Quando tinha apenas 17 anos, Pang Jin foi forçada a amadurecer rapidamente, depois que sua mãe foi largada na porta de casa com as partes internas das coxas, pernas e costas cobertas de hematomas pretos, adquiridos depois de suportar 11 dias de tortura na delegacia de polícia de Xingbu, província de Shandong, China.
A mãe de Pang, Cao Junping, foi presa e levada para a delegacia por praticar exercícios do Falun Gong em praça pública. Ela foi capturada no local onde praticava os exercícios, o mesmo local que ela costumava ir todos os dias de manhã por quatro anos antes do início da repressão e perseguição do regime chinês ao Falun Gong.
Cao foi liberada após sua família pagar 2 mil yuanes (300 dólares), e depois de forçarem-na a prometer não mais praticar o Falun Gong, um acordo que mais tarde foi desfeito publicamente.
Cao sabia o que aconteceria se ela praticasse o Falun Gong em público. Muitos praticantes já haviam sido presos e torturados por protestos silenciosos semelhantes, explicou Pang.
Isto ocorreu em 2001, quando a perseguição ao Falun Gong, ordenada pela liderança do Partido Comunista Chinês (PCCh) já acontecia à dois anos. Centenas de praticantes já haviam sido torturados até a morte pelas autoridades chinesas. Algumas destas mortes tinham ocorrido exatamente em Xingbu.
O Falun Gong é uma prática espiritual que ensina verdade, compaixão e tolerância, e possui um conjunto de exercícios suaves e de meditação. Após sua introdução no nordeste da China pelo Sr. Li Hongzhi, a prática espalhou-se rapidamente, porque segundo os praticantes, era de graça, seus ensinamentos morais melhoravam a vida, trazendo profundos benefícios para a saúde e era baseada na cultura tradicional chinesa.
Sua popularidade perturbou o então líder chinês Jiang Zemin, que declarou a prática ilegal em 1999. De acordo com o Centro de Informações do Falun Dafa (FDIC), um escritório de imprensa oficial sobre questões do Falun Gong, Jiang lançou uma campanha nos moldes de Mao para “erradicar” o Falun Gong no prazo de três meses. Com o intuito de aterrorizar um número estimado de 100 milhões de praticantes através da submissão, Zemin disse às forças de segurança que “nenhuma medida é excessiva”.
Pensar nos outros primeiro
Quando a mãe de Pang foi abandonada em casa, sua filha encontrava-se cheia de raiva e ódio por aqueles que a torturaram e quis revidar.
Sua mãe advertiu sua forte emoção, dizendo-lhe: “Filha, somos praticantes do Falun Gong. Nós não temos ódio. Nós não temos raiva. Nós só tratamos bem as pessoas, não importa o que façam, até porque elas também sofreram lavagem cerebral. Estas pessoas estão enganadas, e quando souberem a verdade elas vão se arrepender destes crimes.”
Pang recorda que ao ouvir estas palavras, metade de sua raiva desapareceu. A outra metade se transformou em determinação para dizer às pessoas o que tinha acontecido com sua mãe, para que outros pudessem compreender a verdade sobre a perseguição.
Na tentativa de justificar a perseguição ao povo chinês, o PCCh inventou histórias caluniosas sobre o Falun Gong e usou sua máquina de propaganda estatal para inundar todos os canais de mídia com falsas acusações incessantemente. A partir desta lavagem cerebral, misturada com o terror que já existia no povo chinês devido a outras campanhas políticas de feições características, muitos colaboraram com a perseguição.
Pang, que estava fazendo faculdade na época em uma cidade próxima, lembra como costumava ouvir “más notícias” todo mês, quando voltava para visitar a família.
Todo mundo conhecia alguém que tinha sido afetado pela perseguição. Na época da repressão, cerca de 1 em cada 10 chineses praticavam, e todos os vizinhos e membros da família tinham histórias. Pang disse que ouviu falar sobre vários praticantes que tinham sido espancados até a morte, casas que haviam sido confiscadas, e um funeral que foi cancelado à força, com praticantes sendo detidos enquanto participavam do funeral.
“Às vezes eu não suportava [ouvir]. Eu me recusei a aceitar isto, e não podia suportar”, disse Pang.
E mais uma vez sua mãe a aconselhou, “estas pessoas estão sofrendo com seus corpos, com suas vidas, e você não pode suportar com seus olhos e ouvidos?”
Pang disse que aprendeu a lidar com as dificuldades e começou a contar a seus colegas de quarto e amigos da escola sobre a história de sua mãe.
Ela já havia sido interrogada na escola antes, então ela era cautelosa. Na sua primeira escolha de faculdade, ela foi expulsa quando se recusou a desistir da prática do Falun Gong.
