Faltando exatamente um mês para o início da Copa do Mundo, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, reiterou nesta segunda-feira (12) que a entidade segue apreensiva pela conclusão das obras para o mundial, que já deveriam estar prontas. “Existe a pressão para garantir que tudo esteja perfeitamente pronto”, disse Valcke em entrevista ao site da Fifa dando início à contagem regressiva para a Copa 2014, que será realizada entre 12 de junho e 13 de julho no Brasil.
“Quando você sente que a competição está chegando, vem o entusiasmo. Enquanto isso, é importante testar tudo para ter certeza de que funciona”, acrescentou. A declaração contrasta com o alerta dado por Valcke a estrangeiros na semana passada, numa coletiva para agências internacionais em Zurique, de que o ‘Brasil não é Alemanha’, afirmando que são os torcedores que sofrerão mais com os problemas de transporte e acomodação no Brasil, ainda não solucionados.
Pelo cronograma da Fifa, todos os 12 estádios da Copa 2014 deveriam estar concluídos em dezembro de 2013, para que pudessem ser integralmente testados a tempo para o grande evento. Porém, as seis arenas que tiveram que ficar de fora da Copa das Confederações de 2013 extrapolaram o prazo e três delas – de São Paulo, Curitiba e Cuiabá – permanecem inacabadas a poucas semanas do mundial.
A Arena Corinthians, prevista para receber o jogo de abertura da Copa 2014, entre Brasil e Croácia, somente realizará seu primeiro evento-teste oficial no fim de semana, a apenas três dias de ser entregue à Fifa. “Ainda temos trabalho a fazer fora do estádio e nas redondezas. É importante trabalhar com as cidades e os estados, porque são eles os responsáveis por essas áreas”, enfatizou Valcke.
O secretário-geral afirmou que os torcedores “podem esperar um grande torneio” no Brasil. As declarações desta segunda suavizaram as críticas, mesmo assim, Valcke ainda tornou a aconselhar os fãs a planejarem bem sua viagem por causa das deficiências logísticas no país e a tomarem cuidado com áreas violentas.
‘Não é Alemanha’
“Não apareçam no Brasil pensando que é a Alemanha, que é fácil se mover pelo país. Na Alemanha, você poderia dormir no carro. No Brasil, não”, afirmou Valcke durante a coletiva da semana passada. “Não há como dormir na praia, porque é inverno. Garanta sua acomodação. Não há como chegar com uma mochila e começar a andar. Não existem trens, não se pode dirigir de uma sede à outra”, alertou baixando um pouco a bola de milhares de torcedores estrangeiros que devem começar a desembarcar no Brasil nas próximas semanas. Ele se referia à prática de muitos fãs que no mundial na Alemanha, em 2006, dormiram em seus carros e barracas e tomaram trens para se locomover de uma cidade sede a outra.
“Eu sei que é difícil falar sem criar uma série de problemas. Mas minha mensagem para os torcedores é de que tenham certeza de que tenham tudo organizado quando viagem ao Brasil”, alertou o secretário-geral. “O maior desafio será para eles (torcedores). Não será para a imprensa, não será para os times e nem dirigentes. Será para os torcedores”, reforçou, se referindo às distâncias, falta de infraestrutura, altos preços, insegurança e falta de transportes.
Governo
Ainda na coletiva, Jérôme disse que foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a CBF de Ricardo Teixeira que insistiram em que as seleções deveriam percorrer todo o país em vez de competirem em apenas uma ou mais regiões durante a Copa 2014. Valcke sublinhou que a experiência da entidade no Brasil deve levar a Fifa a endurecer as exigências às futuras candidaturas para sediar o evento.
Ele admitiu que, em 2009, quando o país foi escolhido, a Fifa tinha ciência das deficiências do Brasil em infraestrutura de aeroportos, mas a projeção era de que haveria tempo suficiente para as reformas. “Sabíamos disso. Mas isso era em 2009 e podemos esperar que você tem cinco anos para um país garantir que as estruturas estejam instaladas para entregar o que havia sido acordado”, disse Valcke, que em 2007 deu consultoria à CBF nos preparativos da candidatura brasileira para sediar o megaevento.
O secretário-geral apontou ainda que a mudança de governo no Brasil no meio do processo também atrapalhou. “Encaramos uma eleição geral no Brasil e não foi fácil sair de Luiz Inácio Lula da Silva para uma nova presidente. Sempre leva algum tempo para um novo governo entrar nos assuntos e tivemos também um número elevado de mudanças de ministros”, disse. Um deles, Orlando Silva, do mesmo partido do atual ministro dos esportes, Aldo Rebelo, acabou caindo após suspeitas de corrupção.
O custo da Copa no Brasil saiu mais caro que as três últimas edições somadas – Japão, Coreia, Alemanha e África do Sul.