Não há doações voluntárias de órgãos na cidade de Nanjing
A cada ano 1,5 milhões de pessoas na China necessitam de um transplante de órgãos, porém ninguém quer doar. Isto foi demonstrado num estudo recente publicado pelo Yangtse Evening Post. Depois de um ano, um programa piloto de doação de órgãos na cidade de Nanjing encontrou zero voluntários.
Em 24 de fevereiro, um trecho do Post dizia que Nanjing foi uma das dez cidades selecionadas para o teste piloto de 2010, porque sua população de 6,3 milhões está crescendo rapidamente. Não só não houve doadores no ano passado, mas nos últimos 20 anos, houve apenas três doações voluntárias, de acordo com o artigo.
O Beijing Evening News também informou em agosto de 2009: “Segundo estatísticas incompletas, desde a primeira doação de órgãos em 2003, houve apenas 131 doações de órgãos de pessoas que morreram entre 2003 e maio de 2009.”
Principais obstáculos
O Yangtse Evening Post enumera vários exemplos para indicar que os principais obstáculos à doação de órgãos se devem aos costumes tradicionais chineses e a mentalidade chinesa.
Um exemplo é um trabalhador imigrante que faleceu em outubro passado de uma hemorragia cerebral. Os órgãos do homem estavam em boas condições, porém ele não havia dado seu consentimento para doar, e a família não estava disponível no momento para consentir.
Especialistas da Cruz Vermelha na província de Jiangsu disseram ao Yangtze Evening News que no modelo norte-americano, ao solicitar-se uma licença de condução, uma pessoa pode indicar o consentimento de doar o corpo em caso de morte súbita. Mas os costumes culturais chineses fazem com que não estejam dispostos a doar nenhuma parte de seu corpo. Os acidentes automobilísticos são especialmente tabu: fazer perguntas sobre doação de órgãos antes de conseguir uma carteira de motorista é considerado má sorte.
Outro exemplo abordado no relatório era uma camponesa da região de Yangzhou que ficou doente e estava disposta a doar seus órgãos. Mas seus pais se opuseram firmemente e levaram seu corpo de volta à sua cidade natal.
Fonte de órgãos
De acordo com Chen Shi, diretor da Sociedade de Transplantes da Associação Médica Chinesa, no final de 2005, a China realizou mais de 74 mil transplantes de rim, mais de 10 mil transplantes de fígado, e mais de 4 mil transplantes de coração.
No entanto, números ainda maiores estão embaralhados. Zheng Shusen, presidente do Primeiro Hospital Afiliado da Faculdade de Medicina da Universidade de Zhejiang e membro da Academia Chinesa de Engenharia, disse em setembro de 2008 numa conferência: “Já houve 140 mil receptores de fígado que podem continuar com suas vidas por terem recebido um transplante hepático, com um aumento de 10 mil a cada ano.”
As autoridades chinesas têm contado histórias diferentes sobre a proveniência dos órgãos. Há 30 anos, os médicos chineses declararam nas Nações Unidas que as autoridades do regime extraíam os órgãos de prisioneiros executados. O Ministério Chinês das Relações Exteriores negou esta afirmação.
Em julho de 2005, o vice-ministro do Ministério da Saúde chinês, Huang Jiefu, admitiu pela primeira vez na Conferência Mundial que a maioria dos fígados transplantados na China vem dos prisioneiros executados.
Segundo a Anistia Internacional, pelo menos 1.718 pessoas foram executadas na China em 2008, um número muito menor que o número de transplantes de órgãos.
Explicações ainda mais apavorantes têm vindo à tona. Em meados de 2006, uma investigação conduzida pelo ex-parlamentar canadense David Kilgour e pelo advogado de direitos humanos David Matas chegou à conclusão de que a maioria dos transplantes de órgãos na China provinha da extração forçada de órgãos de prisioneiros da consciência do Falun Gong. Se for verdade, as acusações seriam “uma nova forma de mal nunca antes vista neste planeta”, disseram eles.
Em sua investigação assinalam que a fonte dos órgãos para 41.500 transplantes no período de seis anos entre 2000 e 2005 é inexplicável com os dados oficiais, e que a única explicação possível é que os órgãos foram extraídos de praticantes do Falun Gong.
A ONU pediu às autoridades chinesas que respondam as alegações, porém nenhuma resposta substancial foi recebida até o momento.