Depois de duas explosões na China que devastaram as instalações de ancoragem no porto da cidade de Tianjin, na quinta-feira passada, ainda não foi emitida nenhuma declaração oficial sobre o que causou o desastre.
O que se sabe é que as explosões ocorreram no armazém de produtos químicos perigosos, que pertence à Tianjin Dongjiang Port Ruihai International Logistics, uma empresa especializada em armazenamento e transferência de mercadorias perigosas. O porto é o 10º maior do mundo e o sétimo maior da China.
As autoridades chinesas, que estão tentando manter a rédea curta sobre as informações relacionadas com o acidente, afirmam que estão investigando.
Dado histórico bem documentado da China em relação aos padrões de segurança negligentes no manuseio de produtos perigosos, parece provável que esta seja uma causa contribuinte.
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Bob Richards, ex-vice-administrador associado do Programa de Segurança no Transporte de Materiais Perigosos no âmbito do Departamento de Transportes dos EUA, tem mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento e implementação de normas de segurança internacionais para materiais perigosos.
Pelo que viu, ele disse que o acidente em Tianjin não é chocante.
“Isso não me surpreende, porque a supervisão da segurança na China é realmente relaxada”. A falta de fiscalização, diz, estende-se a todos os operadores de embalagem e transporte.
Richards, que desempenhou um papel importante no desenvolvimento da versão atual do Código Marítimo Internacional de Mercadorias Perigosas, argumentou: “Qualquer coisa pode ser transportada e armazenada com segurança, desde que as normas adequadas estejam em vigor”, mas essas normas têm de ser seguidas.
“Existem transportadoras sem escrúpulos [na China] que muitas vezes não seguem as regras em vigor a nível internacional”, disse ele, acrescentando que em 95% dos casos em que há um incidente, ele se resume às pessoas não seguirem as regras existentes.
Parceiros europeus também criticaram a China por suas práticas de segurança e supervisão debilitadas.
De acordo com o Grupo de Trabalho de Transporte Marítimo, que foi criado em 2000 para representar os interesses europeus de transporte marítimo na China, o transporte marítimo de cargas perigosas no interior da China ou provenientes da China é uma preocupação permanente.
“Muitos casos de declarações fraudulentas de carga perigosa da China têm sido relatados, resultando em incêndios frequentes e no aumento do risco de acidentes, danos nos navios e poluição pesada. Por exemplo, carga declarada como brinquedos de plástico poderia ser, de fato, fogos de artifício; o carregamento desses recipientes próximos da sala de máquinas pode ser catastrófico”, afirma um relatório de 2012 do grupo.
As substâncias que são normalmente armazenadas no armazém onde ocorreu a explosão, de acordo com a mídia chinesa Caixin, incluem uma longa lista de materiais perigosos, incluindo, carboneto de cálcio, cianeto de sódio, soda cáustica, sulfureto de sódio, árgon, metiletilcetona, ácido sulfúrico, ácido nítrico de potássio, nitrato de sódio, ácido fórmico, ácido fosfórico, gás natural comprimido, entre outros.
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As suspeitas relativas ao número de mortos
Até agora, 104 é o número de mortes relatadas pelas autoridades, além de dezenas desaparecidos e milhares de feridos.
No entanto, nas mídias sociais, os chineses têm amplamente especulado que o número seja muito maior. Em primeiro lugar, eles sabem que o governo chinês utiliza uma tática padrão de minimizar a escala de qualquer desastre, seja inundações, terremotos, epidemias, ou desastres de trens de alta velocidade.
Além disso, dada as descrições sobre o impacto da explosão, o número oficial parece estranhamente baixo. A Associated Press reportou que um dormitório de trabalhadores foi destruído (a maioria dos trabalhadores estaria dormindo à meia-noite), contentores de carga foram lançados pelo ar como blocos de brincar, mil carros novos foram transformados em carapaças de metal, e janelas foram quebradas a quilômetros de distância.
O Apple Daily, sediado em Hong Kong, publicou um relatório exclusivo citando um oficial de polícia anônimo que disse que dos 120 bombeiros e policiais que foram para a área do desastre, ele só sabe de quatro que escaparam.
Outro meio de comunicação de Hong Kong, o Oriental Net, citou relatórios de mídia social que afirmam que soldados foram vistos carregando centenas de corpos.
Usuários de mídias sociais se queixaram que suas mensagens estão sendo apagadas.
Censura da informação
Apesar do silêncio oficial sobre a possível causa, a mídia estatal informou que a gerência sênior da Ruihai Internacional já havia sido detida, e que o líder chinês Xi Jinping exigiu punição severa para qualquer responsável pelas explosões.
Autoridades isolaram cerca de uma milha ao redor da área, mantendo os repórteres e outras pessoas afastadas.
Um sinal de desconforto sobre como o incidente é retratado, ocorreu quando a emissora estatal CCTV rapidamente cortou a emissão de uma conferência de imprensa ao vivo em Tianjin, quando o chefe do Gabinete de Proteção Ambiental do município, Wen Wurui, hesitou em responder a uma pergunta de um repórter sobre se os produtos químicos no armazém haviam sido armazenados longe o suficiente de residências.
A Polícia da Internet em Tianjin publicou uma mensagem alertando os usuários da mídia social para não se desviarem dos relatórios oficiais sobre o número de mortos e feridos, dizendo que haveria “tolerância zero para a criação de rumores”.