As FARC fracassaram muitas vezes

23/04/2014 09:30 Atualizado: 23/04/2014 09:32

Quem diz que é impossível ou “utópico” derrotar as FARC se comporta como alguém que mente sem vergonha aos colombianos, ou como um pobre de espírito que ignora o que está ocorrendo e ocorreu em seu próprio país.

As guerrilhas comunistas que a Colômbia teve que padecer desde há mais de 50 anos foram derrotadas várias vezes pelas forças da ordem. Os dispositivos mais tenebrosos montados pela subversão para escravizar a Colômbia, foram destroçados em certas datas pelas Forças Militares após ingentes sacrifícios. Alguns desses aparatos sangrentos como o M-19, o EPL, o grupo Quintín Lame, nunca puderam se repor dessas derrotas, tanto militares como políticas, e foram incapazes, até hoje, de continuar matando colombianos.

As FARC tratam de nos fazer crer que são invencíveis. Entretanto, o que ocorre hoje mesmo, no terreno militar, mostra que elas têm pés de barro e que estão à beira do colapso. A fadiga e a desmoralização de seus combatentes é evidente, porém seus chefes, acovardados na Venezuela e Cuba, querem usá-los até o último homem, a última mulher e a última criança, pois alguém lhes disse que, embora percam a guerra física, a ganharão na esfera política mediante uma mesa de negociação fraudulenta que lhes abrirá, em Havana, as portas do poder.

Essa é a situação de hoje. Quanto ao passado, os fatos estão aí para serem examinados. O artigo que segue [1], do investigador social Carlos Alberto Romero Sánchez, descreve a primeira grande derrota que as FARC tiveram em Marquetalia. Romero mostra o que a propaganda sempre quis ocultar. O enorme dispositivo bélico que o PCC (Partido Comunista Colombiano) havia montado com sangrentos bandos errantes que este (e seus sociólogos doutrinados) sempre mostraram como “bandoleiros” sem norte político, foi desmantelado definitivamente. O que emergiu depois, sob a sigla FARC, foram os restos dessa derrota.

Embora várias vezes vencidas, as FARC e o ELN levantaram a cabeça uma e outra vez durante a Guerra Fria, pois não eram um projeto colombiano, senão algo externo e alheio à Colômbia. Graças ao trabalho de sapa, infiltração e pressão constante das ditaduras de Cuba e URSS, essas frações subversivas puderam reconstruir suas redes de apoio logístico, político e diplomático. Ao caracterizar mal essa ameaça, vários governos cometeram erros enormes. Houve até chefes políticos – uns por miopia, outros por vaidades progressistas -, que colaboraram com esse projeto. A democracia é, por um tempo, fraca e imperfeita ante seus inimigos mais tenazes. A colombiana não é uma exceção, pois o terror é como o álcool: “às vezes começa com uma festa mas sempre termina em delírios”, segundo o conhecido aforismo. Isso explica esse balanço contraditório, esses êxitos e esses revezes transitórios ante os bandos totalitários.

Essas formações não são imbatíveis. Seus chefes mais protegidos perderam a vida em combates muitas vezes desesperados. Outros foram parar na cadeia ou nos refúgios que encontraram na URSS, em Cuba, na Venezuela e Equador. Durante os dois períodos do presidente Álvaro Uribe (2002-2010), o país viu que as FARC, sem diálogo político e submetidas à ação decidida do Estado, são vulneráveis.

No momento de escrever esta nota, um ex-amigo das FARC, um ex-chefe do bando terrorista IRA, Martin McGuinness, convertido desde 2007 em vice-primeiro ministro da Irlanda do Norte, vai a Bogotá com uma clara mensagem para Timochenko: decrete um cessar fogo unilateral. Unilateral, lhe diz, não bilateral, pois não vê outra saída para as FARC. É a mensagem para um movimento terrorista esgotado. McGuinness vê que as FARC sobrevivem só pelo oxigênio que receberam de umas obscuras “negociações de paz” que se converteram em um prêmio por seus assassinatos, mas que levantam, em revanche, uma onda de cólera imensa na população colombiana.

O que McGuinness não diz é que ele assinou a paz e ingressou a título simbólico no governo da Irlanda do Norte, e não para desmantelar a democracia na Grã Bretanha. As FARC, ao contrário, estimam que são mais astutas que McGuinness e que poderão assinar com o presidente Santos um remedo “de paz” para aterrissar no poder e desmantelar a democracia, como lhes exigem seus patronos de Caracas e Havana.

Nota:
[1] El Plan Lazo o de una derrota militar del PCC-FARC
(http://periodicodebate.com/index.php/nacion/politica/item/4174-las-farc-han-sido-varias-veces-derrotadas?utm_)


Eduardo Mackenzie é jornalista e escritor franco-colombiano que trabalha em Paris. É investigador associado do Institut d’Histoire Sociale (Nanterre, França)

Fonte: Mídia Sem Máscara