Exclusivo: Por que Bo Xilai caiu e Xi Jinping desapareceu (Parte 1)

30/10/2012 19:37 Atualizado: 05/12/2012 13:34
A história por trás do tumulto na liderança do regime chinês
A tentativa de deserção de Wang Lijun (1º dominó), o ex-chefe de polícia de Chongqing, colocou em movimento uma cadeia de eventos que expôs e inflamou a luta interna no Partido Comunista. O político chinês antes poderoso Bo Xilai (2º dominó) está enfrentando acusações criminais e seu apoiador e chefe da segurança pública Zhou Yongkang (3º dominó) teve seu poder restrito. (Bo Xilai e Wang Lijun – Feng Li/Getty Images; Zhou Yongkang – Liu Jin/AFP/Getty Images; arte – Vadim Berestetsky/The Epoch Times)

Uma luta de poder de 13 anos no topo do Partido Comunista Chinês (PCC) chegou a seu auge e a liderança chinesa está num momento de decisão.

O sentimento de expectativa é generalizado. Enquanto o caso de Wang Lijun e Bo Xilai se desenrola, com uma revelação após a outra se apresentando diante do povo chinês, os chineses começaram a despertar e agora procuram saber a verdade por trás dos eventos.

O Study Times, uma publicação da Escola do PCC, local onde os líderes do PCC são treinados, escreveu num artigo de 2 de julho que a China enfrenta “grandes mudanças como nunca vistas nos últimos três mil anos”.

Neste momento, todos os olhos observam o julgamento de Bo Xilai para ver como ele será punido. A situação é complexa. Baseando-se em fontes familiarizadas com as discussões nos altos níveis do PCC, o Epoch Times relata o desenvolvimento desta história.

Bo Xilai era o chefe do PCC na cidade-província de Chongqing, no Centro-oeste da China, e um dos líderes de esquerda do PCC. Wang Lijun foi vice-prefeito, chefe de polícia e capanga de Bo Xilai em Chongqing. Quando Wang Lijun informou Bo Xilai da culpa de Gu Kailai, a esposa de Bo Xilai, no assassinato do empresário britânico Neil Heywood, Bo Xilai rebaixou Wang Linjun e cercou as pessoas próximas ao chefe de polícia, matando alguns.

Temendo por sua vida, Wang Lijun fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro. Sua tentativa de deserção expôs ao povo chinês as lutas em curso no topo da liderança do PCC.

A punição para Bo Xilai veio logo em seguida. Em 15 de março, ele foi removido de seus cargos no PCC e então submetido ao abusivo interrogatório do PCC chamado ‘shuanggui’. Depois de meses de suspense e sinais conflitantes, em 28 de setembro, a mídia estatal relatou que Bo Xilai foi expulso do PCC e seria julgado num tribunal criminal por “violações graves da disciplina”, relativas à corrupção e a impropriedades sexuais.

As acusações anunciadas publicamente são uma aposta de uma liderança dividida que ainda não está pronta para resolver as coisas. Os principais líderes do PCC sabem que Wang Lijun revelou após Chengdu: que Bo Xilai, junto com o chefe da segurança pública Zhou Yongkang, planejava um golpe para tomar o poder do indicado próximo líder chinês Xi Jinping. Os líderes do PCC também sabem que Bo Xilai é uma figura-chave por trás de uma enorme atrocidade: a colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong.

O destino de Bo Xilai é o ponto crucial da longa luta entre o atual líder chinês Hu Jintao, o premiê Wen Jiabao, Xi Jinping e seus apoiadores, por um lado, e a facção formada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin, do outro lado. Essa batalha agora envolve todos os atuais altos oficiais do PCC e estadistas aposentados.

Evitando responsabilidade

A decisão de Jiang Zemin de perseguir a prática espiritual do Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, é a questão central que provocou a luta de hoje no PCC.

