Executivos da mídia estatal são presos em campanha anticorrupção

20/06/2014 14:46 Atualizado: 20/06/2014 14:46

Três altos executivos e dois outros funcionários do Canal de Finanças da Central Chinesa de Televisão (CCTV), a emissora estatal porta-voz oficial do regime chinês, foram levados pela polícia como parte de uma investigação de corrupção, segundo reportagens.

As prisões e interrogatórios começaram em junho e são parte de uma campanha anticorrupção nacional e profunda realizada pela liderança.

Guo Zhenxi, o chefe do Canal de Finanças, e Tian Liwu, o produtor, foram investigados “por órgãos judiciais e submetidos a medidas coercivas” sob acusações de suborno, segundo a mídia estatal Xinhua News em 1º de junho.

Em 6 de junho, outro produtor do canal, Wang Shijie, também foi investigado. Após Wang, uma jovem apresentadora e um diretor-roteirista também foram levados pela polícia. Seus detalhes não foram divulgados. Os relatos de prisões não apareceram imediatamente na imprensa chinesa.

A prisão do diretor Guo Zhenxi foi um choque para a indústria de mídia da China. Guo, de 49 anos, trabalhou na CCTV por 22 anos e é considerado um executivo poderoso na indústria midiática. Ele estava no comando do lucrativo departamento de publicidade da emissora e do Canal de Finanças, ambas as funções por mais de oito anos. Esses postos são férteis de oportunidade para o enriquecimento pessoal, segundo histórias comuns de práticas da mídia estatal chinesa.

A esposa de Guo e sua única filha vivem no exterior, informou a imprensa chinesa. Como era de se esperar, a notícia de sua prisão foi acompanhada por histórias de corrupção – um rumor diz que Guo ganhou dois bilhões de yuanes (US$ 325 milhões) em seus oito anos de trabalho no Departamento de Finanças, principalmente por meio do recebimento de subornos. Esses números são impossíveis de confirmar de forma independente.

No entanto, não é estranho que a natureza de seu trabalho lhe desse essas oportunidades. Os principais programas produzidos pelo Canal de Finanças permitiram a Guo estabelecer relações estreitas com grandes empresas em toda a China, e, para um homem de negócios na China, Guo Zhenxi seria o tipo certo de amigo.

Por exemplo, Guo estava no comando de um programa anual transmitido em 15 de março que pretendia defender os direitos dos consumidores, expondo e atacando as práticas de negócios problemáticas de uma empresa-alvo.

Outro programa chamado ‘Dados Econômicos Anuais’ classifica os melhores negócios e empreendedores na China. Ambos os programas são amplamente julgados como uma espécie de “lista negra” e “lista branca” das empresas na China – e muito dinheiro é pago para evitar a ‘lista negra’ e entrar na ‘lista branca’, segundo o jornal estatal Global Times.

Enquanto a prisão de Guo Zhenxi parece ser principalmente devido à corrupção econômica, outras investigações recentes relacionadas à CCTV estariam mais relacionadas com um expurgo de adversários políticos da atual liderança.

Em dezembro passado, Li Dongsheng, o ex-vice-secretário do Ministério da Segurança Pública, foi afastado do cargo e colocado sob investigação. Li foi anteriormente, por muitos anos, vice-presidente da CCTV. O Global Times diz que Guo Zhenxi foi chamado para “ajudar” na investigação contra Li Dongsheng.

No momento de sua prisão, Li era o chefe da Agência 610, uma subdivisão extralegal da polícia secreta do Partido Comunista Chinês criada especificamente para conduzir a perseguição à prática espiritual do Falun Gong, que tem sido brutalmente reprimida na China desde 1999. A Agência 610 foi responsável pelo incitamento e propagação em toda a China da tortura mental e física de praticantes do Falun Gong em custódia das autoridades, com o objetivo de forçar as vítimas a renunciarem a suas crenças espirituais.

Antes de Li Dongsheng deixar a CCTV em 2002, ele ajudou na produção de uma série de programas de televisão que difamavam o Falun Gong e seguiam as diretrizes oficiais de propaganda do regime. No momento de sua queda, histórias dos bastidores sobre Li começaram a emergir, sobre como ele ascendeu subornando funcionários superiores e prostituindo jovens apresentadoras da CCTV. Na China é de conhecimento comum, devido a vários escândalos ao longo dos anos, que a mídia estatal, particularmente a exclusiva emissora de televisão do país, está intimamente envolvida com a prostituição, especialmente para fins políticos.

Wang Shijie, colega de Guo, que também teria sido preso, é um veterano de 20 anos na CCTV, e tinha laços estreitos com Guo. A Caixin, uma revista de negócios na China, informou que Wang controlava a carteira, e consequentemente o acesso ao dinheiro, de todo o Canal de Finanças.

A Central Chinesa de Televisão tem sido o foco da campanha anticorrupção do Partido Comunista recentemente, segundo o Mingjing News, uma mídia chinesa no estrangeiro que apresenta periodicamente artigos sobre a corrupção política na China. O Comitê Central de Inspeção Disciplinar e a Comissão de Auditoria têm cinco equipes dedicadas exclusivamente à CCTV, e mais de 100 funcionários da CCTV já foram interrogados, afirmou a Mingjing. A Mingjing também disse que uma fonte em Pequim afirmou que a corrupção é tão desenfreada na CCTV que a maioria dos apresentadores da emissora são multimilionários e os altos executivos são bilionários.