Facebook teve um papel importante na difusão da situação dos indígenas guarani-kaiowá no Mato Grosso do Sul nos últimos dois meses. Os indígenas da comunidade Pyelito Kue/Mbarakay estão ainda sob risco de ameaças de violência, evidenciado pelo estupro ocorrido a uma indígena em 24 de outubro por oito pistoleiros, segundo comunicado de 1 de novembro da Anistia Internacional.
O comunicado ainda informou que a ordem de remoção dos indígenas de suas terras foi suspensa por um tribunal federal regional no dia 29 de outubro, à espera do término de estudos antropológicos para identificar as áreas pertencentes à comunidade. Os procuradores da República saudaram as campanhas nacionais e internacionais e afirmaram que elas sem dúvida ajudaram a obter a suspensão.
A ‘explosão’ da situação da comunidade de indígenas ocorreu pelo Facebook na segunda semana de outubro e também pela petição do Avaaz. Segundo a petição, que exigia ação do governo, à presidente Dilma Rousseff e ao governador do estado do Mato Grosso do Sul André Puccinelli, os índios iriam se suicidar em massa devido ao total silêncio das autoridades e das grandes mídias em resposta aos “genocídios” que eles têm sofrido. Difundida rapidamente, até hoje mais de 314 mil pessoas já assinaram a petição.
Em apoio aos indígenas, muitos usuários, além de assinar a petição, alteraram seus nomes no perfil do Facebook, substituindo seu sobrenome por ‘Guarani-Kaiowá’.
Os índigenas guarani-kaiowá são considerados a maior população indígena do país entre as 220 etnias conhecidas. São cerca de 45 mil pessoas que vivem de forma improvisada, em periferias, beiras de rodovias, e pequenas áreas demarcadas que totalizam 42 mil hectares. A maior concentração dos guarani-kaiowá encontra-se em Dourados, Mato Grosso do Sul, segundo a TV BH News. Segundo a Anistia Internacional, o número de indígenas guarani-kaiowá são cerca de 60 mil.
O estado do Mato Grosso do Sul é um dos principais estados brasileiros em produção de grãos (como soja, milho), cana-de-acúcar, etanol e pecuária. Segundo a Federação de Agricultura e Pecuário do Mato Grosso do Sul (Famasul), a balança comercial do agronegócio em 2011 foi positiva de 2,8 bilhões de dólares.
De acordo com a Anistia Internacional, em novembro de 2007, o Ministério da Justiça (MJ), o Ministério Público Federal (MPF), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e 23 líderes indígenas assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pelo qual a Funai se comprometeu a identificar até 2010 áreas de terras ancestrais dos Guarani-Kaiowá – incluindo Pyelito Kue/Mbarakay. A falta de recursos e obstáculos judiciais atrasou esse processo, que ainda não foi completado.
Um antropólogo indígena guarani-kaiowá, Tonico Benites, em evento na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 26 de outubro disse: “Hoje, muitos cientistas sociais indicam que, se nada for feito, em pouco tempo esse povo será exterminado. No entanto, já falávamos isso há muitos anos, desde as décadas de 60 e 70, só que ninguém ouvia”, segundo o site da universidade.
A carta aberta direcionada para “o Brasil e ao mundo”, escrita pela grande assembléia Guarani-Kaiowá Aty Guasu, denunciou às autoridades federais (Funai, MPF e Polícia Federal) que os fazendeiros “temidos e assassinos dos indígenas” anunciaram “nova matança/extermínio dos povos indígenas no município de Paranhos-MS”, localizada na fronteira Brasil e Paraguai, dia 18 de agosto deste ano.
“Eles [os fazendeiros] reafirmam que vão continuar nos matando em nossos próprios territórios antigos”, anunciaram as lideranças Guarani-Kaiowá da Aty Guasu.
As lideranças ainda afirmam que este problema é histórico, dizendo que desde a década de 40, os fazendeiros têm dizimado e expulsado os guaranis-kaiowás de suas terras.
Apoio aos povos indígenas
Algumas semanas depois da difusão em massa das informações pelo Facebook, Pedro Rios Leão, cinegrafista independente e ativista de 26 anos, foi até Dourados, no Mato Grosso do Sul, apoiar a causa dos índios. Ficou quatro dias instalado na aldeia de Passo Piraju, de 26 a 31 de outubro.
Leão afirmou ao Epoch Times que “A posição dos fazendeiros é ‘produção sim, demarcação [de terra aos índios] não’”. Segundo o ativista “a violência do agronegócio, do latifundio construído principalmente com grilagem, criou toda uma estrutura criminosa dentro do estado e do setor produtivo […] a figura do latifundiário, do juiz, do político, do empresário, do dono de mídia, do grande traficante de armas, do chefe de milícia se confundem”. Além disso, o ativista afirma que além de os direitos dos índigenas serem violados, os agressores sempre saem impunes.
Estudantes da Faculdade de Educação da UFMG anunciaram seu apoio aos indígenas em 31 de outubro: “Até quando será preciso derramar sangue indígena para atender nossas reivindicações? Somos outros povos indígenas do Brasil, mas agora somos todos Guarani-Kaiowá”, disseram os alunos na carta publicada no site da faculdade.
O diretor da Survival International, Stephen Corry, afirmou hoje de acordo com o site da organização: “Por muito tempo os Guarani têm suportado a violência de uma campanha de terror contínua e mal-intencionada para mantê-los fora da terra que lhes pertence por direito. Os responsáveis por este mais recente ato cruel e perverso devem ser levados à justiça. O governo federal deve pressionar a polícia local a realizar uma investigação detalhada e imparcial”, referindo-se ao acontecimento ocorrido nesta quarta-feira (21), de que, segundo os indígenas da aldeia Ypo’i, a água do rio teria sido contaminada por fazendeiros.
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