O Falun Gong foi ensinado publicamente no Nordeste da China em maio de 1992. A prática envolve fazer exercícios de meditação lentos e suaves e viver de acordo com ensinamentos baseados nos princípios da verdade, compaixão e tolerância. A prática se tornou muito popular na China. Em 1999, as autoridades estatais estimaram que entre 70 e 100 milhões de pessoas praticavam o Falun Gong, mais do que os membros do PCC.

Quando Jiang Zemin lançou a campanha para erradicar o Falun Gong em julho de 1999, ele esperava que tudo estivesse acabado em três meses. Porém, no momento em que ele ia se aposentar em 2002, o Falun Gong não mostrava o menor sinal de que seria liquidado.

Isso representava um problema. A campanha de Jiang Zemin colocou o PCC em guerra contra aproximadamente um em cada 12 chineses. Milhões foram enviados para campos de trabalho, onde foram torturados e sofreram lavagem cerebral. Milhares de pessoas foram assassinadas pelos abusos e muitos outros milhares foram mortos por meio da colheita forçada de órgãos de pessoas vivas.

Se Jiang Zemin ou aqueles leais a ele não estivessem no poder, então, os crimes cometidos durante a perseguição seriam expostos e os membros da facção de Jiang Zemin seriam responsabilizados. A luta nos bastidores em torno do 16º Congresso Nacional do PCC em 2002, do 17º Congresso em 2007 e do próximo 18º Congresso tem girado em torno da tentativa da facção de Jiang Zemin de manter o poder e assim evitar ter de prestar contas.

Em 2003, Hu Jintao se tornou secretário-geral do PCC, mas por um longo tempo ele não teve poder real. Jiang Zemin, enquanto presidente da Comissão Militar Central, ainda retinha o poder.

Além disso, enquanto Zeng Qinghong, um assecla de longa data de Jiang Zemin, era vice-presidente do PCC, Hu Jintao e Wen Jiabao tinham dificuldade em ver seus decretos se estenderem além das paredes de Zhongnanhai, o complexo da liderança chinesa em Pequim.

Depois que Jiang Zemin se aposentou completamente em 2004 e Hu Jintao se tornou presidente da Comissão Militar Central, Hu Jintao só tinha autoridade para promover os generais principais.

A respeito do Falun Gong, Hu Jintao e Jiang Zemin tinham visões diferentes.

Para sustentar a perseguição contra os praticantes do Falun Gong, o PCC gastou quantias enormes de dinheiro e levou o sistema jurídico chinês à beira do colapso.

Liu Jing, o ex-vice-diretor da Secretaria de Polícia, disse numa reunião em 2001 que Jiang Zemin queria acrescentar uma Agência 610 – um órgão extraconstitucional do PCC estabelecido por Jiang Zemin para realizar a perseguição ao Falun Gong que tem autoridade sobre todos os níveis do PCC e do Estado – em cada nível do sistema policial.

Hu Jintao disse, “estabelecer mais Agências 610 acrescentará mais pessoal e custará muito caro”.

Jiang Zemin ficou furioso e gritou com Hu Jintao fazendo uma observação que revelava o medo de Jiang Zemin sobre a pacífica prática espiritual, “O Falun Gong está prestes a usurpar seu poder e você está falando sobre pessoal e orçamento?” Hu Jintao ficou em silêncio depois disso.

Depois de uma tentativa de assassinato contra Hu Jintao em 2006, o equilíbrio de poder começou a pender em seu favor.

Em maio de 2006, Hu Jintao foi para o Mar Amarelo inspecionar a frota. Durante a inspeção, metralhadoras de dois navios de guerra abriram fogo contra o destroier de mísseis guiados onde Hu Jintao estava, matando cinco marinheiros.

O destroier fugiu da área em alta velocidade. Para evitar outras tentativas de assassinato, Hu Jintao não retornou a Pequim, mas voou para a província sudoeste de Yunnan. Ele só retornou a Pequim uma semana depois.

Depois disso, Hu Jintao começou a solidificar seu controle sobre os militares, começando por Pequim, depois a Comissão Militar Central e em seguida Chongqing.