Mais más notícias
Em 2007, Pang obteve um visto para estudar na Universidade de Missouri, EUA, e se matriculou num programa de MBA.
Nos seis meses antes das Olimpíadas de Pequim em 2008, a FDIC recebeu relatórios de mais de 8.000 detenções de praticantes do Falun Gong. Alguns praticantes foram mortos em questão de dias ou semanas após terem sido detidos, enquanto que outras centenas de praticantes foram arbitrariamente presos e sentenciados a longas penas.
A mãe e a tia de Pang estavam entre os detidos. Depois de 15 meses de detenção, as autoridades fizeram um julgamento no Tribunal de Justiça da cidade de Weifang para condenar sua mãe. O julgamento não respeitou o procedimento padrão legal. O pai de Pang felizmente viu o aviso do julgamento, mas não teve tempo suficiente para contratar um advogado. Um juiz local a sentenciou a uma pena de 10 anos, embora não existissem provas de que crime algum houvesse sido cometido. Num julgamento separado, a tia de Pang foi condenada a 9 anos.
Pang ouviu sua mãe se defender durante o rápido julgamento, no qual foi frequentemente interrompida. Testemunhas ouviram-na dizer: “Eu não fiz nada de errado e não cometi nenhum crime.”
Atualmente, Pang envia cartas para sua mãe no campo de trabalho a cada duas semanas. Ela disse que escolhe o cartão com o seu coração, e tenta encontrar uma bela imagem. Ela sabe que todas as suas palavras são monitoradas pelas autoridades, por isto ela não pode escrever muito. Ela diz para sua mãe que liga para seu pai todos os dias e que não deve se preocupar com eles, e que tome conta apenas de si mesma.
Embora o pai de Pang, Pang Xiaoqian, não seja um praticante do Falun Gong, ele foi preso na mesma noite que sua esposa, porque ajudava sua família. Como consequência, ele serviu por um mês num campo de trabalhos forçados.
Após sua libertação, o pai de Pang foi despedido do emprego de engenheiro e foi colocado sob vigilância por seis meses. Em julho de 2010, ele também foi condenado a um ano pelo crime de “abrigar um criminoso”, e por seus esforços em proteger sua mulher de sofrer abuso. As autoridades permitiram que Xiaoqian trocasse sua pena por dois anos em liberdade condicional.
Recentemente, Xiaoqian foi forçado a desistir de outro emprego como engenheiro numa empresa estrangeira, após pedir um visto para participar de uma conferência no exterior relacionada com seu trabalho.
Em 2008, a casa da família foi saqueada e roubada duas vezes pela polícia e o carro da família foi confiscado ilegalmente. A família de Pang estima que suas perdas sejam de 80 mil dólares em propriedades e que eles não possuem meios de reaver suas perdas.
Trabalhando pelo resgate
Uma semana após a prisão de seus pais, Pang coletou sozinha 4 mil assinaturas na Universidade do Estado de Missouri.
“As pessoas não podem imaginar como é brutal a perseguição na China. Quando as pessoas apenas ouvem sobre isto, ainda assim elas não podem sentir, mas quando ouvem a minha história, elas podem sentir”, explicou Pang.
Durante um período de algumas semanas, ela foi para cidades vizinhas no Kansas e em Illinois para coletar assinaturas e em seguida ela levou as assinaturas para diferentes instituições governamentais, assim como a reuniões do conselho da cidade e para a mídia. Durante as férias de primavera em 2009, ela foi para Jefferson City, e visitou 100 escritórios do governo em três dias, ganhando 18 cartas de apoio.
Depois que se graduou em seu MBA, ela decidiu se mudar para Washington, D.C., porque percebeu que existem muitas pessoas influentes lá, pessoas que podem ser capazes de ajudá-la a resgatar sua mãe.
Atualmente, Pang trabalha para o “Da Ji Yuan”, edição chinesa do Epoch Times, vendendo anúncios. Pang está feliz trabalhando para o Epoch Times, já que o jornal tem o compromisso de informar sobre a China e os abusos do PCCh relacionados aos direitos humanos. Além disto, seu trabalho lhe permite conhecer e conversar sobre sua mãe com mais pessoas.
Pang, com 26 anos, fala devagar e uniformemente sobre os abusos que sua família sofreu. Embora ela se esforce em se manter positiva, os sorrisos são claramente contidos, e a dor é evidente sob seu comportamento agradável. Hoje em dia, enquanto ela se mantém bastante ocupada, sua mãe ainda está sofrendo, ainda continua presa, e permanece dominando e preocupando a mente da filha.