Família de Gao Zhisheng recebe carta estranha pedindo-os para não visitarem

20/12/2012 21:53 Atualizado: 21/12/2012 01:47
O advogado Gao Zhisheng em seu escritório em Pequim em 2 de novembro de 2005 (Verna Yu/AFP/Getty Images)

Uma carta que seria de Gao Zhisheng, o conhecido advogado chinês de direitos humanos que está preso por defender grupos perseguidos na China, foi enviada a seus familiares recentemente, dizendo que não devem visitá-lo na remota província de Xinjiang. Mas a nota tem levantado suspeitas, com parentes convencidos de que Gao não a escreveu.

A família de Gao disse ao Epoch Times que a carta, recebida na véspera do 18º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC) em novembro, estava marcada com duas impressões digitais em cera vermelha. Ela dizia simplesmente, “Olá” para cada membro da família, e acrescentava que não o visitassem, o que os deixou mais preocupados com sua segurança. Seus irmãos disseram que o visitarão até o final do ano.

“Depois de receber esta carta, isso nos deixou mais nervosos e com suspeitas”, disse Geng He, a esposa de Gao, ao Epoch Times. “Seu irmão mais velho se sentiu desconfortável já que nunca tinha visto as impressões digitais antes e disse que eram muito incomuns.”

“No passado, eles sempre se contataram por telefone e raramente por carta.” Seu irmão nunca viu a caligrafia de Gao Zhisheng, então, não poderia dizer se a letra é realmente dele, acrescentou Geng He.

Gao foi detido várias vezes pelo PCC, mas na última detenção ele desapareceu no início de 2009. Um de seus irmãos disse que recebeu um documento no início deste ano, dizendo que Gao estaria detido em Xinjiang.

Gao renunciou ao PCC em 2005 e, depois de escrever sobre e defender casos envolvendo praticantes da disciplina de meditação perseguida do Falun Gong, foi continuamente assediado pelas forças de segurança chinesas, antes de ser detido e severamente torturado.

Em 22 de dezembro de 2006, Gao foi condenado a uma pena de prisão suspensa de três anos por supostamente “incitar a subversão do poder do Estado”. Ele e sua família foram colocados sob prisão domiciliar, antes que sua esposa e filhos fugissem da China em 2009 para residirem nos Estados Unidos.

Gao foi submetido a torturas e outros abusos dos direitos humanos durante a detenção e escreveu uma carta aberta em 2007, expondo parte da má conduta por parte de seus captores. Sun Yong, membro do Grupo Chinês de Proteção dos Direitos Humanos, disse que Gao “estaria sendo frequentemente abusado”, porque ele “compreende a natureza do Partido Comunista e, portanto, sofre mais repressão”.

Geng He, a esposa de Gao, sustenta que as autoridades comunistas chinesas têm medo que a família de Gao conte à comunidade internacional sobre sua situação se o visitarem e é por isso que a carta apareceu dizendo que Gao não queria vê-los.

Ela acrescentou que seu irmão Gao Zhiyi tem continuamente comunicado a Secretaria de Segurança Pública da cidade de Yulin, localizada na província de Shaanxi – de onde Gao é originário – que ele quer ver seu irmão na prisão. Especificamente, Gao Zhiyi disse às autoridades chinesas que o visitaria durante o período do 18º Congresso do PCC e “é por isso que as autoridades manipularam esta carta e enviaram-na para Gao Zhiyi”, impedindo-o de fazer isso, disse Geng He.

“As autoridades nunca nos permitiram ver Gao Zhisheng, estamos muito preocupados com sua segurança”, disse Gao Zhiyi ao Epoch Times.

“A [regime chinês] disse que só podemos vê-lo com um documento aprovado e emitido pela delegacia de polícia local”, disse ele, acrescentando que a família ainda tentaria visitá-lo, apesar da distância e do custo da viagem.

Repetidas recusas de visitação

Quando Bo Xilai foi deposto como chefe do Partido Comunista em Chongqing em 15 de março, a família de Gao recebeu um telefonema das autoridades naquele dia, dizendo que poderiam visitá-lo, desde que não contassem a ninguém. Gao Zhiyi e seu genro só foram autorizados a visitar Gao Zhisheng na prisão Shaya em Xinjiang por meia hora, depois de passar dois anos sem saber se ele ainda estava vivo, disse Geng He ao Epoch Times.

Mas ela disse que desde março ninguém de sua família foi capaz de ver seu marido. Ela voltou-se para as autoridades na Europa e nos Estados Unidos para colocarem pressão sobre o regime chinês para que tenha seus direitos de visita.

Em agosto, advogados da família Gao, os advogados pequineses Li Xiongbing e Li Subin, tentaram se encontrar com ele, mas foram rejeitados.

As autoridades recusaram a visitação, dizendo que Gao Zhisheng mesmo era um grande advogado e não precisa de representação legal, que a carta enviada por seu irmão Gao Zhiyi não cumpria as exigências das autoridades e que Gao realmente não queria se encontrar com sua família ou advogados – uma narrativa que a recente carta parece destinada a reforçar.

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