Fuligem e nevoeiro de poluição ameaçam os bebês na China

11/05/2014 12:40 Atualizado: 11/05/2014 12:40

Usinas a carvão que expelem fumaça na China e o denso tráfego rodoviário podem ser sinais de uma economia movimentada, mas especialistas em saúde temem que o ar poluído do país esteja prejudicando seus bebês.

Há evidências de que as emissões da queima de carvão e de automóveis na China, assim como em outros países em desenvolvimento, aumentem os riscos de bebês prematuros e com baixo peso e defeitos do tubo neural.

“Suas cidades estão em grandes apuros e da mesma forma seus bebês”, disse Richard Finnell, professor da Universidade do Texas–Austin, que tem estudado defeitos congênitos no Norte da China.

Estimulada por ganhos econômicos frenéticos, uma espessa camada de fuligem frequentemente paira sobre as cidades da China. Sua poluição de partículas finas é “a pior do mundo”, diz Angel Hsu, uma gerente de projetos do programa de Avaliação de Desempenho Ambiental da Universidade de Yale. As pessoas na China estão expostas aos níveis mais altos do mundo de partículas finas conhecidas como PM2.5, segundo o ranking da Yale. A Índia está logo atrás.

Os cientistas dizem que o perigo começa no útero. Num estudo publicado em fevereiro, as partículas finas foram associadas a mais bebês de peso baixo em 22 países em desenvolvimento, incluindo China, Índia, Nigéria, Nepal e Peru. Na China, nascimentos prematuros também estavam relacionados ao poluente, disse a autora do estudo, Nancy Fleischer, professora da Universidade da Carolina do Sul.

O baixo peso no nascimento foi duas vezes mais frequentes e as chances de partos prematuros foram 2,5 vezes maiores em bebês na China onde a poluição de PM2.5 era maior, em comparação com as áreas onde o nível deste poluente satisfazia os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo o estudo. Cerca de 7% dos bebês da China nascem prematuros, enquanto 6% são classificados com baixo peso, ou menos de 2,5 quilogramas.

Os bebês prematuros, nascidos antes de 37 semanas de gestação, são a principal causa de mortes de recém-nascidos em todo o mundo. Estas crianças têm frequentemente uma vida inteira de deficiências físicas e de desenvolvimento, disse Tracey Woodruff, professora da Universidade da Califórnia, que estuda os efeitos de contaminantes ambientais em bebês.

Especialistas dizem que os poluentes do ar podem desencadear uma resposta imune nas mães, que produz anticorpos que reduzem a quantidade de ácido fólico que viaja através da placenta até o feto. A deficiência de ácido fólico pode levar a defeitos congênitos.

“Observamos as placentas de bebês que tiveram maus resultados e as comparamos com as de bebês com bons resultados e as placentas de bebês com maus resultados têm muito mais anticorpos”, disse Finnell.

Os defeitos congênitos aumentaram cerca de 70% na China nas últimas duas décadas, atingindo agora cerca de 900 mil casos por ano, segundo o Ministério da Saúde do país. Há provavelmente muitos fatores envolvidos. Mas as diferenças regionais sugerem que os poluentes estejam contribuindo: as taxas de defeitos de nascimento mais que duplicaram em áreas urbanas em comparação com 22% de aumento nas áreas rurais.

A província de Shanxi na China “produz grande quantidade de carvão, processa grandes volumes de aço e tem a maior taxa mundial de defeitos do tubo neural”, disse Finnell.

Defeitos do tubo neural, que são distúrbios cerebrais e medulares graves, como a espinha bífida, saltaram para 13 em cada mil nascimentos na província há uma década. Isto é 13 vezes mais elevado do que a taxa nos Estados Unidos.

Obesidade e diabetes materna são gatilhos conhecidos para defeitos do tubo neural, disse Finnell, mas “a poluição de carvão também pode desempenhar um papel”.

No mesmo ano do pico de produção (em 2003), Shanxi produziu 300 milhões de toneladas de carvão e teve a maior emissão de hidrocarboneto aromáticos policíclicos (HAP) na China, principalmente devido à queima de carvão. O HAP é formado pela combustão incompleta de combustíveis fósseis.

Num estudo com 130 mulheres no interior rural de Shanxi, aquelas com níveis elevados de HAP em suas placentas tiveram quatro vezes ou mais chances de ter bebês com defeitos do tubo neural, segundo um estudo de 2011 conduzido por pesquisadores da Universidade de Pequim, no qual Finnell participou. Um estudo menor relatou que o risco era oito vezes maior.

Ficar dentro de casa não necessariamente protege o nascituro: a poluição em ambientes fechados é muitas vezes pior. Estima-se que 3 milhões de pessoas em países em desenvolvimento cozinhem dentro de casa e aqueçam sua casa com carvão, querosene, biomassa ou outros combustíveis sujos. Mulheres e crianças estão mais expostas.

Quando mulheres grávidas são expostas a uma série de produtos químicos, é difícil descobrir qual deles possa estar causando problemas para seus bebês, disse Amy Padula, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade de Stanford, que estudou defeitos congênitos e poluição do ar.

“Sabemos que um dos períodos mais críticos para defeitos de nascimento é o início da gravidez, durante o rápido desenvolvimento fetal”, disse Padula. “É difícil destacar de quem é a culpa quando sabemos até certo ponto que todos são ruins.”

Em Shanghai, nascimentos prematuros têm sido associados a diversos poluentes: como as partículas maiores conhecidas como PM10, dióxido de enxofre, óxido de nitrogênio e ozônio.

Porque PM2.5 é uma mistura de muitos contaminantes diferentes, Woodruff disse que não está claro quais possam estar associados ao menor peso no nascimento. “Os pesquisadores analisaram diferentes componentes, nós olhamos diferentes geografias, e ninguém encontrou a resposta final”, disse ela. “Simplesmente não sabemos.”

Woodruff disse que partículas PM2.5 podem aderir à placenta e alterar o desenvolvimento da mesma, o que impediria que o feto obtivesse oxigênio e nutrientes suficientes. Poluentes também podem alterar os hormônios e interromper o fluxo de sangue na placenta, disse Fleischer.

Poluentes do ar da China vêm principalmente de veículos e da queima de biomassa e carvão, disse Hsu. “85% da eletricidade na China é baseada em carvão”, acrescentou ela.

Recentemente, após protestos de cidadãos, um relatório do governo declarou uma “guerra contra a poluição”, comprometendo-se a desativar 50 mil pequenos fornos de carvão e retirar 6 milhões de veículos antigos das estradas.

Há alguma evidência de que estes esforços estão funcionando. Oito metais tóxicos de usinas de carvão, incluindo mercúrio, têm diminuído desde 2006. Além disso, após uma usina de carvão fechar no condado de Tongliang, no Sudoeste da China, há uma década, as crianças locais tiveram menos sinais de exposição e danos de DNA, e tiveram melhor desempenho em testes de desenvolvimento.

Hsu disse que o acesso do público à informação de qualidade do ar continua sendo um problema. “A maior parte da monitorização da poluição atmosférica é feita pela Europa Ocidental e pelos Estados Unidos”, disse Hsu. “Precisamos de melhores dados locais, porque é onde as pessoas estão respirando a poluição.”

Este artigo foi originalmente publicado por Brian Bienkowski, contribuidor da EnvironmentalHeathNews.org. Visite o website original para mais informações.