é suficiente para um funcionário de baixo escalão que tem uma pesada carga de trabalho?”
“Frequentemente é o funcionário de nível inferior que deve ir visitar os superiores para reuniões. Para chefes de departamento que não têm a necessidade de sair muito, o reembolso para eles será um bônus disfarçado. Isso não resolve qualquer problema.”
Gu Pingan, professor da Escola Nacional de Administração da China, também disse à revista chinesa Semanário do Sul que a compensação para o transporte é questionável e até mesmo funcionários do mesmo nível têm necessidades diferentes para o transporte.
Os fundos públicos para veículos oficiais são normalmente usados para comprar carros de luxo para os funcionários. A mídia estatal Diário do Povo informou no início deste mês que um grupo de funcionários usou cerca de 20 grandes caminhonetes brancas para ir à Planície Xilingol na Região Autônoma da Mongólia Interior para filmar cavalos, porque “os líderes amam filmar cavalos”.
Um dos carros não tinha licença ou emplacamento e três outros tinham as placas cobertas com camuflagem. A reportagem disse que algumas das caminhonetes eram FAW Toyota Land Cruisers, que custam 750 mil a 1,159 milhão de yuanes (US$ 121 mil a 187 mil) na China.