Luta sobre Xi Jinping

No jogo de alto risco entre Jiang Zemin e Hu Jintao, o próximo movimento-chave envolveu a determinação da composição do Comitê Permanente do Politburo – o corpo de nove homens que dirige o PCC – e quem seria o sucessor de Hu Jintao; ambos seriam anunciados no 17º Congresso do PCC em 2007.

Zeng Qinghong, um apoiador de Bo Xilai, foi forçado a se aposentar do Comitê Permanente. Hu Jintao favoreceu trazer a bordo Li Keqiang, na época o chefe do PCC na província de Liaoning, e Xi Jinping, o então chefe do PCC na província de Zhejiang. Hu Jintao colocou ambos no Comitê Permanente e queria Li Keqiang nomeado como seu sucessor.

Jiang Zemin e Zeng Qinghong continuaram a bloquear Hu Jintao e não estavam dispostos a deixar que Li Keqiang assumisse o poder. Jiang Zemin não tinha ninguém no Comitê Permanente que ele pudesse nomear no lugar de Li Keqiang, assim ele aceitou Xi Jinping relutantemente.

Hu Jintao e o premiê Wen Jiabao não tinham problema em aceitar Xi Jinping, pois compartilhavam uma visão comum. Todos os três se consideram discípulos de Hu Yaobang, o secretário-geral do PCC que ajudou a promover a reforma econômica na China comunista e que favorecia a reforma política.

No entanto, a nomeação de Xi Jinping por Jiang Zemin era uma manobra. Jiang Zemin tentava ganhar tempo.

As esperanças reais de Jiang Zemin estavam empenhadas em Bo Xilai. Bo Xilai tinha desenvolvido a “Chongqing Modelo”, um programa político que alegava melhorar a lei e a ordem reprimindo gangues e revivendo o status do PCC, incentivando expressões maoístas de devoção ao PCC.

A facção de Jiang Zemin planejava que Bo Xilai fosse nomeado no 18º Congresso sucessor do chefe da segurança pública Zhou Yongkang no Comitê Permanente do Politburo e na chefia do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL). O CAPL controla o Judiciário, o Ministério Público, o Ministério da Segurança Pública, o Ministério da Segurança do Estado, Ministério da Justiça, a polícia militar e civil e outros departamentos e agências relevantes.

Jiang Zemin e Zhou Yongkang haviam aumentado o orçamento e o alcance do CAPL, tornando-o um segundo centro de poder no PCC. Com Bo Xilai encarregado do CAPL, ele poderia, quando o tempo estivesse maduro, utilizar os 1,5 milhão de policiais da polícia militar para depor Xi Jinping e tomar o poder. A perseguição ao Falun Gong poderia então ser mantida.

As bases para este plano estavam em posição, mas então Wang Lijun fugiu para Chengdu.

Atacando Jiang Zemin e Zhou Yongkang

Em preparação para o 18º Congresso do PCC, Hu Jintao tem testado a viabilidade de Jiang Zemin. Ele conseguiu que um oficial do PCC vazasse para a mídia de Hong Kong a notícia da morte de Jiang Zemin. Ele queria ver como os membros da facção de Jiang Zemin e os chineses reagiriam à notícia e forçar Jiang Zemin a aparecer em público, quando Hu Jintao teria uma ideia mais clara da saúde de Jiang Zemin.

O povo chinês soltou fogos de artifício em comemoração pela notícia da morte de Jiang Zemin, enquanto a resposta da facção de Jiang Zemin não mostrou força.

Quando o escândalo de Wang Lijun veio à tona, Hu Jintao estava preparado para aproveitar a oportunidade e usar o escândalo para derrubar Bo Xilai. Hu Jintao visava Jiang Zemin ao tentar derrubar Bo Xilai.

Enquanto isso, Hu Jintao e Wen Jiabao começaram a restringir Zhou Yongkang e tentaram usar o advogado e ativista cego Chen Guangcheng para ajudar a enfraquecer ainda mais Zhou Yongkang.

