A campanha anticorrupção da China já existe faz algum tempo e agora tem como alvo funcionários corruptos que fugiram para o exterior. Acordos foram feitos com os EUA e a Austrália, por exemplo, para encontrar e trazer fugitivos de volta para a China.
Mas há outra tática que agora está sendo usada, destinada a dissuadir os fugitivos antes de eles fugirem da China: propaganda negativa. A mídia chinesa está exibindo testemunhos de fugitivos que descrevem a dificuldade de uma vida de fugitivo. Se os casos são representativos, ou até mesmo precisos, é incerto, mas eles parecem ter um papel convincente ao passar a mensagem de que fugir para o exterior para viver uma boa vida com dinheiro de corrupção, não é tão fácil quanto parece.
“Eu prefiro ir para a cadeia”
Um bom exemplo é o de Wang Guoqiang, ex-secretário do Partido Comunista Chinês na cidade de Fengcheng, província de Liaoning, que se arrependeu-se em 22 de dezembro do ano passado. Wang fugiu para os Estados Unidos e viveu lá por cerca de três anos depois de desviar milhões de dólares na China. Depois de seu regresso à China, ele deu depoimentos sobre como foi difícil.
“Minha vida foi um pesadelo”, disse Wang, em sua confissão. Ele disse que, nos EUA, ele e sua esposa viviam com medo de se identificarem e, por isso, não usavam seus passaportes chineses sob nenhuma circunstância: eles não iam para o hospital quando estavam doente, e evitavam até mesmo pegar ônibus.
Wang disse que quase morreu devido a um ataque cardíaco. Ele não se consultou com um médico, porque ele não queria usar o passaporte.
“Eu prefiro morrer de doença a expor minha identidade. Que miséria!”. Wang é mostrado dizendo isso.
Eles nem mesmo entraram em contato com amigos ou familiares, inclusive sua única filha. “Se eu tiver que escolher entre ser preso ou fugir para os EUA, eu prefiro ir para a cadeia”, disse Wang.
Vivendo num porão
Para Yang Xiuzhu, ex-vice-prefeita da cidade de Wenzhou, província de Zhejiang, foi dado o dúbio epíteto “mulher top corrupta da China”. Ela foi recentemente presa pela polícia de Roterdã, nos Países Baixos. Ela fugiu da China com mais de 250 milhões de yuans (US$ 40 milhões).
Yang fugiu em 2003 e morou em Cingapura e Estados Unidos antes de se estabelecer nos Países Baixos. Em Cingapura, seus amigos extorquiram-na, declarando que eles a entregariam à policia se ela não desse dinheiro a eles. Nos Estados Unidos, foi perseguida por investigadores federais que estavam curiosos sobre a origem de seu dinheiro. Ela abandonou as cinco casas de luxo que havia comprado nos EUA, e partiu para a Europa.
Em Roterdã, ela alugou um “porão escuro” para se esconder. Ela disse mais tarde que, vivia com medo e chorando de desespero. Ela está agora sendo repatriada, disse a mídia Xinhua.
Trabalhar para uma funerária
Zuo Tianzhu, o ex-diretor do Departamento de Terras da Cidade de Changsha, Província de Hunan, fugiu para os Estados Unidos com alguns milhões de yuans (entre centenas de milhares e um milhão de dólares) em dinheiro obtido via corrupção. Mas o dinheiro logo acabou, sua amante o abandonou, e ele teve muita dificuldade para encontrar um trabalho razoável, noticiou a mídia Xinhua. Uma testemunha anônima disse ter visto Zuo trabalhando em uma casa funerária, transportando cadáveres, de acordo com Xinhua.
Cirurgia plástica
Xinhua também mostrou um caso mais antigo em seu catálogo de fugitivos que falharam: Chen Manxiong, o gerente geral de uma empresa de desenvolvimento industrial na cidade de Zhongshan, na Província de Cantão, que fugiu para a Tailândia em 1995 com sua esposa depois de ter desviado fundos públicos no valor de mais de 420 milhões de yuans (68.000 mil dólares).
Chen comprou uma identidade falsa na Tailândia, mudou seu nome para um nome tailandês, branqueou sua pele e até mudou o rosto com cirurgia plástica reconstrutiva.
Mas no final, ele foi descoberto pela polícia da Tailândia e mandado de volta para a China, onde foi sentenciado a prisão perpétua.