Um fornecedor chinês para a gigante coreana da eletrônica Samsung emprega crianças para fabricar seus produtos, agride trabalhadores fisicamente e pune funcionários que cometem erros, forçando-os a permanecerem de pé por um dia inteiro ou a escreverem relatórios de “autocrítica”, segundo um grupo de defesa do trabalho.
HEG Electronics, uma empresa que monta dispositivos como leitores de DVD e telefones para a Samsung, usa crianças menores de 16 anos em sua fábrica em Huizhou, além de forçar empregados a trabalharem longas horas e sujeitá-los a condições adversas, disse a organização China Labor Watch (CLW) sediada em Nova York.
“Nossos investigadores trabalharam na fábrica durante os meses de junho e julho e identificaram sete crianças trabalhando, todas menores de 16 anos, no departamento em que os investigadores trabalharam”, disse o grupo num relatório publicado na terça-feira.
O grupo disse que o elevado número de crianças trabalhando nas proximidades dos pesquisadores “sugere que o trabalho infantil é uma prática comum na fábrica” e atualmente se desconhece quantas crianças trabalham na fábrica. No entanto, estima-se que possa haver entre 50 e 100 crianças trabalhando lá. “A empresa claramente violou as leis trabalhistas chinesas”, destacou o relatório.
Crianças trabalhadoras fora da fábrica em fotografias tiradas secretamente pelo CLW. O sinal acima da entrada diz, “Celebre com entusiasmo a abertura de uma nova fábrica da HEG Electronics (Huizhou) Ltd. Co.” (China Labor Watch)
Trabalhadores infantis também estão sujeitos às condições da fábrica, que o relatório descreveu como severas, e só recebem 70% do que trabalhadores adultos ganham. Trabalhadores infantis também foram frequentemente empregados para realizar tarefas perigosas e em alguns casos foram feridos.
O relatório é baseado em informações de pesquisadores que trabalharam à paisana na fábrica da HEG, onde funcionários trabalham entre 11 e 13 horas por dia, seis dias por semana. Cada funcionário tem uma pausa de apenas 40 minutos para almoço e 30 minutos para jantar ou uma pausa semelhante dependendo do turno de trabalho.
“Trabalhadores geralmente reclamam que o intervalo para refeição é muito curto e que a refeição é insuficiente, devido às longas jornadas. Eles sempre sentem muita fome durante o trabalho”, disse o relatório.
A fábrica diz que tem “uma semana de cinco dias de trabalho” e “uma jornada diária de oito horas”, mas a organização trabalhista disse que isso está longe da realidade. Pedir licença do trabalho não é permitido e às vezes os funcionários são forçados a trabalhar mesmo doentes.
Trabalhadores também são multados por qualquer defeito encontrado nos produtos que fabricam, segundo o relatório, e gerentes agrediram trabalhadores fisicamente e forçaram-nos a permanecer de pé o dia inteiro ou a “escrever autocrítica” como forma de punição. Cada vez que um trabalhador relata um defeito, eles recebem uma multa 31,70 dólares.
Os salários dos trabalhadores são essencialmente desviados pela empresa através de suas regras e regulamentos rigorosos, disse o relatório. Por exemplo, em maio de 2010, estagiários foram pagos abaixo do salário mínimo estabelecido por lei na China, recebendo 119,40 dólares por mês, enquanto o salário mínimo era 148,40 dólares por mês.
“Qualquer descuido, como movimentos lentos, operação irregular ou atraso na realização das ordens dos líderes de equipe podem provocar gritaria dos chefes de equipe a qualquer momento”, disse a organização.
A administração da HEG tem a atitude “que eles passaram pelo mesmo processo antes de chegarem a suas posições atuais e que quando erros são cometidos, deve-se aceitar uma punição naturalmente”, acrescentou o relatório.
A Samsung negou num comunicado que práticas de trabalho pobres prevalecessem na fábrica da HEG.
“A Samsung Electronics realizou duas inspeções distintas no local sobre as condições de trabalho na HEG este ano, mas não encontrou irregularidades nessas ocasiões”, disse a declaração, obtida pelo website de negócios de tecnologia ZDNet. “Considerando o relatório, realizaremos outra pesquisa de campo o mais cedo possível para garantir que nossas inspeções anteriores foram baseadas em informações completas e tomaremos medidas adequadas para corrigir eventuais problemas que possam surgir.”
Anteriormente, o CLW investigou a Foxconn, a fabricante do iPad e do iPhone da Apple, revelando condições de trabalho deploráveis que levaram numerosos trabalhadores a cometerem suicídio. A Apple teve de permitir que a Associação do Trabalho Justo investigasse as práticas trabalhistas da Foxconn, identificando problemas nas condições de trabalho, incluindo baixos salários e horas extras forçadas.