Corrupção pode se estender a novo membro do Politburo
A história do suposto estupro de uma jovem e a intransigência das autoridades judiciais apesar de suas provas mostram até que ponto o dinheiro pode levar uma pessoa na China hoje. O suposto estuprador é um empresário bem relacionado e poderoso. Tão poderoso que a mídia estatal porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), o Diário do Povo, sentiu a necessidade de se envolver e declarar que as reivindicações da jovem são “boatos”. Para muitos observadores, isso é um sinal claro que mostra que a história de Tian Xiaolong é verdadeira.
Em suas palavras, o envolvimento do Diário do Povo é explicado pelo fato de que um poderoso protetor de seu suposto estuprador é um membro em ascensão no Partido Comunista, Li Zhanshu, que recentemente foi promovido para ser um assessor do novo líder chinês Xi Jinping. Essas conexões de alto nível também explicam por que os apelos por atenção da jovem feitos à polícia foram suprimidos na internet e atacados na mídia, diz ela.
Tian Xiaolong escreveu para a edição chinesa do Epoch Times em julho, com uma narrativa detalhada e referência a uma grande quantidade de provas, fotográfica, física, documental e de áudio, de sua provação. Tudo começou em 26 de dezembro de 2008, por volta das 23h, depois de uma festa de Natal, organizada por sua escola de teatro em Pequim.
Um homem chamado Zhou Shili entregou a ela seu cartão declarando que estava à procura de uma jovem para aparecer num filme que estava fazendo. Ele é o homem que mais tarde a estupraria, alega Tian Xiaolong.
Zhou Shili é membro da Conferência Consultiva Política provincial de Guizhou, um órgão consultivo em grande parte simbólico do regime do PCC; ele também é o vice-presidente da Associação Chinesa para a Promoção da Democracia de Guizhou, uma das oito organizações de fachada que se destinam a dar a aparência de um sistema multipartidário na China. Talvez mais importante, é que ele é o chefe do Grupo Qingli, um império empresarial fundado em 1999 com interesses em mineração de carvão, minério de fosfato, logística, etc.
Na noite do encontro, Zhou Shili disse que estava em seus 30 anos e era chefe de um estúdio de cinema. Na verdade, ele tinha cerca de 50, com uma família e filhos. Tian Xiaolong é uma bela e jovem aspirante à atriz.
Após o encontro inicial no final de dezembro, Tian Xiaolong reuniu-se com Zhou Shili novamente em 8 de janeiro de 2009. Ela estava num hotel em Pequim e Zhou Shili disse que dirigiria para pegá-la e levá-la ao aeroporto. Mas depois de chegar ao hotel, ele a espancou, estuprou e agrediu verbalmente, diz ela.
Tian Xiaolong foi capaz de preservar os lençóis da cama manchados de sangue que Zhou Shili queria que fossem lavados imediatamente pretendendo querer levá-los como uma “lembrança”. Ela disse que fugiu quando ele caiu no sono naquela noite. Antes de dormir, Zhou Shili filmou-a quando ainda estava nua e disse, “Se você denunciar à polícia, colocarei o vídeo online e você morrerá sem nem mesmo saber como morreu”, segundo Tian Xiaolong.
Assim que Tian Xiaolong foi a público com suas alegações, a resposta da mídia social foi rápida. Suas mensagens foram enviadas e comentadas amplamente, atraindo a atenção de grandes empresas de mídia, como a emissora Phoenix TV, sediada em Hong Kong, mas associada a Pequim. Numa entrevista com a Phoenix TV, Zhou Shili reconheceu a relação sexual, mas disse que o sangue nos lençóis não comprova o estupro.
Ele fez uma declaração, “Quando a conheci, eu disse que era solteiro; isso não foi correto. Lamento a organização [do PCC] que me nutriu.”
Tian Xiaolong diz ter provas de áudio em que Zhou Shili admite o estupro em múltiplas conversas telefônicas que ele não sabia que estava sendo gravado. Ele fez repetidas solicitações nas quais ofereceu a ela uma resolução em dinheiro para a questão e se gabava de como pagava oficiais em jogos de cartas.
