Exército de censores da China vigia atentamente a internet

08/10/2013 13:19 Atualizado: 08/10/2013 13:19
Um cibercafé em Pequim. Há cerca de dois milhões de analistas de opinião monitorando o discurso online, diz a mídia chinesa (Gou Yige/AFP/Getty Images)
Um cibercafé em Pequim. Há cerca de dois milhões de analistas de opinião monitorando o discurso online, diz a mídia chinesa (Gou Yige/AFP/Getty Images)

Isso tem sido um assunto de conhecimento público há anos – ridicularizado energicamente e, muitas vezes, ironicamente na China – que o Partido Comunista Chinês (PCC) emprega um exército de censores de internet e espiões para manter o controle sobre a expressão na internet.

Agora, o regime admitiu a contratação de pelo menos dois milhões destas pessoas: a função é conhecida como “analista de opinião pública” e, segundo o regime, é uma carreira que eles gostariam de ter mais pessoas a bordo. Treinamentos oficiais para profissionais analistas de opinião pública serão realizados este mês, segundo a imprensa chinesa.

“Nós monitoramos a internet principalmente em nome dos líderes do PCC”, disse Shan Xuegang, secretário-adjunto do Departamento de Acompanhamento da Opinião Pública do regime, em entrevista ao Beijing News. Na mesma entrevista, o Beijing News, que é uma mídia controlada pelo PCC, divulgou a cifra de dois milhões. Os clientes de Shan vêm de todos os níveis do PCC e do governo, bem como de empresas estatais, informou o Beijing News.

O foco dos monitores de opinião pública está agora nas mídias sociais: plataformas como o Weibo (um serviço similar ao Twitter), seções de comentários em sites de notícias e outros fóruns onde os cidadãos chineses se expressam online. O material é compilado e, em seguida, relatado hierarquia acima.

Servir o cliente

“Sente-se em frente ao computador todos os dias; insira palavras-chave definidas pelos clientes; monitore as opiniões públicas negativas sobre eles; compile as informações; informe aos clientes”, disse Tang Xiaotao, descrevendo o trabalho como analista de opinião pública que ele realizou por cerca de seis meses.

Além de empregar seus próprios funcionários, o regime chinês também terceiriza funções de vigilância para empresas como a que Tang trabalhava. O software de monitoramento geralmente custa de 50 mil yuanes (US$ 8 mil) até vários milhões de yuanes; o que sua empresa utiliza custou três milhões de yuanes (US$ 490,077), disse ele.

Armado com uma ideia do que o público pensa, os clientes – ou seja, as agências do PCC – podem tomar contramedidas. Um exemplo, explicou Tang, foi quando a epidemia da gripe aviária H7N9 apareceu no início deste ano.

“Os internautas começaram a postar online sobre a gripe aviária. Então, nós informamos isso”, disse Tang. “Os líderes provinciais julgaram que criaria má influência se deixássemos a opinião pública prosseguir sem restrição. Então, eles decidiram instruir a mídia a limitar relatos a respeito.”

Algumas empresas anunciam sua capacidade de monitorar a internet 24 horas por dia, enquanto outros são capazes de suprimir opiniões negativas assim que elas aparecem.

Fúria online

Os internautas chineses, como seria de esperar, ficaram furiosos com a notícia. “Essa medida dá muita segurança a oficiais corruptos”, disse Qia Benke. Internautas têm sido extremamente ativos em detectar e destacar a corrupção no oficialismo chinês e tais restrições sufocam tais exposições, disse ele. “Posso perguntar em que a lei a exclusão do discurso online é baseada?”, questionou o instrutor universitário Zhang Bo.

He Qinglian, uma comentarista da economia e política chinesa, escreveu num comentário na Voz da América: “A diferença entre este e outros setores da sociedade é que seu objetivo é reforçar o controle político. A especialidade desta indústria é que ela consome a riqueza social, mas não cria nenhum valor.” Ela acrescentou: “Na China, esses trabalhos são financiados com os impostos, mas o trabalho vai contra o contribuinte.”

Salários confortáveis

Analistas de opinião pública são pagos de acordo com sua experiência, relatou a China Radio Network, uma porta-voz do PCC. A posição inferior recebe um salário de 6 a 8 mil yuanes (US$ 980-1.300) por mês, segundo o artigo. Isso constituiria uma renda muito respeitável na maior parte da China.

As sessões de treinamento de outubro, realizadas pelo Diário do Povo, um jornal porta-voz do PCC, equiparão os monitores de internet com formas de “analisar e julgar a opinião pública”, bem como “administrar crises de opinião pública”. Os participantes terão de passar por um exame antes de receber seu certificado e se tornar um monitor de opinião pública profissional.

Tarefas políticas

Às vezes, os monitores também têm seu papel expandido para cuidar de tarefas políticas sensíveis ao PCC. Em 2009, a Universidade Politécnica de Henan escreveu no anúncio de treinamento de sua “equipe de administração e segurança da informação” que eles haviam crescido cinco vezes – para 103 pessoas desde 2002 – e que suas novas funções incluíam “prestar muita atenção” nas atividades na internet dos praticantes do Falun Gong, uma disciplina espiritual perseguida pelo PCC, e registrar suas atividades.