A explosão do produto interno bruto (PIB) da China

25/10/2014 11:13 Atualizado: 25/10/2014 11:13

A China está desesperada para evitar um pouso forçado na forma do crescimento negativo de seu produto interno bruto (PIB). Atualmente, eles ainda estão um tanto distante de atingir o fundo do poço. Mesmo com os números de crescimento de hoje para o terceiro trimestre de 2014 mostrando 7,3% e, portanto, abaixo da meta de 7,5 estabelecida pelo regime, este não é um pouso forçado ainda.

Infelizmente para a China, no entanto, Ernest Hemingway pode ver suas palavras sobre falência soarem verdadeiras novamente. Em “The Sun Also Rises”, alguém pergunta: “Como é que você foi à falência?” A outra pessoa responde: “De duas maneiras. Aos poucos, e então de repente.”

Neste momento, a China está desacelerando gradualmente, abaixo dos 12% de 2010, para a taxa mais baixa desde a crise financeira em 2009. Os números reais, no entanto, apontam para um crescimento ainda mais baixo. A estimativa do PIB chinês feita pela Bloomberg, consistindo de dados como o consumo de eletricidade e produção de cimento, estima que o crescimento seja de 6,4%.

Dívida

Mas por que o crescimento desaceleraria ainda mais, e como a China poderia falir? Afinal de contas, ela possui mais de US$ 4 trilhões em reservas cambiais. Para responder essas perguntas, é preciso entender que o “milagre” do crescimento chinês foi impulsionado por uma expansão sem precedentes da dívida privada, e não da dívida pública.

Goldman Sachs estima que a dívida total chinesa em relação ao PIB tenha atingido 242% em 2014. Isso é US$ 22,36 trilhões sobre o PIB de 2013. Num caso de inadimplência, os ativos em moeda estrangeira de US$ 4,4 trilhões não serão suficientes – sem considerar a tecnicalidade de que esse crédito é estrangeiro e não pode ser usado para extinguir dívidas denominadas na moeda nacional yuan (ou renminbi).

É claro que há inúmeras maneiras de a China gerenciar essa dívida, por exemplo, imprimindo mais dinheiro. No entanto, o crescimento real ainda diminuirá por que a dívida foi “investida” em empreendimentos principalmente improdutivos pelo setor privado. Dos 242 pontos percentuais, 169 foram amontoados pelo setor privado principalmente em habitações inutilizadas e em excesso de capacidade de produção.

Para ilustrar, a China tem agora 1.647 estaleiros em comparação com 10 na Coréia do Sul e 15 no Japão. Quanto ao setor imobiliário, a quantidade de espaço em construção em relação ao espaço vendido em 40 cidades aumentou de 3,4 vezes em 2007 para 5,8 vezes em 2013, segundo a Secretaria Nacional de Estatísticas da China.

Desalavancagem

Tudo isto estaria bem se os ativos subjacentes à dívida realmente conferissem algum retorno. A beleza desse modelo é que novas construções, sejam estaleiros ou casas, aparecem no PIB imediatamente. No entanto, uma produção contínua, um PIB sustentável e principalmente para o retorno do investimento é preciso um projeto viável.

Casas vazias e estaleiros subutilizados não se encaixam nesses cálculos. Se os investimentos não retornam certo fluxo de caixa, os devedores (principalmente empresas privadas) primeiramente não terão dinheiro para pagar a dívida e por outro lado não terão dinheiro para investir mais no futuro. Por isso, o declínio no crescimento do investimento em ativos fixos por empresas privadas caiu de 35% em 2012 para menos de 20% em 2014.

Neste momento, a maioria dos mutuários está apenas reduzindo a atividade de investimento e servindo a dívida. No entanto, vimos os primeiros padrões de empresas privadas se tornando inadimplentes na China já no início deste ano. Este processo é chamado de desalavancagem e implica livrar-se de dívidas improdutivas e ativos inutilizados, por vezes por meio de falência, e então começar de novo.

Quanto mais tempo a crise se arrasta, mais empresas reduzirão o investimento e falharão em servir suas dívidas. Então, toda a dinâmica da desalavancagem mudará de gradual para de repente, tudo muito rapidamente.