Mas Tian Xiaolong quer justiça. Ela apresentou sua prova, incluindo os lençóis ensanguentados e as gravações de áudio, à polícia. Em 2009, a Secretaria de Segurança Pública de Guizhou confirmou que o DNA de Zhou Shili estava presente e disse que abriu um processo, mas nada mais aconteceu, segundo reportagem da Phoenix. O artigo foi posteriormente excluído da internet.
O pai de Tian Xiaolong, que na época era vice-prefeito de uma cidade de quase 3 milhões chamada Liupanshui na província de Guizhou, e sua mãe, que costumava trabalhar no Ministério da Segurança do Estado, a agência de inteligência estrangeira do PCC, foram obrigados a ficarem em silêncio para “salvar a imagem de Guizhou”, por causa do barulho que a filha fez sobre o caso. Sua mãe foi afastada do trabalho e Tian Xiaolong eventualmente abandonou a escola por causa da pressão das autoridades.
Refletindo sobre o caso em outra entrevista da Phoenix em 7 de julho, Tian Fangchang, o pai de Tian Xiaolong, que também costumava ser um oficial da “manutenção da estabilidade”, ou seja, que estava envolvido em reprimir protestos e deter dissidentes, disse que nunca esperava que um dia se tornasse um dos “elementos de instabilidade”.
Seu pai também anunciou numa entrevista no Yangcheng Evening News no dia seguinte que advertiu Tian Xiaolong sobre viajar a Pequim para apelar, porque “temia que isso prejudicasse a imagem de Guizhou”.
E em 19 de julho, segundo Tian Xiaolong, as autoridades fizeram seu pai declarar que, “Eu usarei a natureza e disciplina do Partido para garantir que no passado, agora ou no futuro, eu não vou farei nada que prejudique a imagem ou os interesses do Partido.”
Tian Xiaolong já tinha viajado a Pequim e se tornou uma dos muitos peticionários que viajam à capital buscando reparação por injustiças que oficiais locais nunca resolveram ou foram eles mesmos responsáveis.
Em 20 de julho de 2011, o Diário do Povo se meteu na questão. Um artigo identificou-a e sua família pelo nome e disse que as acusações “não eram verdadeiras”.
O artigo foi republicado amplamente em portais na internet e o “artigo flagrantemente injusto” deixou-a mal, diz ela.
A vergonha cultural de ser estuprada é imensa na China e o Diário do Povo sabia disso. Sua avó morreu logo após o artigo ser divulgado, aparentemente devido à pressão e frustração.
Tian Xiaolong foi referida por seu nome legal, Long Meiyi, ao invés do nome Tian Xiaolong que ela adotou publicamente para apelar sobre o estupro. Ela tentou processar o jornalista, mas não conseguiu encontrar um advogado que aceitasse o caso.
Apesar de o caso ser forjado, segundo o Diário do Povo, no dia seguinte, outra mídia porta-voz do PCC, a Xinhua, informou que Zhou Shili foi removido de seu posto como membro do Comitê Permanente da Conferência Consultiva Política de Guizhou. Nenhuma explicação foi dada.
Em certo momento, Tian Xiaolong tentou envolver a imprensa estrangeira em Pequim sobre sua história. “Se os estrangeiros realmente souberem do meu caso, a situação seria muito pior do que agora. A prova que tenho é extremamente forte. Como a China levantará a cabeça após isso ser exposto?”, escreveu ela num blogue criado para documentar sua tentativa de apelação as autoridades.
“Li Zhanshu, o secretário provincial do PCC em Guizhou, interviu pessoalmente para evitar que a notícia de Zhou Shili fosse reportada e investigada pela mídia”, escreveu Tian Xiaolong na mesma postagem.
Li Zhanshu ocupou um novo cargo no início deste ano, quando foi substituído por outro oficial.
Tian Xiaolong está confiante de que a evidência da suposta interferência de Li Zhanshu no caso, se exposta, seria um golpe para sua reputação política.