O desempenho do comércio exterior da América Latina e do Caribe reflete a debilidade da conjuntura econômica mundial. Em 2013 projeta-se um crescimento do valor das exportações regionais de somente 1,5% (3% em volume e -1,5% em preço), similar à expansão de 1,4% registrada em 2012. Entretanto, o valor das importações expandiria 4,5%, com o que o superavit comercial da região, que alcançou 41 bilhões de dólares em 2012, se reduziria a 8 bilhões de dólares em 2013, segundo estimativas apresentadas hoje, em Santiago, Chile, em um novo relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Em seu documento anual, Panorama da Inserção Internacional da América Latina e do Caribe 2013, lançado nesta terça-feira (10), o organismo indica que a debilidade do contexto econômico internacional segue afetando o dinamismo do comércio mundial. Espera-se que este tenha uma expansão a um ritmo de 2,5% em volume em 2013. Com isso, o comércio cresceria menos do que o PIB global pelo segundo ano consecutivo, o que não ocorria desde os anos oitenta.
A previsão é que o México e a América Central, cujas vendas externas dirigem-se principalmente para os Estados Unidos, se beneficiem da incipiente recuperação desse país. Entretanto, o lento crescimento europeu freará as exportações de alguns dos países sul-americanos mais direcionados a esse mercado.
Os países da América Latina e do Caribe cujas exportações se direcionam para a China e para o restante da Ásia, provavelmente terão maior crescimento em volume mas, ao mesmo tempo, uma mudança gradativa na demanda, dos produtos básicos para os mais elaborados.
O Paraguai e o Uruguai registrariam os maiores aumentos do valor exportado em 2013 (33% e 14%, respectivamente), em grande medida pela forte expansão de suas exportações de sementes de soja e carne. Ao contrário, alguns países da região registrariam quedas no valor de suas exportações como, por exemplo, o Perú (-7%) e a Guatemala (-5%). O México, principal exportador regional, registraria um crescimento de suas vendas externas em torno de 3%. Por sua parte, o Brasil, segundo maior exportador regional, apresentaria uma estagnação de suas exportações.
O documento também mostra que os ganhos em termos de troca entre 2004 e 2011 contribuíram para quase metade do crescimento da renda nacional bruta no Chile (47%), explicando, também, as contribuições significativas nos casos do Equador (35%), México (27%) e Brasil (22%). Essas estatísticas evidenciam a excessiva dependência do ciclo dos preços internacionais dos produtos básicos, um aspecto crítico do desenvolvimento da região.
Os mega-acordos podem mudar as regras mundiais
Em seu relatório, a CEPAL ressalta que um dos principais aspectos da atual conjuntura econômica internacional são as negociações megarregionais, que vinculam as principais redes de produção mundiais: Europa, América do Norte e Ásia.
Várias negociações megarregionais em curso estão modificando o panorama do comércio mundial. Destacam-se, nesse plano, a Acordo de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês) entre a União Europeia e os Estados Unidos, a Associação Econômica Integral Regional (que envolve os 10 membros da ASEAN além da Austrália, China, India, Japão, Nova Zelândia e República da Coreia) e os TLC China-Japão-República da Coreia e União Europeia-Japão. Todas essas iniciativas apontam para a criação de grandes espaços economicamente integrados, tanto regionais (na Ásia) como transatlânticos e transpacíficos.
Essas mega-negociações incluem temas não abordados pela Organização Mundial do Comércio e que são importantes para as redes internacionais de produção. Sua agenda temática vai tornando-se cada vez mais sofisticada, buscando harmonizar as regras, mediante as que operam as distintas redes de produção, para facilitar as operações das empresas multinacionais presentes na América do Norte, na Europa e na Ásia.
As negociações megarregionais em curso, provavelmente terão um forte impacto na distribuição geográfica e na governança dos fluxos mundiais de comércio e investimento nos próximos anos. A magnitude dessas iniciativas poderia implicar que até o ano de 2020 se tenha produzido uma verdadeira redefinição das regras do comércio internacional. Até agora, essa redefinição realiza-se à margem da OMC e sem abordar os temas pendentes na agenda comercial que mais interessam aos países em desenvolvimento.
De acordo com o documento, o produto dessas negociações para os países da região, junto com o desvio nos fluxos de comércio e investimento poderá gerar algumas restrições no acesso às oportunidades de conhecimento e inovação que proveem das novas tecnologias. Isso, no caso de primar as posturas que até agora se conhecem por parte dos lobbies respectivos nas principais economias centrais.
O fenômeno do megarregionalismo propõe o desafio de melhorar a qualidade da inserção econômica internacional nos países da região, o que ajudaria a gestação de redes de produção sub-regionales e o avanço para políticas industriais plurinacionais. Para isso examina-se o potencial de algumas redes sub-regionais de produção e se sugerem, políticas que coloquem no centro da integração regional o aprendizado sobre clusters e políticas industriais de novo cunho.
Esta matéria foi originalmente publicada pela ONU Brasil