A integração entre os órgãos envolvidos no controle do espaço aéreo brasileiro e o impacto mínimo que as medidas de restrição de voos terão na aviação civil durante a Copa do Mundo foram destacados como pontos cruciais do planejamento de segurança para o setor em entrevista coletiva realizada nesta sexta-feira (21.03), em Brasília, por representantes da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O Comandante de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), Major-Brigadeiro Antonio Egito do Amaral, explicou que o plano de ação para grandes eventos vem sendo desenvolvido desde 2008 e segue critérios de segurança internacionais. “A integração é nosso grande trunfo. Foi com essa mesma sincronia que os órgãos envolvidos desenvolveram um plano econômico e eficiente para a Copa do Mundo de 2014, mantendo a soberania nacional e a segurança dos voos durante 24 horas”, afirmou.
A equipe responsável pelo planejamento das ações visitou o provedor de serviços de navegação aérea da Alemanha, a Deutsche Flugsicherung GmbH (DFS), usado na Copa de 2006, e também acompanhou o trabalho de gerenciamento de tráfego aéreo durante as Olimpíadas de Londres (2012), a Copa do Mundo na África do Sul (2010), os Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver em 2010, a Eurocopa de 2012 e o Super Bowl nos Estados Unidos (2014). “Pegamos todas as características dos grandes eventos, para que pudéssemos fazer os nossos ajustes e planejar de acordo com a realidade brasileira”, acrescentou o Chefe do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), Coronel-Aviador Ary Rodrigues Bertolino.
As medidas de defesa aérea e de restrição de voos nas cidades-sede durante a Copa do Mundo foram reunidas no Guia Prático de Consulta sobre as Alterações do Espaço Aéreo para a Copa do Mundo, publicado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Os oito principais aeroportos brasileiros (Guarulhos, Congonhas, Brasília, Galeão, Campinas, Confins, Natal e Porto Alegre), que concentram a maior movimentação aérea no país, não serão afetados.
As ações para garantir a segurança podem impactar até 800 voos ao longo de dois meses. O número representa 1% dos voos programados para o período do evento. De acordo com o diretor-presidente da Anac, Marcelo Guaranys, o número foi calculado em relação ao número de slots (1.600) solicitados pelas empresas para os horários, aeroportos e datas dos jogos. As medidas que serão implementadas durante o Mundial foram comunicadas às empresas aéreas ainda em janeiro deste ano.
“Nenhum aeroporto terá suas atividades totalmente suspensas. Será liberado para pouso ou decolagem. Nunca estará fechado totalmente”, detalhou Coronel Bertolino. É o caso do Aeroporto da Pampulha, que, em dias de jogos em Belo Horizonte (MG), será fechado para pousos durante os horários especificados, mas terá as decolagens liberadas. Os aeroportos de Fortaleza, Manaus, Recife, Salvador e Santos-Dumont (Rio de Janeiro) seguirão a mesma regra. No caso do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (Natal), as decolagens serão afetadas, mas os pousos estão mantidos.
Em caso de fechamento de aeroporto por condições meteorológicas adversas, o planejamento prevê um esquema de aeroportos alternativos de acordo com o tipo de aviação (geral, regular, taxi aéreo).
Áreas restritas
As medidas de restrição preveem três diferentes áreas no espaço aéreo das cidades-sede durante dias de jogos da Copa. Na área reservada, que abrange a área terminal (TMA) da cidade, poderão voar todas as aeronaves identificadas. Na área restrita, com raio de 12,6km, não poderão entrar as aeronaves da aviação geral e táxi aéreo. Na área proibida, com raio de cerca de 7,2km, só poderão entrar aeronaves de segurança e de captação de imagens previamente autorizadas pelo Comdabra.
As áreas de exclusão aérea serão ativadas somente nas cidades-sede e tem sua ativação de acordo com horário do início do jogo. Para a abertura e a final, as áreas serão ativadas três horas antes e quatro horas após o início do jogo. Para os jogos da primeira fase da competição, o tempo de restrição será de uma hora antes e três horas depois. Nas demais fases, uma hora antes e quatro horas depois.
O modelo de restrição de áreas já foi implementado durante outros grandes eventos sediados pelo Brasil, como a Rio+20, a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude.
Aeronaves
Aeronaves de caça F-5M de alta performance e de ataque leve A-29 Super Tucano, helicópteros AH-2 Sabre e o H-60 Black Hawk da Força Aérea Brasileira serão usadas para as ações de defesa aérea nas cidades-sede durante a ativação das três áreas de exclusão. Aviões-radar E-99, que executam alerta aéreo antecipado, também voarão durante o período. O sistema de defesa aeroespacial ainda inclui a artilharia antiaérea da Marinha, do Exército e da Força Aérea Brasileira. “A defesa aérea trabalha em camadas, em cada uma há uma ferramenta”, explicou o Major-Brigadeiro Antonio Egito do Amaral.
Caso uma aeronave entre em uma das áreas de exclusão, serão tomadas medidas de policiamento aéreo com a finalidade de averiguar a identidade da aeronave, forçá-la a modificar sua rota e persuadi-la a obedecer as ordens da defesa aérea. Essas medidas começam a valer ainda na área branca, cuja distância do estádio pode ultrapassar os 100km.
Bases aéreas
Em relação ao uso de bases aéreas para receber as deleções das seleções que disputarão a Copa, além de autoridades, a Aeronáutica foi consultada pela Secretaria de Aviação Civil (SAC) para prestar apoio nos locais onde os aeroportos são compartilhados (aviação civil e militar), como é o caso das cidades de Fortaleza, Brasília e Rio de Janeiro. As delegações ou a própria FIFA devem fornecer equipamentos de apoio de solo para poderem usar o espaço para aeronaves. O planejamento da chegada dos times e delegações é feito pela SAC.
Esse conteúdo foi originalmente publicado no Portal da Copa