EXCLUSIVO: Líderes chineses divididos sobre o czar da segurança

16/04/2012 15:00 Atualizado: 16/04/2012 15:00

A tentativa de deserção em 6 de fevereiro do ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun (primeiro dominó), colocou em movimento crescentes mudanças na hierarquia do Partido. O ex-chefe do Partido de Chongqing, Bo Xilai (segundo dominó), foi demitido em 15 de março e, em seguida, colocado sob investigação em 10 de abril. Agora, há rumores que Zhou Yongkang (dominó terceiro), o poderoso czar da segurança doméstica, está na corda bamba. (Bo e Wang Feng Li/Getty Images) (Zhou: Liu Jin/AFP/Getty Images)Primeiro-Ministro propõe expor crimes de Zhou Yonkang

Como a estrela política do ex-chefe do Partido de Chongqing, Bo Xilai, recentemente caiu em estilo dramático, o foco se desviou para seu aliado Zhou Yongkang, chefe do aparato de segurança nacional. Zhou Yongkang é o chefe do poderoso Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL) e membro do Comitê Permanente do Politburo, um dos nove homens que detém o poder supremo do Partido Comunista Chinês (PCCh).

Os principais líderes do Partido estão divididos sobre como lidar publicamente com Zhou e a investigação em torno dele, disse uma fonte de Pequim ao Epoch Times. Em 12 de abril, o jornal coreano Chosun Ilbo citou informação vazada do círculo de relações exteriores de Pequim e relatou que na noite de 19 de março o Comitê de Inspeção Disciplinar tinha começado uma investigação sobre Zhou.

A fonte de Pequim disse que os líderes conhecem os crimes de Zhou há um longo tempo, mas hesitam expô-los por medo de que revelar a dimensão de seus crimes seja tão chocante para as pessoas que poderia significar o fim do PCCh.

A fonte revelou que o Primeiro-Ministro Wen Jiabao tem demandado que os crimes de Zhou contra o Falun Gong sejam expostos, incluindo o uso generalizado de tortura e casos de praticantes do Falun Gong sendo mortos por seus órgãos.

A publicação da informação sobre os crimes de Zhou parece ser o próximo passo numa campanha que visa a facção do PCCh a que Zhou pertence. Essa facção está amarrada junta como responsável pela perseguição ao Falun Gong, que o ex-líder do Partido, Jiang Zemin, lançou em julho de 1999. O condenado Bo Xilai, Zhou Yongkang, Luo Gan (antecessor de Zhou como chefe do CAPL), Zeng Qinghong, (atual chefe do Congresso Nacional Popular), e outros altos funcionários do Partido foram promovidos por Jiang como recompensa pelos papéis que desempenharam em perseguir o Falun Gong.

O regime lançou uma campanha de mídia pesada contra Bo. Na noite de 10 de abril, a CCTV e o Diário do Povo informaram que Bo foi suspenso de seus dois postos. Em 11 de abril, todos os meios de comunicação chineses repetiram exatamente a mesma reportagem da CCTV e do Diário do Povo. Os comentários publicados no Diário do Povo por três dias consecutivos, em 11, 12, e 13 de abril, deixavam clara a mensagem que todos deviam apoiar a decisão do governo central sobre Bo.

Em 11 de abril, os noticiários noturnos da CCTV mostraram entrevistas do público em geral, incluindo oficiais do Partido e pessoas comuns de diferentes regiões do país. Todos os entrevistados disseram, “Apoiamos firmemente a decisão do governo central sobre Bo.”

Muitos observadores da China compreendem que, quando o Partido enfatiza uma mensagem, algo está errado e o Partido quer garantir que não haja resistência.

Em 14 de abril, o foco da mídia mudou de Bo para Zhou.

O Diário do Povo publicou um editorial intitulado “Ninguém deve pensar que as acusações criminais não prosseguirão contra os altos oficiais do Partido.” Jiang Zemin havia previamente estabelecido uma regra não-oficial informando que “não haveria qualquer investigação dos membros ao nível do Comitê Permanente do Politburo”.

Shi Zangshan, um especialista em China baseado em Washington DC, considerou a declaração do Diário do Povo altamente ameaçadora. “Não é dito apenas que Zhou Yongkang estará em apuros. Também é sugerido que se os oficiais da facção de Jiang, que estão relacionados a Bo Xilai e Zhou, escolherem o lado errado, eles estarão em perigo.”

Muitos documentos que expõem os crimes de Zhou começaram a aparecer na internet desde 10 de abril, incluindo a pretensa encenação de um acidente de carro que matou sua ex-mulher e um plano de golpe no qual ele atuou como o principal organizador, que conforme dito na internet foram revelados pela esposa de Bo, Gu Kailai, a fim de evitar a pena de morte. Gu está sob investigação pela morte do empresário britânico Neil Heywood ocorrida em novembro de 2011.

Em 12 de abril, internautas chineses não conseguiram acessar sites estrangeiros por mais de uma hora e usuários em vários outros países tiveram problemas para se conectar a sites chineses. Especulações na internet atribuíram a interrupção à Central do Partido querendo ter a capacidade de cortar a internet do país caso haja agitação política em conexão com a atual luta contra a facção de Jiang.

“Alguns materiais contêm informações muito detalhadas que não poderiam ser feitas em um ou dois dias”, disse Shi. “Estes materiais só poderiam ter sido revelados por oficiais do PCCh de certo nível ou conhecido por pessoas que tinham relações particularmente estreitas com Zhou. Isso mostra que os principais líderes têm um plano bem desenvolvido contra Zhou.”

Zhang Tianliang, um comentarista de assuntos contemporâneos do Epoch Times, disse que há informações mais contundentes contra Zhou sendo liberadas do que houve contra Bo há um tempo e que estão saindo numa velocidade muito rápida. “Hu e Wen estão prontos para remover Zhou Yongkang. Acho que depois de um tempo, quando os boatos contra ele se intensificarem, eles vão derrubar Zhou.”

Wu Kangmin, conhecido esquerdista de Hong Kong, que se reuniu com Wen Jiabao em pessoa no ano passado, escreveu no website Ming Pao de Hong Kong prevendo que uma terceira onda chegaria em breve sobre o incidente de Bo. “Se for a hora certa, o plano de Zhou de um golpe de Estado será revelado ao público. Nesse momento, isso envolverá outros altos oficiais”, disse ele.

Entre os rumores que circulam em Pequim está a alegação de que Hu Jintao está ponderando adiar o 18º Congresso do Partido, marcado originalmente para outubro. Este congresso será a ocasião para a mudança da liderança, em que Xi Jinping deverá se tornar chefe do PCCh.

Outro comentarista, Tang Jingyuan, disse ao Epoch Times que os rumores de um possível adiamento do 18º Congresso do Partido enviam uma mensagem clara de que Zhou será expurgado, mas pode levar algum tempo para limpar a facção inteira.

Shi disse que existe um desacordo dentro do Partido sobre como proceder contra Zhou. Alguns defendem usar apenas atos criminosos e corrupção contra ele, outros, mais notavelmente o Primeiro-Ministro Wen Jiabao, querem responsabilizá-lo por tortura, a extração forçada de órgãos, e outros crimes cometidos na perseguição aos praticantes do Falun Gong.

Em qualquer caso, Shi acredita que Zhou não tem apoio significativo agora.

“Como Jiang Zemin já está em estado vegetativo, sua facção dentro do Partido está prestes a ruir. Ninguém pode substituir Zhou Yongkang e ninguém se atreve a protegê-lo”, disse Shi.