Em torno de 27 de abril, Chen Guangcheng, cuja família havia sido detida numa prisão domiciliar sufocante pelo CAPL na cidade de Linyi, província de Shandong, de repente, entrou na embaixada dos EUA em Pequim, a centenas de quilômetros de distância.

Num vídeo, Chen Guangcheng disse que o CAPL sob Zhou Yongkang era ilegal e listou os abusos que sofreu por vários anos. Chen Guangcheng dirigiu a Wen Jiabao a questão, as autoridades locais infringem a lei por conta própria ou são orientadas a fazer isso por funcionários do governo central? Chen Guangcheng acrescentou, ao dirigir sua observação a Wen Jiabao, “Eu acho que você deveria dar uma resposta clara para o povo em breve.”

O vídeo de Chen Guangcheng colocou grande pressão sobre o PCC quanto a Zhou Yongkang.

A fuga de Chen Guangcheng de Linyi não foi sorte ou coincidência. Altos oficiais do PCC ajudaram-no secretamente a fazer isso.

Assim que todos começaram a focar em Zhou Yongkang, Hu Jintao não encontrou resistência.

Revidando

Zhou Yongkang usou o Global Times e outras mídias controladas por ele para acusar Hu Jintao de convidar a “interferência dos EUA em assuntos internos da China”.

Os Estados Unidos e a China chegaram a um acordo seis dias depois para a saída de Chen Guangcheng da embaixada, mas Zhou Yongkang interferiu e forçou Chen Guangcheng a escolher o exílio no exterior. Ao mesmo tempo, Zeng Qinghong também começou a incentivar líderes veteranos do PCC a pressionarem Hu Jintao e Wen Jiabao para não derrubarem Zhou Yongkang.

Os irmãos Ye, Ye Xuanping e Ye Xuanning, destacavam-se entre os veteranos a quem Zeng Qinghong apelou. Eles são filhos do marechal Ye Jianying, um dos fundadores do PCC, e ambos são poderosos.

Ye Xuanning é considerado o líder espiritual dos príncipes – os filhos da geração fundadora do PCC. Ye Xuanning tem controlado o sistema chinês de espionagem militar por um longo tempo e tem muita influência entre os militares.

A grande preocupação da família Ye era que se Zhou Yongkang caísse, o PCC entraria em colapso.

Hu Jintao decidiu abandonar a ideia de prender Zhou Yongkang e procurou lidar com ele de outra maneira.

No início de maio deste ano, 200 altos oficiais do PCC participaram de uma reunião realizada no Hotel Jingxi, que a Reuters descreveu como tendo sido convocada para “fortalecer a unidade e antecipar os preparativos para o 18º Congresso do PCC”.

De acordo com uma fonte familiarizada com a reunião, Hu Jintao definiu as seguintes orientações: Zhou Yongkang deve se aposentar totalmente. Depois de entregar o poder, ele também perderá o poder de nomear seu sucessor no CAPL. Zhou Yongkang teria permissão para cortar os laços com o caso de Bo Xilai e permanecer no cargo até depois do 18º Congresso do PCC.

Os participantes chegaram a um acordo que Zhou Yongkang ainda poderia manter uma imagem significativa em público, criando uma aparência harmoniosa e estável, a fim de assegurar uma transição suave do poder.

Enquanto isso, foi feito um acordo que incluía a linha-dura, liderada pelo ministro da Propaganda Li Changchun e Zhou Yongkang, para concordar com as propostas de Wen Jiabao de reforma política. Embora as reformas acordadas fossem muito limitadas, elas incluiriam o que foi descrito como “eleições livres de alto nível”. A província de Guangdong assumiria a liderança com um programa piloto.

Estes acordos pareciam traçar um caminho para um PCC dividido. Mas eles logo seriam alterados.

Epoch Times publica em 35 países em 19 idiomas.

Siga-nos no Facebook: https://www.facebook.com/EpochTimesPT

Siga-nos no Twitter: @EpochTimesPT