Exclusivo: Honestidade de intelectual chinês força-o ao exílio

17/07/2012 03:30 Atualizado: 17/07/2012 03:30

Praça da Paz Celestial, Stuart Franklin, 1989. (Jane Gray/The Epoch Times)Vida de ex-oficial da UNESCO é parte de uma tragédia maior

A vida de um velho amigo meu é emblemática da tragédia que se abateu sobre a intelligentsia da China sob o regime do Partido Comunista Chinês (PCC).

Zhao Fusan, um representante chinês nas Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) de 1985 a 1989, fugiu para o exílio depois que fez um discurso franco sobre o massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) numa conferência da UNESCO.

A transformação de Zhao, de ser uma ferramenta voluntária nas mãos do PCC para, de repente, se tornar um opositor do regime, é um fenômeno generalizado na China de hoje.

Escapada

Durante o massacre de 4 de junho de 1989 na Praça Tiananmen, Zhao era um membro do Conselho Executivo da UNESCO e líder de uma delegação da UNESCO numa reunião em Paris.

Depois de 4 de junho, Zhao recebeu duas informações opostas sobre o massacre. Uma era de sua família, que confirmou estar em segurança, mas também informou sobre a morte de um vizinho causada por uma bala perdida. A outra era do regime de Deng Xiaoping, que sustentou que ninguém havia morrido no incidente de Tiananmen.

Na reunião da UNESCO em 9 de junho, os delegados estavam todos chocados com a notícia do massacre da Praça Tiananmen e a agenda foi posta de lado para permitir a discussão do evento.

O único chinês entre os representantes de todo o mundo, Zhao pronunciou três frases. Ele disse que ficou chocado com o massacre de Tiananmen, expressou suas condolências às vítimas e disse que a história da China seria reescrita a partir daquele ponto. Estas três declarações tiveram um impacto.

Retornando à residência da delegação chinesa depois da reunião, Zhao notou pessoas do departamento de segurança olhando inquisidoramente para a porta. Isso fez Zhao questionar se ele seria o próximo na fila para ser levado de volta a Pequim. Um diplomata chinês para Cuba foi escoltado para Pequim dois dias antes por falar francamente demais.

Após a reunião da ONU em 12 de junho, Zhao decidiu não retornar a sua residência, mas foi para a casa de sua filha em Paris. Desde então, ele estava no exílio, numa estrada sem retorno.

Por vários meses Zhao se escondeu na casa de um artista no interior da Alemanha, arranjada pelo Centro de Intercâmbio Cultural Francês. Mais tarde, ele viveu na casa de outra filha, na Bélgica. Depois de mais de um ano, ele foi ensinar na Universidade de Oklahoma nos Estados Unidos.

Ao todo, Zhao passou cerca de 10 anos no exílio na França, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos. Ele se aposentou na Universidade de Oklahoma em 1999 e, depois, passou a viver na Bélgica, onde se casou com Chen Xiaose, uma professora da Universidade de Yale.

O sofrimento da família

O pai de Zhao, Zhao Shike, foi enviado aos Estados Unidos num programa de estudo pela Universidade Tsinghua. Depois de voltar para a China, ele serviu como diretor de uma escola profissional chinesa.

Zhao Shike também participou em atividades clandestinas do PCC e seus quatro filhos estavam ativos nos movimentos estudantis antes de 1949. Mais tarde, a família passou por muitas experiências dolorosas.

O filho mais velho, que se tornou diretor do Hospital da Universidade União Médica de Pequim, foi perseguido e se suicidou durante a Revolução Cultural, que durou de 1966 a 1976.

O segundo filho, Zhao Zhongyu, era engenheiro numa mina de carvão e morreu ao resgatar pessoas num acidente de uma mina.

O sogro de Zhao Zhongyu era um professor norte-americano da Universidade Nankai, em Tianjin, que foi rotulado como um espião norte-americano durante a Revolução Cultural. Sua filha, a esposa de Zhao Zhongyu, foi implicada, juntamente com seu pai. Ela foi torturada até a beira da sanidade e mais tarde morreu de alcoolismos e automutilação.

Servo do PCC

Mesmo que a história da família de Zhao Fusan com o Partido Comunista fosse tão dolorosa, ele desempenhou um papel importante para o PCC.

Zhao era diretor-geral do Movimento Patriótico dos Três-Autos das Igrejas Protestantes em Pequim quando o conheci. O Movimento Patriótico dos Três-Autos é controlado pelo PCC e, por sua vez, controla as expressões do cristianismo oficialmente sancionadas na China.

Zhao deu a impressão de ser gentil e culto e bastante familiarizado com a fé cristã e a Bíblia.

Naquela época, as autoridades chinesas convidaram celebridades estrangeiras não-governamentais e figuras religiosas. Estes indivíduos podiam ser úteis ao PCC e foram oferecidos recepções, tratamento especial e passeios turísticos gratuitos.

Zhao era tão qualificado que o clero estrangeiro ficava impressionado com ele. Suas recepções de convidados estrangeiros tiveram um efeito particularmente bom. No entanto, ele alegava que não era membro do PCC, ele tinha herdado as crenças religiosas de sua família e, portanto, não poderia aderir ao partido comunista ateísta.

Uma tragédia chinesa

Eu achei as experiências de vida de Zhao bastante similares as minhas. Sob a propaganda do PCC, tantos jovens apaixonados foram enganados e se dispuseram a passar pelo inferno por isso. Trabalhamos incansavelmente para o PCC.

Nós até mesmo fizemos o regime parecer bom, contra nossas consciências, nos tornamos seus instrumentos voluntários. Sob repetidas rodadas de aprendizado, nós gradualmente despertamos para a realidade, incluindo eu; esta é uma tragédia compartilhada da nossa geração.

Zhao Fusan me disse que seus 86 anos de vida podem ser divididos em duas partes. Os primeiros 60 anos que ele passou em busca de ideais e os últimos 26 anos que ele tem desmantelado os ideais.

“Eu tenho sido diligente e consciencioso toda minha vida. Mas, no final, como eu poderia justificar tal bagunça em minha vida?”, perguntou Zhao.

Yao Cong é um ex-pesquisador no Instituto Americano da Academia Chinesa de Ciências Sociais.

Este artigo é uma versão traduzida e editada de uma versão exclusiva para o Epoch Times.