Nos últimos anos, o orçamento militar da China tem aumentado em ritmo constante. Estimativas de 2014 chegam aos U$ 131 bilhões (em 2003, o mesmo orçamento ficou em torno dos U$ 38 bilhões). Entretanto, isso não significa necessariamente que o Exército de Libertação Popular (ELP) esteja pronto para libertar seja quem for.
Entre uma séria de problemas técnicos que o ELP enfrenta, está o treino inadequado, reforçado por uma cultura de mentira e corrupção, que ameaça limitar seriamente a sua capacidade enquanto força de combate.
Múltiplos relatórios das mídias chinesas revelam exercícios de treino falsificados. Tanto soldados como oficiais são responsáveis.
De acordo com um artigo de julho de 2014 do Apple Daily de Hong Kong, 319 oficiais do ELP foram recentemente disciplinados por ajudarem as suas tropas a falsificar os treinos.
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Nenhum homem é deixado para trás
No dia 24 de abril, a estação de televisão estatal China Central Television (CCTV) relatou que um oficial que supervisionava um exercício da 42º Brigada Blindada do ELP no sul da China descobriu que os soldados estavam quebrando as regras do treinamento.
Durante os treinos, os soldados deveriam levar um recipiente com fumaça preso ao capacete, que era liberada se eles fossem “atingidos”. Cansados de perder múltiplas vezes, os soldados de uma equipe removeram os recipientes e os sensores para se tornarem “soldados imortais”.
Em outro incidente recente, relatado pela mídia estatal People’s Daily, um grupo responsável pela infantaria motorizada do 40º Grupo do Exército traiu uma marcha longo alcance ao remover uma porção do seu equipamento.
Durante uma corrida de 3 mil metros, tropas do mesmo grupo do exército foram ajudadas pelos seus superiores, que situaram soldados mais fortes em vários pontos ao longo da rota. Estes soldados ajudaram a carregar os soldados mais fracos até a meta, para se assegurarem de que todos completassem a corrida.
Em dezembro de 2013, um percurso de obstáculos com 400 metros de arame farpado foi substituído por elásticos, segundo a mídia estatal Huanqiu Net. Para tornar os exercícios noturnos mais fáceis, o treino era realizado logo depois do pôr do sol ou em noites de lua cheia.
“Melhorando” as forças armadas
Uma publicação do ELP relatou em outubro de 2013 que durante um exercício com tropas de tanque do 47º Grupo do Exército, a infantaria regava o chão com água para prevenir que o pó subisse. O objetivo era melhorar a precisão do canhão em testes de tiro. Adicionalmente, alvos e locais estavam claramente marcados de antemão, o que tornou quase impossível falhar o alvo.
Em dezembro desse mesmo ano, o ELP relatou que uma brigada blindada na região Militar de Guangzhou, no Sul da China, conseguiu resultados extraordinários na distância de 5 mil metros de marcha em todo o terreno. O truque foi diminuir o percurso em centenas de metros.
Desperdiçando combustível em nome da vitória
Hu Zhiming, um técnico da rede televisiva New Tang Dinasty, sediada em Nova York, fez parte da força aérea do ELP. Numa entrevista em 2013, ele descreveu como os supervisores recebiam subornos para aumentar a estatística de “probabilidade de vitória” durante simulações de combate aéreo. Era comum interferir com o equipamento de radar e de guerra eletrônica para dar vantagem a um piloto ou outro nos exercícios de combate, disse Hu. Os oficiais eram complacentes com as irregularidades e não informavam as autoridades superiores. De fato, em alguns casos eram até estimulados por seus superiores a fabricar os números.
Durante o treino de voo, Hu descreveu como os pilotos propositalmente liberavam combustível no ar, para criar a ilusão que tinham voado mais tempo do que na realidade voaram.
“Eles só gastam recursos”, afirmou Hu.
A marinha chinesa também tem uma parcela de ovelhas negras. Em dezembro de 2013, o China Oriental Daily publicou que três capitães foram removidos do comando de seus navios depois de descobrir-se que estavam envolvidos na falsificação dos exercícios. Durante um exercício com submarinos no Mar do Sul da China, os comandantes dos submarinos alegadamente tiraram proveito da navegação “manual”, e os comandantes dos navios de guerra interferiram com o equipamento de radar para tornar uma frota que fazia o papel de inimigo mais detectável.