Exposição realista reafirma o valor da vida humana

23/07/2014 12:25 Atualizado: 23/07/2014 12:25

NOVA YORK – Patricia Watwood e dois outros artistas partilharam as virtudes da arte realista contemporânea clássica, enquanto buscam claridade sobre um campo frequentemente mal compreendido.

“O nosso trabalho não é tradicionalmente irônico, demasiado introspectivo, mórbido ou niilista”, explicou. “É baseado em métodos tradicionais e abraça a beleza como linguagem retórica e emocional, usa representação naturalista e está edificado nos dois aspectos nucleares da arte ocidental: natureza e design.”

Muitos retratos estão presentes na exposição de Watwood, incluindo o de sua filha perdida em um livro de Harry Potter enquanto aguarda pelo jantar; uma vizinha do Oriente Médio, que representa como todas as culturas são humanas, e dois autorretratos, um realizado enquanto estava grávida.

As figuras provocam contemplação e evocam sensibilidade. Um número razoável delas é de nus, pintados de forma similar àquilo que pode ser visto no Museu Smithsoniam em Washingtin D.C, dos séculos XIII e XIV.

A pintora diz que ela própria e outros dois artistas “não viram nenhuma necessidade de descartar os estilos tradicionais. Estas formas tradicionais continuam a desempenhar exatamente e perfeitamente a luta das ideias sobre aquilo que significa ser humano, como abordar isso na arte, é nisto que estamos interessados” acrescentou.

As pessoas podem ter a percepção do realismo como sendo apenas visualizar e pintar. O processo, na verdade, é “uma completa transformação do que é observado, pensando, meditando, criando”, diz Watwood.

Durante a exibição, a artista leu uma citação de Sabin Howard, sua antiga professora.”Eu tento criar arte que reafirma ao espectador que existe valor na vida humana. Deverá despertar a sensação de que uma pessoa não está sozinha, e que faz parte de um grupo com necessidades similares, desejos, esperanças, sonhos, medos, desejos que transcendem o tempo”.

“Existe tempo suficiente para as coisas que valorizamos: tempo para criar uma pintura, para estudar, para aprender, para desfrutar, para estar quieto e para contemplar a imagem e o mundo que a contém.”

Trippi acrescentou: “Para além da sua evidente beleza, o que mais me entusiasma nos quadros é a tranquilidade que os envolve.”

O afamado retratista Nelson Shanks juntou-se ao historiador de arte e a dois artistas em uma conversa sobre ambas as formas tradicionais e modernistas na arte.

Watwood afirma que Shanks acredita que “A pintura realista é nada menos que a meditação sobre a natureza da existência e do indivíduo. Deve criar empatia com o poder de se ligar à imaginação e despertar memórias. Deve incorporar tudo o que o pintor realista vê diante dos seus olhos e por isso sente no coração”.

Por meio da arte, Watwood diz que quer se comunicar e fazer com que as pessoas se importem com o mundo e com o sujeito na sua pintura. Em suas notas, expressa o desejo de que as suas pinturas se liguem espiritualmente com ambos, sujeitos e observadores, e que sejam também “poemas visuais aguardando a sua interpretação”.

Pelo padrão atual, todos os três artistas despendem uma quantidade de tempo atípica no seu trabalho. Watwood demora entre seis a oito semanas para realizar as suas obras maiores; Shanks frequentemente começa a pintar às 6hs da manha e trabalha sete dias por semana; e Howard despendeu 45 mil horas na sua “obra monumental”.

Todos eles fazem o seu próprio trabalho sem assistentes, em oposição ao moderno movimento artístico em que o trabalho é deixado para os assistentes e o artista faz apenas o trabalho conceitual.

Como exemplo, Watwood referencia a interação de Damien Hirst com o seu trabalho “em pontos” como sendo a sua assinatura.

Alternadamente, em linha com o fascínio pelo trabalho realizado à mão, Trippi diz que viu “muitas pessoas em pé, na frente das imagens de Patty, dizendo ‘como ela fez aquilo?'”.

“Eu conheço uma pessoa que concebe a imagem e depois a realiza em Photoshop, mas não foi isso que aconteceu aqui”, acrescenta. Colecionadores se beneficiam com a compra destes trabalhos. Ele já testemunhou colecionadores muito satisfeitos.

A conversa foi mudando de assunto, desde a motivação do artista até o reino da forma de arte ao realismo clássico contemporâneo, e como pode avançar a partir daí para um lugar de importância no mundo da arte.

Mitos e lendas, nos quais muitos dos trabalhos tradicionais estão baseados, providenciam uma excelente oportunidade para exprimir diferentes ideias sobre o que significa ser humano, espiritualmente sem estar associado a nenhuma religião em particular e sobre as grandes questões do nosso tempo, diz Watwood. Ela e Hotward notam um novo interesse para com o heroísmo na cultura popular.

Howard frequentemente esculpe deuses Gregos, usando a mitologia como uma prancha de lançamento para evocar reações viscerais nas pessoas.

“Quando o faz corretamente, é muito complicada uma pintura ou escultura em que se reveja o resto do universo, porque se tem este sistema hierárquico em que as partes menores se encaixam corretamente nas partes maiores”, acrescenta.

“Essa complexidade visual ativa algo na pessoa que é visceral no sentido em que não há forma de errar. Este é um novo rumo e está mudando tudo para um sentido que eu realmente acredito ser imparável”, diz Howard.