Fraude expõe indústria clandestina de órgãos na China

27/04/2011 00:00 Atualizado: 27/04/2011 00:00

Protesto ocorrido em Taiwan contra a perseguição aos praticantes de Falun Gong na China através da encenação do transplante ilegal de órgãos que tem como principais vítimas, os próprios praticantes na China continental. (The Epoch Times)

Segundo testemunha, documentos são fabricados para falsificar a relação entre doador e comprador, “legalizando” assim o transplante

Para encontrar clientes, Cai Shaohua rondava as unidades de diálise do maior hospital de Pequim. Comerciante de rins do mercado de transplantes do “Oeste Selvagem” da China, seu trabalho consistia em encontrar o comprador, enquanto outro preparava os doadores. Se o doador passasse no exame físico, Cai então falsificava os documentos por 400 yuanes (61 dólares americanos).

Cai explicou à revista chinesa Life Week, que os compradores pagam entre 110 mil e 120 mil yuanes (16.858 a 18.390 dólares) por um rim. Ele, o outro comerciante e o doador recebem cada um cerca de um terço do pagamento.

Embora Cai não ronde mais os hospitais, ele está sendo acusado de comércio ilegal pelo tribunal do Distrito de Haidian em Pequim. Há comerciantes de órgãos em cada hospital de transplantes em Pequim, disse ele. Já não é mais segredo. “Cada comerciante tem seu circuito, e não tem permissão para negociar em nenhuma outra parte. Porém, muitas vezes compartilham informações e recursos entre eles.”

A história de Cai é uma amostra da inescrupulosa indústria de órgãos na China, onde os envolvidos obtêm enormes lucros falsificando documentos e sequestrando doadores involuntários.

Segundo o “Regulamento para Transplantes de Órgãos Humanos” da China, as únicas pessoas autorizadas a doar órgãos são o cônjuge e certos parentes próximos. O trabalho de Cai era falsificar uma relação que não existia realmente.

A grande escassez de órgãos legítimos na China significa que o comércio ilegal é forte. Evidências apontadas em dois estudos independentes sugerem que desde 2000, praticantes do Falun Gong, milhões dos quais estão encarcerados em prisões chinesas e em campos de trabalhos forçados, foram executados especificamente para fins de extração de órgãos. Os estudos calculam que no mínimo entre 40 mil e 65 mil transplantes de órgãos na China são oriundos desta fonte.

Rim perdido

Hu Jie é um homem de 26 anos de idade que acordou sem o rim esquerdo. Sua história foi amplamente divulgada pela mídia chinesa.

Originário de Hunan e trabalhando em Guangdong, Hu havia perdido 24 mil yuanes (3.678 dólares) no jogo, e seus credores exigiram o pagamento em dois meses. Quando viu um anúncio na Internet oferecendo considerável recompensa pela doação de um rim, decidiu entrar em contato com o comerciante. Definiram o preço em 40 mil yuanes (6.130 dólares).

Hu viajou a Shandong para encontrar-se com o comerciante, que logo o levou ao hospital para exame físico. Hu não teve de registrar-se nem mostrar identidade. O comerciante tinha acordo com o hospital e a cada dois dias trazia um cliente, dizia o artigo do Next Media de Hong Kong.

Depois de passar pelo teste físico, o comerciante levou Hu a Linfen, na província de Shanxi, para encontrar-se com o comprador de seu rim. Foi quando Hu teve calafrios ao pensar sobre o que iria fazer. Mas o comerciante disse que era tarde demais, que tinham gasto muito dinheiro nos testes físicos e no transporte, portanto não iriam embora de mãos vazias.

Em seis de janeiro, três capangas levaram Hu a um pequeno hospital na província de Shanxi, sedaram-no e retiraram seu rim.

“No dia posterior à cirurgia, eu acordei no hospital. Alguém deixou mensagem em meu celular dizendo que 27 mil yuanes (4.137 dólares) haviam sido transferidos para minha conta bancária. A mensagem também advertia que eu não devia falar”, disse Hu a Next Magazine.

As autoridades anunciaram que estavam investigando o caso de Hu, depois que a história causou agitação na mídia chinesa.