Editorial Especial: A menos que a perseguição acabe, discussão de reforma na China é conversa fiada

10/11/2013 15:05 Atualizado: 23/11/2013 09:53

O Partido Comunista Chinês (PCC) está tentando se reinventar e a 3ª Sessão Plenária do Comitê Central, que abriu no dia 9 de novembro, pretende ser a plataforma para colocar o PCC num novo caminho de reforma econômica.

Em 28 de outubro, um dia antes do anúncio das datas do Plenário, um veículo que transportava três uigures dirigiu pela Praça da Paz Celestial em Pequim, a sede simbólica do poder do regime chinês. O carro deixou dezenas de feridos e três mortos em seu rastro antes de bater e explodir, matando os que estavam no interior.

O caos na praça mostrou-se um contraponto sinistro às esperanças oficiais para um novo e brilhante começo.

O caos no PCC tem sido visível desde 6 fevereiro de 2012, quando Wang Lijun, o ex-chefe de polícia de Chongqing, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em busca de asilo. A tentativa de Wang de escapar rasgou a cortina da luta pelo poder no PCC.

Pouco mais de um mês depois, Bo Xilai, o menino de ouro maoísta, foi destituído de seus títulos no PCC e colocado sob investigação. O movimento contra Bo apenas aumentou as tensões, enquanto o então líder chinês Hu Jintao e depois seu sucessor Xi Jinping travavam uma guerra contra a facção do ex-líder chinês Jiang Zemin.

Na mesma época que a turbulência política no PCC veio à tona, a nação chinesa percebeu que uma tentativa anterior de renovar o PCC através de reformas econômicas tinha falhado.

Após o desastre da Revolução Cultural; no final de 1970, o PCC voltou-se para a reforma econômica como uma forma de sobreviver. Mas o sistema político do regime conseguiu crescimento econômico à custa de abusos de direitos humanos, devastação ambiental e consumo excessivo de recursos. Agora, o crescimento econômico está falhando e a economia ameaça implodir.

Aprofundando a crise do regime, a ideologia do PCC é agora apenas fachada. Não importa quantas reuniões do PCC ocorram em que quadros sejam obrigados a recitar a doutrina, essas palavras vazias não podem compelir à crença.

O fracasso contínuo do crescimento econômico dissolve o último resquício de legitimidade do PCC. É por isso que o PCC anunciou que a reforma econômica seria o foco principal do próximo plenário, para dar ao público uma razão para acreditar que o PCC tem uma saída.

Luta interna

Desde que Xi Jinping se tornou secretário-geral do PCC em novembro de 2012 e Li Keqiang premiê em março de 2013, as medidas que eles propuseram encontraram forte oposição dos mais altos escalões do PCC.

Isto é em parte porque o PCC nunca permitirá qualquer mudança fundamental em seu autoritarismo. Mas, além disso, qualquer tentativa de mudança atingirá um nervo exposto nos membros da facção de Jiang Zemin.

Em 20 de julho de 1999, o então líder chinês Jiang Zemin lançou uma campanha de perseguição ao Falun Gong. Jiang temia essa antiga prática espiritual, cujos seguidores fazem exercícios de meditação e vivem de acordo com os princípios da verdade, compaixão e tolerância.

O Falun Gong se tornou muito popular. Os números oficiais do regime estimaram que pelo menos 70 milhões o praticavam, mais do que os membros do Partido Comunista. Entre seus praticantes, Jiang observou que havia generais, quadros do PCC de alto escalão e membros dos serviços de segurança. Os ensinamentos do Falun Gong estavam eclipsando a doutrina do PCC no coração do povo chinês.

Jiang ordenou a erradicação da prática e disse aos implementadores da campanha de perseguição que todos os meios estavam autorizados. Tortura brutal, lavagem cerebral e morte se seguiram. Funcionários do PCC estabeleceram um lucrativo comércio de colheita de órgãos, eles pilhavam os órgãos de praticantes saudáveis do Falun Gong enquanto ainda estavam vivos. Investigadores acreditam que mais de 60 mil foram mortos desta forma entre 1999-2008, com mais mortos a cada ano desde então.

Estas medidas extremas foram tomadas sem sequer o pretexto de uma única lei que tornasse o Falun Gong ilegal.

Temendo que um dia ele possa ser chamado a prestar contas por crimes contra a humanidade, Jiang recompensou aqueles que o obedeceram perseguindo o Falun Gong e encheu os altos escalões do PCC, dos militares e do Estado com seus capangas. Apesar de Hu Jintao suceder Jiang Zemin como líder supremo do regime chinês, Hu descobriu que as alavancas do poder eram difíceis de mover.

Um ponto central da estratégia de Jiang foi a elevação de seu comparsa de confiança Zhou Yongkang. Em 2007, Zhou se tornou o chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), um órgão do PCC de grande poder, com autoridade sobre quase todos os elementos dos sistemas de segurança e judicial. Nesta posição, Zhou reforçou a perseguição ao Falun Gong.

Zhou também foi feito um membro do Comitê Permanente do Politburo, ajudando a garantir que seu poder não fosse restringido no PCC e assegurasse que a política de perseguição não fosse revertida.

Mas Zhou Yongkang estava programado para se aposentar em 2012. Zhou armou com Jiang Zemin e o político influente e ex-chefe da inteligência Zeng Qinghong para que o chefe do PCC em Chongqing, Bo Xilai, sucedesse Zhou como chefe do CAPL e no Comitê Permanente.

No momento certo, Bo usaria o poder extraordinário que ele exerceria como chefe das forças de segurança para derrubar o líder chinês Xi Jinping. Uma vez que Bo liderasse o PCC, os culpados da perseguição ao Falun Gong estariam protegidos por um longo tempo.

