Ex-líder chinês tenta mostrar que continua na luta, mas é censurado

07/01/2015 13:53 Atualizado: 07/01/2015 14:41

O ex-líder chinês Jiang Zemin é notório, tanto quando estava no cargo como aposentado, por cobiçar a atenção da mídia. Recentemente, ele foi dar um passeio numa cadeia de montanhas no Sul da China com o filho e o neto no encalço – material de primeira para a mídia política estatal chinesa e, como essas como aparições geralmente sugerem, de significado político intrínseco: “Olá, eu estou ainda em cena”, parecia dizer a aparição.

Exceto que ele não conseguiu dizer a que veio, porque todas as referências à ocasião foram rapidamente removidas da internet. Uma pesquisa no Baidu, o maior motor de busca da China, por “família Jiang sobe o cume Dongshan em Hainan” mostra resultados dos principais portais web chineses: Sina, Phoenix, Hexun, Sohu e diversos outros. Mas ao se tentar visualizar as notícias, percebe-se que as páginas foram excluídas.

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Na China, onde o aparecimento de ex-líderes na imprensa requer negociação política, o fato de que as notícias desapareceram tem grande relevância, pois indica que Jiang, que exerceu enorme influência na política chinesa durante anos após se aposentar formalmente em 2004, está sendo mais politicamente marginalizado pelo atual líder chinês Xi Jinping.

“O aparecimento de Jiang… é uma tentativa de exibir seu status e mostrar que ele ainda tem influência política”, disse Xia Xiaoqiang, um comentarista político, numa entrevista. “É um desafio para Xi Jinping.”

Xia observou que muitas das poderosas autoridades chinesas derrubadas por Xi Jinping estavam associadas à camarilha política de Jiang Zemin, incluindo o ex-chefe da segurança Zhou Yongkang e o ex-comandante militar Xu Caihou.

“Seu aparecimento indica que a luta se intensificou e ganhou o espaço público – isso poderia forçar Xi Jinping a fazer movimentos mais ostensivos contra Jiang e seu grupo”, disse Xia. Mas a incapacidade de Jiang de conseguir aparecer na mídia também demonstra sua influência minguante, disse Xia.

O momento do passeio de Jiang pelas montanhas também é notável por ocorrer poucos dias após um tumulto mortal que deixou três dezenas de mortos na cidade de Shanghai, o reduto de poder do ex-líder. Jiang serviu como um alto oficial na região por anos, e sua rede não-oficial, conhecida por seu nepotismo, é conhecida do público como a camarilha ou facção de Shanghai.

O prefeito de Shanghai e o secretário do Partido Comunista Chinês na cidade, ambos alinhados com Jiang, estão sob escrutínio devido ao incidente mortal. O público está frustrado pela falta de clareza ou explicação sobre como um tumulto que teve várias pessoas pisoteadas pôde matar tanta gente, e o público tem atacado o governo local como incompetente. Alguns inclusive pediram que o secretário Han Zheng e o prefeito Yang Xiong renunciassem ao cargo. Mesmo a mídia estatal Xinhua publicou um editorial repreendendo as autoridades de Shanghai por não ter evitado o desastre. Os familiares se ajoelharam por horas fora dos hospitais, chorando e implorando para poder ver os corpos dos parentes falecidos.

Jiang Zemin, lançando os olhos sobre a vista no cume Dongshan, parecia alheio a todas essas preocupações. Enquanto estendia seu olhar, ele teria dito a Luo Baoming, secretário do PCC em Hainan: “Essas boas vistas panorâmicas em Hainan devem ser entusiasticamente promovidas. Quando eu voltar para Pequim, colocarei isso em bons termos para todos vocês.” As notícias, antes de serem excluídas, mostravam uma foto de Jiang, com 88 anos, cambaleando por um pagode e sendo segurado pelos braços por dois acompanhantes.