Fósforos e isqueiros foram proibidos na campanha antiterror na China

06/06/2014 13:59 Atualizado: 06/06/2014 13:59

A província de Liaoning, no Nordeste da China, lançou uma “ação especial antiterrorismo” de um ano, que começou em 1º de junho, para apertar o controle sobre a compra e venda de ingredientes utilizados em explosivos. Mas entre os itens restritos estão alguns necessários diariamente como fósforos e isqueiros.

Funcionários da segurança pública em Liaoning anunciaram que a polícia controlará estritamente a compra de fósforos, fluidos para isqueiros, gasolina, fogos de artifício e outros produtos explosivos, e que qualquer um que compre esses itens deve se registrar com seus nomes reais.

Depois de uma enxurrada de reclamações sobre a necessidade de registrar o nome de alguém para comprar fósforos ou um isqueiro, a polícia pareceu recuar. Eles disseram que documento de identidade não seria necessário para esses itens, mas que “restrições” serão estabelecidas, embora não tenham entrado em detalhes.

Muitos chineses, escrevendo na internet, ficaram descontentes com a perspectiva. “Não vai levar muito tempo até que, quando você acender um cigarro, você seja identificado como um ‘terrorista’. Eles [as autoridades] estão muito nervosos”, escreveu um blogueiro no Sina Weibo.

Regras similares foram implementadas em outros lugares na China, como a exigência de identificação para comprar gasolina ou facas de cozinha. Restrições à venda de facas de cozinha foram implementadas em 2010, durante a Exposição Mundial de Shanghai e em outros grandes eventos.

A mais recente campanha antiterrorismo foi provocada por um atentado à bomba em Urumqi, capital da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no Noroeste da China, em 22 de maio. O incidente matou 39 e feriu mais de 90 civis, e foi classificado pelas autoridades como um ataque terrorista.

A Central do Partido Comunista logo após lançou uma campanha nacional antiterrorismo, que incluiu a prisão de centenas de suspeitos. Mais de 200 pessoas foram presas em Xinjiang em 23 de maio e 1.100 suspeitos foram levados sob custódia na província de Sichuan, no Sudoeste da China, entre 23-24 de maio, segundo relatos oficiais.

Sob a campanha antiterrorismo, as autoridades de Pequim têm implantado 100 mil “oficiais de informação” e 850 mil “voluntários de segurança” para inspecionar a cidade e vigiar os bairros, a partir de 30 de maio, segundo a mídia estatal Diário Jovem da China.

Sua missão é relatar imediatamente à polícia qualquer indivíduo suspeito ou “incidente que possa criar desordem social”. O governo local de Pequim tem chamado a campanha de “sistema de inteligência de manutenção da estabilidade e anticorrupção social”. Cada pista valiosa ou fragmento de informação é elegível para recompensa em dinheiro que varia de 2 yuanes até mais de 40 mil yuanes (de 32 centavos a 6,4 mil dólares), dependendo da importância.

Perspicazes e sempre suspeitos, os chineses observaram que o movimento cheira como as campanhas de mobilização de massa que foram instigadas por Mao Tsé-Tung durante a Grande Revolução Cultural. Nesses anos de 1960 e 1970, civis eram obrigados a expor e criticar as pessoas que apresentassem um padrão de pensamento ou comportamento politicamente inadequado – um padrão de avaliação vago e em constante mudança que levou a perseguição de inocentes, frequentes injustiças e inúmeras mortes.

“O governo central é o maior beneficiário dessas campanhas”, disse Chen Pokong, um analista político baseado em Nova York, referindo-se a uma campanha anterior do tipo numa entrevista à Radio Free Asia, em 2013. “Eles estimulam as contradições, lutas e conflitos [resultante de suas políticas] entre as pessoas. Isso também permite que as autoridades bandidas e do mais baixo nível violem deliberadamente os direitos dos cidadãos para demonstrar o poder do Império Vermelho.”