Como uma nação decide gastar dinheiro num momento de crise revela muito sobre o caráter de seus líderes, mas não necessariamente sobre o caráter da população em geral.
O tufão Haiyan que atingiu as Filipinas causou um desastre humanitário de ordem tão elevada que as autoridades não podem sequer determinar quantos morreram ainda. As nações têm respondido com ajuda, algumas com mais e outras com menos.
Desastres nos lembram da nossa humanidade comum, arrancando as noções e os rancores que podemos ter em relação a outra nacionalidade ou grupo étnico. Eles nos levam a estender uma mão amiga. Deixamos de lado nossas divergências, abrirmos nossos corações e estendemos tanta generosidade quanto podemos.
Para que são os vizinhos? E quando um desastre é tão grande, num mundo encurtado por viagens a jato e internet, não somos todos vizinhos?
Como bons vizinhos: o Japão enviará US$ 10 milhões, bem como tropas, navios e aviões. A Austrália está dando US$ 28 milhões. Os Estados Unidos fornecerão US$ 20 milhões e mobilizam uma operação com tropas militares e um porta-aviões.
No entanto, o maior vizinho das Filipinas, a China – duas horas de voo de distância – se comprometeu com apenas US$ 1,6 milhão em dinheiro e materiais, esse valor foi revisado para cima apenas na quinta-feira passada, a partir de sua mirrada promessa inicial de US$ 200 mil, depois de crítica generalizada.
Aqui está o que algumas nações cujas economias são uma fração da China e que não estão na vizinhança prometeram: Irlanda, US$ 1,4 milhão; Itália, US$ 1,3 milhão; e Espanha, US$ 1,8 milhão.
O que deduzir da oferta de ajuda da China? Isso é uma expressão da vontade popular média na China ou da vontade dos que manejam o poder?
Razões irracionais
É possível que a disputa sobre as ilhas Spratly possa ter restringido a disposição do regime chinês em ajudar as Filipinas. As Spratly são reivindicadas pelos dois países, mas estão muito mais distantes da China continental do que das Filipinas, e estão em sua maioria na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de 200 milhas das Filipinas, conforme definida no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. As ilhas seriam ricas em petróleo e gás, bem como excelentes para a pesca.
A China enviou navios de guerra até os confins do Mar do Sul da China para perseguir barcos de pesca filipinos nas águas disputadas, mas não mobilizou os mesmos navios para prestar socorro após o tufão.
Seja devido à impertinência sobre uma disputa territorial ou algum outro motivo, reter ajuda humanitária a um vizinho demonstra uma falta de clareza e de generosidade da liderança nacional da China.
A segunda maior economia do mundo deve ser capaz de mostrar ampla assistência. A China tem a obrigação, do ponto de vista do impulso humanitário básico, de ajudar um vizinho em necessidade.
Mas, mesmo no nível mais prático, frio e calculista, a China deveria ser generosa mesmo por autointeresse – para promover seus objetivos estratégicos de relações públicas, que se destinam a exercer mais influência e conquistar prestígio no cenário mundial.
Essa linha de pensamento, no entanto, exige a capacidade de nos colocarmos na posição dos outros. Os atuais líderes chineses veem o mundo através de suas lentes. Essas lentes se tornaram distorcidas como o sistema em que eles vivem e respiram. Eles não podem ver a si mesmos como o resto do mundo os vê.
O Partido e não o povo
Uma coisa deve ficar clara: esta falha evidente de generosidade não deve ser atribuída ao povo chinês ou à nação chinesa. Ao longo dos milênios, os chineses têm sofrido por várias causas, tanto naturais como produzidas pelo homem. De sua capacidade bem desenvolvida de suportar sofrimento brota a consciência que leva à generosidade. O povo chinês conhece o sofrimento e estende a mão com satisfação para ajudar um vizinho quando pode.
Não, esse não é um problema da China em si – é um problema do atual regime que governa a China, o Partido Comunista Chinês (PCC). O PCC, em primeiro lugar e acima de tudo está interessado na própria sobrevivência e enriquecimento, ele não tem generosidade inata pelo povo chinês, muito menos por vizinhos. Ele dará ônibus para escolas na África se isso promover seus interesses estratégicos egoístas, enquanto deixa crianças chinesas andarem quilômetros até a escola.
Ele construirá “edifícios tofu” (como dizem os próprios chineses) para os próprios alunos enquanto constroem palácios para quadros do PCC com o dinheiro do povo. Inúmeras escolas tofu desabaram no terremoto de Sichuan em maio de 2008, matando centenas de crianças. Num caso expressivo, um caríssimo edifício do PCC resistiu firmemente aos tremores, enquanto a escola tofu ao lado desmoronou, com resultados desastrosos para os que lá estavam.
O PCC, transmitindo sua mesquinhez ao mundo na esteira da tragédia de seu vizinho, revela seus valores essenciais. O PCC deseja grandemente estar no centro do palco nos assuntos mundiais, mas mostra que não saberia como agir se estivesse lá.
John Nania é editor-chefe do Epoch Times