Este plano de traição e golpe de Estado foi posto em movimento, mas antes que o esquema estivesse plenamente de pé, Wang Lijun, o braço direito de Bo Xilai, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu, expondo tudo em seu ponto mais vulnerável.

Bo Xilai foi destituído e, desde então, a hostilidade da facção de Jiang contra o regime de Xi Jinping se tornou cada vez mais obstinada.

Os asseclas de Jiang não podem permitir que Xi Jinping se torne poderoso. Eles não podem suportar ver as reformas econômicas de Li Keqiang ter qualquer sinal de sucesso. Este conflito não terminará até que a facção de Jiang seja completamente destruída.

Os custos de perseguição

A perseguição ao Falun Gong tem distorcido os sistemas moral, jurídico e econômico na China. Todos na China sabem que a moralidade tem declinado rapidamente. Os critérios tradicionais para julgar o certo e o errado, profundamente enraizados nos 5 mil anos de civilização chinesa, não se aplicam mais.

A esperança por trás das reformas econômicas de Deng Xioaping era que elas fornecem a base para uma sociedade regida pela lei. Mas o slogan de “tomar o desenvolvimento econômico como a questão central” tem sido distorcido por quadros do PCC para “tomar a perseguição ao Falun Gong como a questão central”. Todas as unidades do Estado e do PCC entendem que a perseguição deve ser sua tarefa principal.

Esta perseguição é construída inteiramente em mentiras e violência e isso destruiu completamente a esperança de um sistema judiciário independente na China. A segurança pública, a Procuradoria e o Judiciário foram corrompidos e agem como uma máfia.

As consequências transbordam da vitimização de praticantes do Falun Gong até o terror da sociedade em geral. O abuso de poder, a intimidação e a opressão de pessoas inocentes são generalizados. O conflito entre os oficiais do PCC e os cidadãos é sem precedentes.

Mesmo numa situação tão extrema, a facção de Jiang visa impedir qualquer reforma do sistema legal. Qualquer mudança atrapalharia um mecanismo construído para efetivação da perseguição. Jiang quer ver o sonho de constitucionalismo de Xi Jinping continuar a ser um sonho e não aceitará facilmente as tentativas deste de abolir os campos de trabalho forçado.

A fim de continuar a perseguição, Jiang subornou oficiais do PCC para serem leais a ele e a sua perseguição, usando as oportunidades de corrupção e desvio de fundos públicos para conquistá-los.

Seu pessoal controla as indústrias mais rentáveis na China, como as indústrias do petróleo, telecomunicações, ferrovias, e finanças. Esse controle tem fornecido recursos financeiros para a perseguição.

Porque quase todas as grandes indústrias estão sob o controle desses figurões que são leais a Jiang, qualquer reforma econômica afetaria os interesses dessa facção, fazendo-a perder o controle da economia chinesa. Sem recursos financeiros, é impossível continuar a perseguição ao Falun Gong, que exige quantias enormes.

Além disso, assim que a perseguição acabar, a facção de Jiang será processada. Por interesse econômico e instinto de sobrevivência, a facção de Jiang procura inviabilizar qualquer medida de reforma econômica.

Conversa fiada ou reforma real

Enquanto os dirigentes se reúnem no Grande Salão do Povo neste fim de semana para discutir avanços no PCC, eles devem perceber que todos os seus planos equivalem a nada, até que atendam às demandas imperiosas deste momento histórico.

A facção de Jiang está em estado de pânico. Ela não tem qualquer pensamento pelo bem do país nem mesmo pelo PCC. Sua única preocupação é evitar ter de pagar por seus crimes. Qualquer movimento para fazer a mais ínfima reforma provocará gritos de pavor.

Na verdade, a facção de Jiang e sua perseguição ao Falun Gong têm destruído irremediavelmente a legitimidade do PCC.

Quando a perseguição começou, cerca de 100 milhões de pessoas na China praticavam o Falun Gong. Juntamente com seus familiares, um grupo de várias centenas de milhões tem sido diretamente afetado pela perseguição.

Seus direitos legais não são protegidos. Departamentos do Estado não podem operar normalmente e a sociedade está perturbada. Além disso, as autoridades têm investido enorme quantidade de recursos nessa perseguição ilegal.

O regime comunista chinês sustentar esses crimes em grande escala contra os praticantes do Falun Gong não pode ser justificado. Tendo cometido inúmeros crimes, o PCC é agora incurável e sem esperanças. Este regime maligno, inevitavelmente, será eliminado pela história.

Sem que a perseguição acabe, qualquer reforma ou tentativa de pôr a sociedade no rumo é um sonho. Se a facção de Jiang não for eliminada, não há como a liderança atual fazer qualquer progresso. Sem solucionar este impasse, as crises nascidas da perseguição irromperão mais cedo ou mais tarde, as lutas internas no PCC se tornarão ainda mais agudas e o PCC se desintegrará.

A liderança atual faria melhor em buscar reformas verdadeiras que possam mudar a China: retirar todo o poder dos membros da facção de Jiang; acabar com a perseguição ao Falun Gong e dissolver o PCC. Sem tomar essas medidas, a liderança cairá numa situação cada vez mais passiva e perigosa.

O que quer que seja feito pela liderança, os principais responsáveis pela perseguição ao Falun Gong, eventualmente, serão levados a um julgamento histórico. É melhor se alinhar com as exigências da história do que ser varrido por seu avanço.

Todos neste momento significativo devem examinar cuidadosamente a situação e entender a vontade de Deus e os desejos do povo, para agir com sabedoria e responsabilidade.