A arte que tem como tema a fantasia é uma das categorias mais incompreendidas do atual movimento realista. Geralmente ela é desacreditada justamente por ser tratada como ilustração, uma vez que a arte da fantasia é muitas vezes criada para novelas e livros. Porém, é fato de que a maior parte da arte realista também foi denegrida da mesma forma.
Os críticos afirmam que todo trabalho figurativo é ‘ilustrativo’, mas na verdade não se trata de uma simples ilustração ou arte da fantasia. Mesmo contando com grandes exemplos deste gênero para ilustrar livros, os artistas que fazem parte deste tipo de movimento, levam muito a sério o tema ligado à imaginação, assim como a habilidade e compreensão da técnica desta forma de pintura.
Há um grande número de artistas que optam pela fantasia para pintar temas surrealistas, e que não fazem isso somente por uma tarefa específica, como um livro por exemplo. Na verdade, fazem simplesmente por amor à criação que diz respeito a um tema que não existe no mundo real.
A ficção científica, a fantasia e o realismo mágico constituem um tipo de gênero muito importante no cinema e na literatura, por que não poderia ser o mesmo com a pintura, o desenho e a escultura?
A aceitação deste estilo imaginativo de arte como forma legítima de expressão humana amplia os temas que a humanidade pode explorar, assim como também permite ao espectador compreender as emoções do quadro mediante a habilidade do artista em utilizar as formas e imagens reconhecíveis no mundo real.
Há grupos formados que delimitam as diferenças entre a arte da fantasia, ficção científica, e o que eles chamam de realismo imaginativo. A Associação de Arte Fantástica, fundada por Patrick e Jeannie Wilshire, é um desses grupos.
“Realismo imaginativo é um termo cunhado pelo mestre da pintura James Gurney, ilustrador do famoso livro para crianças chamado Dinotopia, e é utilizado cada vez mais para prover uma clara delimitação desta escola artística”, dizem os Wilshires.
“Arte Fantástica é um termo muito amplo”, e ao mesmo tempo pode ser exclusiva, como na arte da fantasia versus a arte de ficção científica. “O Realismo imaginativo” denota de forma clara, realista e narrada, o tema criado pela imaginação. Ao mesmo tempo, demonstra grande vínculo com os realistas clássicos do passado.
O Sr. Gurney define o Realismo imaginativo como “um retrato convincente de algo que pode ser observado diretamente”. Isto nos leva a outro ponto importante: O que há de mau em uma boa ilustração?
Durante o século XIX, os melhores ilustradores da época, como Arthur Rackham, Dulac Edmund e Eleanor Fortescue Brickdale, foram reverenciados como grandes artistas.
Norman Rockwell, é o mais famoso dos ilustradores da América. Ele não teve êxito somente em sua época; hoje em dia suas obras mais importantes são avaliadas em milhões.
“Uma coisa que gostamos de dizer em nossas conferências é que não há tal coisa chamada ilustrador. Um ilustrador é um pintor que pinta para publicações de seus clientes, assim como outros pintores têm como clientes as galerias, colecionadores ou tutores”, dizem os Wilshires.
Os ilustradores realistas contemporâneos têm uma má reputação devido à negatividade associada à tal palavra. Mesmo sabendo que nem todos os ilustradores são bons, podemos dizer que os melhores são grandes artistas. Eles são iguais aos artistas de retratos, paisagistas e qualquer outra divisão de arte figurativa.
Os modernistas usavam a palavra ‘ilustração’ para denegrir toda arte figurativa, e assim começou a má reputação ligada aos ilustradores. Os modernistas chamavam as obras de John William Waterhouse, Edward Buerne-Jones e Edmund Blair Leighton de ‘ilustrações’ porque nos mostram, por meio de imagens reconhecíveis, cenas de contos famosos da época.
Na realidade, em toda obra figurativa se ilustra algo, inclusive nas pinturas religiosas do passado, se ilustram cenas da vida de Cristo e da Bíblia. A ilustração é uma forma pela qual nos comunicamos utilizando imagens realistas, e se baseia em pintar uma obra onde é possível reconhecer os pensamentos e emoções.
Atualmente há um número crescente de artistas, colecionadores e aficionados pelo realismo imaginativo baseado nas técnicas do passado mas com a imaginação de hoje em dia. Em 2012, a Associação de Arte Fantástica em coordenação com o Museu de Arte de Allentown, Pensilvânia, Estados Unidos, fez uma exposição sem precedentes: ‘A Arte da Fantasia’.
Esta exposição abrangeu toda a linha de tempo deste gênero, incluindo mais de 150 obras dos românticos e os pré-rafaelitas, através da Idade de Ouro da Ilustração até a atualidade. O espetáculo teve uma relação contínua entre estas duas organizações, e em 2013 o museu se converteu em um lugar habitual de exposição anual, a qual conta com mais de 100 quadros de artistas realistas imaginativos, incluindo vinhetas educativas sobre a pintura e o gênero.
Apesar de nas últimas décadas esta arte ter sido considerada inferior às belas artes, recentemente ela tem ganhado espaço pela grande quantidade de atrações. O dirigente da Academia Michael John Angel, uma artista de renome mundial e instrutor, apóia plenamente este movimento e tem desempenhado o papel de juiz da IlluXCon.
“Em um momento em que a grande maioria da representação de arte se concentra na vida cotidiana (gênero e retrato), é alentador ver pinturas que evocam a ideia de ação, de aventura e de viagem espiritual lembrando a arte mitológica dos séculos passados assim como o barroco”, diz Michael.
Será interessante ver como este gênero de pintura, que tem se convertido em uma parte dominante do movimento contemporâneo realista, evoluirá e se fundirá aos lugares que tradicionalmente lhe deram as costas.