A flexibilização quantitativa na China vai além da economia

05/05/2015 20:00 Atualizado: 05/05/2015 20:02

James Nolt conhece intimamente a economia da China. Durante anos, James desenvolveu um senso apurado da interação entre economia e política na economia chinesa, centralmente planificada.

Agora, o senso de James diz que, provavelmente, a “flexibilização quantitativa” na China vai além da economia, é uma luta pelo poder e por controle.

Quantitative easing (QE), ou flexibilização quantitativa, é a emissão de significativa quantidade de dinheiro por um banco central. O dinheiro é usado para comprar títulos (dívidas)”.

Epoch Times: Sr. Nolt, por que a China está pensando em fazer QE (flexibilização quantitativa) usando as dívidas do governo local?

James Nolt: Na China, há uma disputa entre os governos locais e o governo central. Os governos locais dependem da bolha imobiliária para poderem se financiar. Eles obtêm suas receitas principalmente de empreendimentos imobiliários.

Na China, há um imposto sobre transações no mercado imobiliário, não um imposto sobre a propriedade. Os governos locais dependem das transações imobiliárias para obter dinheiro. Então, com a desaceleração da economia, eles estão tendo problemas de caixa. No entanto, eles querem manter o desenvolvimento e, assim, continuam a fazer e a acumular dívidas.

Epoch Times: Que tipo de desenvolvimento os governos locais estão fazendo?

Sr. Nolt: Eles participam dos projetos, geralmente com investidores privados. Eles podem, por exemplo, financiar a rede de esgoto e de eletricidade, desapropriar e limpar os terrenos e indenizar os donos dos terrenos.

Epoch Times: Por que isso é um problema para o governo central?

Sr. Nolt: Porque, do ponto de vista do governo central, isso está fora de seu controle. O governo central vem tentando administrar a bolha de crédito que ocorre na China. Há excesso de construções, porque isso permite aos governos locais manter o desenvolvimento, porque o imposto sobre as transações imobiliárias permite isso.

Eles podem favorecer seus amigos e comparsas locais oferecendo preços muito baixos e concedendo contratos de empreendimentos. Porque os projetos são todos locais e o financiamento feito por meio de agências bancárias locais, isso dá muita autonomia aos governos locais. As agências dos bancos nacionais estão mais sob a influência local do que sob a influência do governo central.

As autoridades dos governos locais mantêm relações próximas com as pessoas que trabalharam com que elas a décadas. O governo central quer ter uma alça para segurar a expansão do crédito nos governos locais. A QE (flexibilização quantitativa ) dá ao governo central uma alavanca para seletivamente estimular ou aprovar as políticas de governos locais específicos. À medida que mais desse crédito está sendo comprado pelo governo central [no âmbito do programa QE], isso dá a ele muito mais poder de influência. Isso é uma das coisas que está em jogo agora.

Epoch Times: Quais serão as consequências disso?

Sr. Nolt: Pode resultar em ainda mais facilidade de crédito e, por isso, estimular ainda mais a bolha de ativos especulativos. Pode dar nova vida ao mercado imobiliário se novo crédito for suficientemente criado. Eu não acho que é tão bom quanto possa parecer.

O governo central oferece menos crédito do que as autoridades locais. O mercado imobiliário é o motor do sucesso e das receitas dos governos locais. Os governos locais estão tentando fazer que boom imobiliário vá bem do que deveria ir. Em poucas palavras: o governo local está no negócio de desenvolvimento imobiliário.

Epoch Times: Quem ganha e quem perde?

Sr. Nolt: Não se trata de mudar o montante da dívida, mas, em vez disso, ter o controle sobre sua emissão. As autoridades locais estão realmente alinhadas com o regime chinês? Estão seguindo a cartilha de Pequim? Em alguns locais, o crédito vai se expandir, em alguns vai se contrair. Algumas pessoas vão usar o crédito para financiar a especulação com ações na bolsa de valores.

O governo central não controla os detalhes da implementação da flexibilização quantitativa, que fica a cargo dos funcionários e banqueiros locais. Os fundos podem acabar nas mãos dos banqueiros, desenvolvedores. Eles podem fazer todos os tipos de coisas.