“Quando não há ruído em meu quarto, isso me assusta”, escreveu um de meus alunos de graduação num e-mail. “Parece que eu não suporto o silêncio”, escreve outro.
O barulho a que o primeiro aluno se refere é o ruído de fundo de coisas como televisão, rádio, música e de uma infinidade de curiosidades online e da mídia social. E o silêncio a que o segundo aluno se refere é um mundo desprovido de tal ruído de fundo.
Baseando-me em seis anos (2007-12) de observações de 580 estudantes de graduação, é razoável argumentar que sua necessidade de ruído e sua luta com o silêncio é um comportamento aprendido.
O anseio pelo ruído de fundo gerado pela mídia é adquirido mais dos pais e avós do que da relação dos alunos com a recém-descoberta mídia social.
Desta forma, o excelente conselho de Larry D. Rosen sobre como os professores podem lidar com a ansiedade de mídia social do estudante – como introduzir um minuto sem tecnologia – não deveria ser confundido com questões que envolvam a necessidade dos mesmos alunos pelo ruído de fundo.
Com exceções óbvias, mães e pais também herdaram essa necessidade de ruído de fundo. “Meus avós têm a televisão ligada em segundo plano praticamente o tempo todo”, observa um estudante.
Portanto, não é surpresa quando outro escreve: “A televisão é ligada por meus pais no início da manhã para ver o noticiário e fica ligada […] mesmo quando ninguém está olhando”.
Para todos, exceto um dos 580 alunos, havia televisão e rádio em casa antes de nascerem. Para a maioria dos estudantes, a casa da família também tinha pelo menos um computador antes de eles nascerem. Na verdade, este ano tivemos nosso primeiro aluno que não conseguia lembrar do primeiro telefone celular de sua família.
Começando na infância, a paisagem sonora constante da mídia tem fornecido o ruído de fundo em diferentes etapas: berço, jardim de infância, escola e universidade. Não é de admirar que muitos de meus alunos sintam-se agitados e desconfortáveis quando não há pelo menos uma fonte de ruído de fundo.
O ruído de fundo, de certa forma, preenche as observações de Bill McKibben sobre o ‘Terceiro Pai’.
Na maioria das vezes, o terceiro pai do aluno (seja mídia analógica ou digital) fala com eles mais frequentemente do que seus pais biológicos. Como um participante observou, “o barulho da TV e a comunicação pelo Facebook ajudam a me sentir mais em contato com as pessoas”.
Em geral, meus alunos relatam que não podem funcionar em silêncio. Como explicou um deles: “Eu comecei a fazer este trabalho na biblioteca e tive de voltar ao meu quarto minutos depois para pegar meu iPod, pois a biblioteca era tão tranquila que eu não conseguia me concentrar direito!”
Não é apenas o silêncio de uma biblioteca que os alunos relatam ser perturbador. Tendo ido para casa na fazenda, uma estudante observou como achou difícil caminhar até a barragem local sem um iPod.
Quando foram dadas aos alunos ferramentas para refletirem sobre seu consumo de mídia, eles começaram a reconhecer a natureza do ruído de fundo. Tendo preenchido suas planilhas, eles foram convidados a passar uma hora caminhando, sentados e/ou lendo num lugar tranquilo. Este é o momento do exercício quando os alunos costumam descobrir sua relação com o silêncio:
“A falta de barulho me deixou desconfortável, ele realmente parecia um mau presságio”, observou um estudante. Outro disse: “Talvez, porque a mídia nos rodeia hoje consistentemente, temos medo de paz e tranquilidade”.
Será que é o ruído de fundo e não o conteúdo de cada portal de mídia que cria a percepção de bem-estar mencionada por meus alunos?
De qualquer forma, é claro que alunos (e, sem dúvida, muitos outros) se acostumaram ao ruído de fundo que se tornou uma característica da vida moderna.
E quanto a você: você tem medo do silêncio?
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Esse artigo foi publicado originalmente em The Coversation