Uma questão que se mostra presente atualmente nas academias é a forma como as pessoas se exercitam, focando-se em grupamentos musculares. Esta, entretanto, não é a única forma de treinamento. Focar-se em movimentos e pensar em seu corpo como algo integrado pode fazer a diferença na hora de se exercitar.
Quando nos movemos, várias articulações e músculos trabalham em conjunto para realizar este movimento. O corpo funciona de maneira integrada, e dessa forma, ele pode ser mais eficiente em suas tarefas.
Considere, por exemplo, a ação de se abaixar e pegar uma mala do chão. Várias articulações e músculos atuam em uníssono para realizar esse movimento simples, que todos fazemos quase que diariamente. A coordenação entre esses diversos músculos (coordenação intermuscular) é o que torna o movimento forte, fluido e coordenado.
No corpo humano, o resultado da união das partes é maior do que a simples soma das partes. Faz sentido então treinarmos movimentos em vez de simplesmente treinar os músculos de maneira isolada (ou seja, movimentos que envolvem apenas uma articulação, como por exemplo, uma rosca concentrada, em que o músculo principal trabalhado é o bíceps).
O corpo humano manifesta-se através da interação equilibrada e harmônica dos músculos. Sem treiná-los dessa forma, os movimentos ficam rígidos, difíceis e sem a fluidez característica dos grandes atletas, bailarinos, ginastas, artistas marciais, etc.
É o que acontece com muitas pessoas nas academias hoje em dia. Lá você tem um dia de ‘peito’, um dia de ‘braço’, um dia de ‘pernas’, etc. Não vou dizer que as pessoas nunca podem treinar dessa forma e que treinar assim é completamente errado. Mas a pessoa precisa saber por que está treinando assim e que esta não é a única forma de se treinar.
Isso não deve ser empurrado ao publico como ‘musculação’ e caso você não treine assim não terá bons resultados. Isto não podia estar mais longe da verdade!
Economia de tempo
Quando se treinam movimentos ao invés de grupos isolados de músculos, há economia de tempo. Tomemos o agachamento como exemplo. Você poderia treinar seus quadríceps na cadeira extensora (parte frontal da coxa), seus isquiotibiais na cadeira flexora (parte de trás da coxa), seus adutores, abdutores, os extensores da coluna, panturrilhas, todos em suas respectivas ‘máquinas’ ou você pode tomar o caminho mais curto e simplesmente agachar!
O agachamento treina todos esses músculos em maior ou menor grau. Imagine a economia de tempo! E o que é ainda mais interessante, pelo fato do agachamento movimentar tantos músculos e tantas articulações simultaneamente, a eficiência deste exercício em termos de resultado em ganho de massa magra, performance atlética, força e até mesmo perda de gordura, é quase que incomparável.
Você poderia entrar em uma academia, treinar seus agachamentos no seu ‘dia de perna’ e ir para casa. Isso é exatamente o que muitos atletas de elite fazem!
Para uma pessoa normal, que tem interesse em ganhar um pouco de músculos, perder um pouco de gordura e se manter saudável, é a fórmula perfeita.
Rápido, eficiente, porém cansativo. Agachar é uma tarefa árdua. Requer, acima de tudo, força de vontade e técnica perfeita. É justamente nesse ponto que ele perde para as outras alternativas ‘mais fáceis’, pois ensinar o agachamento requer tempo e atenção aos detalhes, coisas que um professor comum de academia muitas vezes não tem. Isso vale também para os membros superiores onde exercícios como, barra, supino, remadas, paralelas, etc., são muito mais eficientes do que fazer 20 séries de rosca concentrada, extensão de tríceps e treinar o peito no ‘crossover’.
Não quero dizer aqui que exercícios isolados não têm seu lugar na preparação física ou (principalmente) na reabilitação. Porém eles com certeza são apenas ‘a cereja em cima do bolo’, enquanto que o bolo propriamente dito, a base da força de uma pessoa, vem de movimentos completos e estes envolvem várias articulações.
Treinar movimentos para se movimentar corretamente!
Pode soar óbvio, mas infelizmente as pessoas não sabem se mover de maneira eficiente. Se mover de maneira eficiente significa mover-se de maneira biomecanicamente correta, seguindo exatamente a forma como as articulações foram feitas para se mexer, fazendo assim com que exista o menor gasto possível de energia para dado movimento.
Para ilustrar este ponto, imaginem um carro com as rodas desalinhadas. Inicialmente ao dirigir a pessoa sente que o carro ‘puxa’ para um lado. Aos poucos um desgaste começa a ocorrer nas rodas e o gasto de combustível aumenta, já que o carro não está funcionando de maneira ótima, pois existe atrito demais onde não deveria existir.
Imaginem agora, se apesar disso, usamos esse veículo para carregar carga em uma estrada de terra esburacada. Será que essa roda irá piorar? Por consequência, será que o carro todo não irá se deteriorar? Isso é exatamente o que muitas pessoas fazem hoje em dia. Pegam um movimento, fazem este movimento de maneira atroz e ainda por cima põe carga em cima dele. Além deste padrão de movimento estar errado, as pessoas ainda o reforçam com inúmeras repetições e o fortalecem! Você consequentemente ‘aprende’ uma forma não eficaz de se mover e isso leva a lesões por estresse, rupturas de tendões, músculos e ligamentos e, por fim, a triste descoberta de estar ‘velho demais’ para essas coisas.
Lembre-se que a única coisa que você realmente possui e irá carregar com você até o final de sua vida é seu corpo. Acho que vale a pena ‘perder’ um tempo estudando-o, se interessando e perguntando sobre ele a bons profissionais. O corpo é uma ‘máquina’ incrível e com um potencial estupendo. Não se contente em simplesmente fazer o que todo mundo faz. Fazer o que todos fazem trás resultados iguais aos de todo mundo. Questione, indague, seja humilde e aprenda!
Andre Hohl é professor de educação física e trabalha há 8 anos como preparador físico e ‘personal trainer’