Todo jovem brasileiro imerso no senso comum tem o sonho de ingressar na universidade. Muitos deles abandonam suas famílias no interior para virem aos grandes centros com o intuito de elevar suas possibilidades de serem absorvidos pela universidade tão almejada mediante aprovação nos ditos “vestibulares”. O pobre sujeito projeta o seu futuro com afinco, bota a cabeça no travesseiro e vai dormir com algumas toneladas de responsabilidade nas costas. Quando ele transcende a fase robótica dos cursinhos pré-vestibular, pensa-o inocentemente que finalmente irá estudar aquilo que ama e que, caso ele se dedique, encontrará um ambiente totalmente receptivo às suas aspirações. Eis a mais ilusória mentalidade presente no imaginário dos estudantes sérios.
O indivíduo que entrar na universidade brasileira de hoje, pelo menos nos cursos de Ciências Humanas, vai se deparar com circunstâncias que colocarão em xeque suas expectativas. Ele irá notar de cara o curioso desinteresse dos colegas pelas matérias que eles dizem gostar e a sensação de estranhamento que leva a duvidar sobre a bagagem intelectual do corpo docente. “Como ousa atacar os professores-doutores das universidades e os jovens que tanto se esforçaram para estarem lá?”, indaga o apressadinho. O leitor que acha que este que vos escreve é apenas um palpiteiro deveria lidar com os fatos concretos: como pode um universitário (lê-se: leitor de xérox), mesmo sem a recomendação e exigência dos professores, não ler pelo menos uns 20 ou 30 livros ao ano? Como pode um sujeito que ESCOLHEU, ou seja, teve a ação deliberada de assumir o cargo de professor, a posição daquele que ensina, se ele só sabe raciocinar ideologicamente e sempre estudou medianamente a luz e semelhança de seus companheiros? Se o professor não domina direito nem o conteúdo, quem dirá o “status quaestionis” dos assuntos tratados em aula.
Para elucidar e reviver a memória do leitor, dê graças a Deus aquele que nunca teve um professor que: a) postulasse o capitalismo e os princípios gerais do livre mercado como gênese de todos os males; b) chamasse a Idade Média de “Idade das Trevas” como meio para atacar a Igreja Católica; c) fosse reducionista no estilo “Aristóteles defendia a escravidão, logo toda sua teoria não deve ser estudada” ou (essa é clássica para os alunos de direito!) “Miguel Reale fez parte do integralismo, portanto ele era um fascista, antissemita, antidemocrático e não produziu nada de bom”; d) ao explanar as noções gerais de um novo assunto aos alunos, se recomendasse algum livro de “introdução crítica” que atacasse aquilo que os alunos ainda não conhecem.
Se você, caro universitário, já se viu em muitas dessas situações e estranhou tudo isso, sinto-lhe dizer: bem-vindo ao clube. Esse clube não está lotado, na realidade, está em escassez de pessoas. Nessa ala integram aqueles que sempre estiveram com a alma disposta ao conhecimento e que pagaram com o mais puro interesse para receber de troco o descaso. É um grupo de esquecidos? Provavelmente. Mas nunca esqueça de que no anonimato eles seguem estudando, suportando tudo sem dar um pio. No futuro, que tarde mais chega, veremos quem será alma viva e quem habitará as portas fechadas do esquecimento.
Ken Bansho Neto, 18, é estudante universitário de Direito e aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho.
Esse conteúdo foi originalmente publicado pelo site Mídia Sem Máscara