Ele luta para fazer o túmulo da mãe um marco da Revolução Cultural
Radicalizado pela Revolução Cultural, Zhang Hongbing tinha apenas 16 anos quando denunciou a própria mãe como uma “contrarrevolucionária” às autoridades, o que levou a sua execução diante de um pelotão de fuzilamento, segundo o jornal Beijing News. Agora, com 59 anos, Zhang, cujo nome significa literalmente “guarda vermelho”, está lutando para que o túmulo da mãe seja oficialmente reconhecido como um marco histórico, representando a crueldade da Revolução Cultural.
Nascido no condado de Wuhe, cidade de Bangbu, província de Anhui, Zhang era da Guarda Vermelha na época da Revolução Cultural. Os guardas vermelhos foram um movimento paramilitar da juventude que frequentemente espancava qualquer um considerado “contrarrevolucionário”, incluindo intelectuais, antigos proprietários de terra e idosos. De acordo com Zhang, a Revolução Cultural foi uma época em que não era incomum que as pessoas abandonassem seus laços familiares e delatassem estes às autoridades.
Zhang disse ao Beijing News que na noite de 13 de fevereiro de 1970, sua família teve uma discussão sobre a Revolução Cultural, que culminou com sua mãe criticando os líderes políticos do Partido Comunista Chinês (PCC) por promoverem a adoração de ídolos.
Então, ela sugeriu que “devemos retratar Liu Shaoqi”. Liu era uma figura política de destaque que foi marcado como um traidor e morreu sob custódia no ano anterior. A Revolução Cultural foi essencialmente uma luta política promovida por Mao Tsé-tung para erradicar a influência de Liu no PCC.
As palavras de Fang chocaram Zhang. Naquele momento, em seus olhos, ela não era mais sua mãe, mas uma inimiga de classe.
Delatando a mãe
Preocupado que o pai pudesse optar por permanecer em silêncio sobre o assunto, Zhang secretamente escreveu uma carta e colocou-a junto com seu distintivo da Guarda Vermelha por baixo da porta da casa de um oficial local do exército, sabendo que isso poderia levar a prisão e execução da mãe.
Zhang disse ao Beijing News que o oficial mais tarde chegou a sua casa com um subordinado. Em seguida, eles começaram a chutar Fang, que caiu de joelhos, e a amarraram. Quarenta e três anos mais tarde, Zhang diz que ainda se lembra dos sons de estalo das articulações do ombro da mãe enquanto eles amarravam seus braços firmemente com uma corda.
O pai de Zhang também delatou Fang às autoridades e disse a ela: “Você será enterrada no condado de Guzhen. Eu delatei você e escrevi na denúncia: ‘Esmaguem Fang Zhongmou, uma contrarrevolucionária que foi pega em flagrante! Executem Fang Zhongmou!’” Fang foi executada dois meses depois por um pelotão de fuzilamento.
Fang Meikai, o tio de Zhang de 66 anos, contou estar presente nos eventos daquela noite. Ele disse que, naquele momento, ele acreditava que sua irmã só seria enviada para a prisão.
Apesar do pesado tributo pago pela família de Zhang, ele e o irmão mais novo ainda foram impedidos de se matricular na escola, de alistar-se no exército e de trabalhar nas fábricas, como punição pelo desvio da mãe. Posteriormente, ambos foram expulsos para o campo.
Apenas dez anos depois um tribunal provincial anulou a sentença original após reexaminar o caso e declarou que o caso foi mal interpretado.
Um exemplo para todos
Zhang lamentou profundamente suas ações desde então e tem apelado às autoridades locais do condado de Guzhen desde setembro de 2011 para que o túmulo da mãe seja preservado e identificado como um marco histórico, segundo o jornal Beijing News. Nenhum de seus apelos foi bem sucedido até o momento. Zhang espera que por meio de seus esforços, ele possa incentivar as pessoas a discutir, criticar e lembrar a brutalidade daquele período histórico.
Ele espera que um museu sobre a Revolução Cultural possa ser construído no futuro e que a história trágica deste período possa ser documentada e exibida lá. “Deixe que as pessoas me desprezem e condenem. Quero servir como um exemplo negativo com o qual todos possam aprender”, disse Zhang.