Exposição de pinturas de Grünewald conta a história de Cristo

27/10/2014 15:30 Atualizado: 27/10/2014 15:30

Colmar é uma pequena cidade na Alsácia, perto da fronteira da França com a Alemanha, mas no mundo da arte, ela tem um grande marco. Em exposição permanente num antigo convento dominicano do século XIII, agora Museu de Unterlinden, está o retábulo de Isenheim.

Esta obra prima do século XVI é do artista renascentista alemão Matthias Gothart Nithart (chamado de Grünewald).

Em 2012, os amantes da arte comemoraram o 500° aniversário do retábulo, que se iniciou em 1512 e ficou completo em 1516. Esta peça complexa e desafiadora foi transferida para Colmar em 1852 e foi originalmente criada para o monastério e hospital de Santo Antônio, em Isenheim. Era para ser uma referência de inspiração visual de doenças de pele, que era a especialidade do hospital.

O que se sabe do perfil de seu criador é que Grünewald provavelmente tenha nascido em Würzburg por volta de 1480 e morrido em Halle em 1528 – os detalhes de sua carreira tem sido uma questão de especulação.

A princípio, acredita-se que ele trabalhou para o Arcebispo de Maniz e foi o pintor chefe do príncipe Albrecht Von Brandenburg.

Quanto à sua pintura, historiadores de arte discordam de sua estética artística. Eles chamaram-lhe diversas vezes de ressaca da tradição medieval gótica, a personificação de um artista renascentista do norte, e um precursor do expressionismo alemão.

Como Vermeer, algumas de suas obras sobreviveram, e dessas, um número de atribuições foram contestadas. No entanto seu trabalho para Santo Antônio proclama que ele tenha sido um brilhante artista de profunda sensibilidade emocional e de grande técnica.

O óleo sobre o retábulo de madeira de tília é composta de 11 painéis que se abrem para revelar sucessivas cenas da vida da Virgem Maria e de Santo Antônio, juntamente da “Crucificação” e “Ressurreição”.

No centro da peça está um santuário esculpido pelo artista de Estrasburgo Niclaus de Haguenau, contemporâneo de Grünewald.

Em sua série de painéis pintados, Grünewald desconstruiu o estereotipo da proposta apresentada pela arte religiosa de seu tempo e reproduziu uma abordagem mais moderna para figuras em uma paisagem. Diferente do trabalho de seus contemporâneos na Itália, onde a paisagem desempenha um pequeno papel no grande drama da “Crucificação”, que forma o cenário externo.

João Batista, possivelmente um autorretrato de Grünewald, aponta o olho do espectador a Jesus, que está pendurado sem vida na cruz, com os braços alongados em proporções exageradas, algo que se espera da tradição maneirista. As mãos das figuras em todo o painel principal, e nos painéis laterais de acompanhamento estão entrelaçadas e torcidas em angústia empática.

O Cristo ascendente da “Ressurreição”, exibido em outro painel está cercado por arco-íris. O rosto de Jesus ressuscitado se dissolve em luz, a escuridão de sua crucificação foi esquecida.

Esta apoteose final do Jesus humano está emparelhada com um painel retratando seu inicio, com a “Anunciação” mostrando o Anjo Gabriel aparecendo a Maria e anunciando sua seleção como a Mãe de Deus. Na interpretação de Grünewald da cena, Maria vira o rosto como se dissesse: “Eu não”.

Painéis sequenciais exibem “Tentações de Santo Antônio”, com imagem de demônios como as de Hieronymus Bosch, alguns sofrendo da mesma doença de pele que os pacientes do hospital onde o retábulo foi posto.

A cena de “Natividade” revela uma Maria confiante agora ninando seu filho enquanto anjos formam uma orquestra celestial ao seu lado.

Na exposição do museu, cada um dos painéis foi destacado do retábulo e exibido separadamente, permitindo aos visitantes verem todas as facetas da obra de uma só vez. Esse privilégio foi negado na audiência de Grünewald, onde só era autorizado ver uma imagem de cada vez.

Exibidas ao longo da nave da capela do antigo convento, espectadores movem-se lentamente através das cenas, da “Crucificação” à “Ressurreição”. Existe uma pequena tradição simétrica para a visão de Grünewald, uma surpreendente fusão do real, o ideal, o delicado e o grotesco, mas tudo é equilibrado, harmonioso e coroado pelo símbolo de esperança do artista, um arco-íris de luz.

Susan James é uma escritora freelancer que mora em Los Angeles. Ela viveu na Índia, no Reino Unido e no Havaí e escreve sobre arte e cultura.